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sábado, 15 de junho de 2024
Fichamento do livro - cap 9 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Fichamento do livro - cap 8 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 8 leitura em junho de 2024
A favela não forma o caráter. A favela é o quarto de despejo. E as autoridades ignoram que tem o quarto de
despejo.
... um sapateiro perguntou se meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse que não é aconselhável escrever a
realidade.
Na fila da torneira para pegar água. “Tinha uma preta que parece que foi vacinada
com agulha de vitrola”.
Comprou um par de alpargatas para a filha Vera.
Levantar sempre de madrugada. Conseguiu comprar sanduiche para os
filhos. “A mãe está sempre pensando
que os filhos estão com fome”.
Ela compra tinta para caneta. Usa caneta tinteiro (“tinta molhada”)
“No frigorífico eles não põe mais lixo na rua por causa das
mulheres que catavam carne podre para comer”.
Conversando com uma branca. “Ela disse-me que nos Estados Unidos eles
não querem (ano 1958) negros na escola.
Fico pensando: Os
norte-americanos são considerados os mais civilizados do mundo e ainda não
convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol. O homem não pode lutar contra os produtos da
natureza”. “Deus criou as duas raças
na mesma época..”
... deixei o leito as cinco horas porque quero votar...
Na fila da torneira logo de manhã. ...”a língua das mulheres da favela é de
amargar. Não é de ossos, mas quebra
ossos”.
O filho João foi fazer compra de açúcar e acabou trazendo
arroz. “Ele passa o dia lendo gibi e
não presta atenção em nada”.
(eu, leitor, quando criança lia bastante gibi)
Carolina destaca que tem ponto de bonde perto da favela onde
mora.
...”Penso que uma mulher que separa-se do esposo não deve
prostituir-se. Deve procurar um
emprego. A prostituição é a derrota
moral de uma mulher. É como um edifício
que desaba”.
...”Quem paga as despesas das eleições é o povo.”
O filho mais velho, o João, apanhou por desobedecer a
mãe. “Surrei ... e rasguei-lhe os gibis desgraçados. Tipo de leitura que eu detesto.”
Almoçou com a Vera na
casa da dona Julita que sempre a acolhe.
“Que comida gostosa!
...ganhei dela arroz agulha. O
arroz das pessoas de posses”.
Carregar no carrinho de catar recicláveis até 100 kg de
papel. “Estava fazendo calor. E o corpo humano não presta. Quem trabalha como eu tem que feder!”.
Sonhando... “O povo
brasileiro, dizia dona Angelina, só é feliz quando está dormindo”.
A mãe favelada perde a filha criança. A mãe bebe.
Logo depois do enterro da filha, foi beber. “O que eu fico admirada é das almas da
favela. Bebem porque estão alegres. E bebem porque estão tristes. A bebida aqui é o paliativo”.
Carolina comprou um rádio e agora contratou com o Sr Orlando
e ele ligou a luz e vai cobrar a conta por bico de luz da casa dela. Três bicos de luz, no caso.
Continua no capítulo 9
segunda-feira, 3 de junho de 2024
Fichamento do livro - cap 7 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 7
“Já percebi que minha filha é revoltada. Ela tem pavor de morar na favela.”
Lavar a roupa na lagoa e a ameaça da “doença do caramujo”. (esquistossomose,
popularmente – barriga d´água).
“Dona Rosa sabe que aqui
na favela não pode alugar barracão. Mas
ela aluga”. ... maldosa.... catar lenha.
“Parece que eu vim ao mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade”.
A cidade de São Paulo que é bonita mas ...”está enferma. Com as suas úlceras. As favelas”.
As pregações do Frei.
Pede que os favelados sejam humildes.
“Penso: se o frei fosse casado, tivesse filhos e
ganhasse salário mínimo, aí eu queria ver se ele era humilde. Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com
resignação. Se o frei tivesse filhos
comendo gêneros deteriorados... havia de revoltar-se porque a revolta surge das
agruras”.
...”aqui tem uma nortista (nordestina) que quando bebe,
torra a paciência”. (torrar a paciência era termo que eu ouvia
na infância...)
Deixar os filhos em casa e ir catar papel. Um dia acusaram o filho dela, o menino, de
querer abusar de uma criança de dois anos.
Carolina chorou. Foi conversar
com o Juiz de Menores.
... Tem hora que me revolto comigo por ter iludido com os homens
e arranjado estes filhos.
... cita mais adiante um episódio de meninos que fugiram do
Juizado de menores. Os fugitivos ...”contaram-me os horrores do Juizado. Que passaram fome, frio e que apanharam
muitas vezes”.
“Os juízes não tem capacidade para formar o caráter das
crianças. O que é que lhes falta? Interesse pelos infelizes ou verba do
Estado?
Tem um barracão na favela e os crentes vem cantar e rezar
três vezes por semana.
“A favela é uma cidade esquisita e o prefeito daqui é o
diabo. E os pinguços que durante o dia
estão ocultos e à noite aparecem para atentar”.
...”O meu filho com onze anos já quer mulher”. Meu filho ouviu a Florência dizer que eu
pareço louca. Que escrevo e não ganho
nada.
...”Estou mais disposta.
Ontem supliquei ao Padre Donizeti para eu sarar’. ( esse padre pregava pelo rádio e benzia
água para os ouvintes).
... uma pessoa que passava na favela vendendo miúdos de
vaca. (rim, coração, fígado, bucho...)
A filha Vera está com cinco anos de idade.
“Hoje não lavo roupas porque não tenho dinheiro para comprar
sabão. Vou ler e escrever”.
Vender garrafa vazia para conseguir uns trocados. “Aqui na favela do Canindé há 160 casos de
doença do caramujo.
A filha Vera de sapato consertado. Sorrindo.
“Fiquei olhando a minha filha sorrir, porque eu já não sei mais sorrir”.
Uma vizinha, mãe solteira, três filhos pequenos. Um deles reclama da mãe e diz que queria ser
filho da Carolina. Ela diz que não. Que se fosse filho dela, ele era preto. – E você é branco. A criança respondeu: - Mas se eu fosse seu filho eu não passava
fome.
O filho José Carlos faz dez anos (6 de agosto), mesma data
que eu, leitor, faço aniversário por coincidência.
“... deixei o leito às quatro horas. Eu não dormi bem porque deitei com fome. E quem deita com fome não dorme.
Continua no capítulo 8
sábado, 1 de junho de 2024
Fichamento do livro - cap 6 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 6
“Passei 23 anos mesclada com os marginais”. Só não me extraviei por gostar de ler...
Página 257 – sobre a inspiração para o título deste
livro: “...a favela é o quarto de
despejo da cidade. Nós, os pobres,
somos os trastes velhos”.
Um comentarista no final do livro explica a origem do termo
favela. Favela é uma planta. Em Canudos na Bahia havia o Morro da
Favela. Ficava no sertão. Houve a sangrenta guerra de Canudos etc.
Soldados do Rio, voltaram da Guerra de Canudos e não foram
indenizados. Tiveram que morar em
barracos no Morro da Providência no RJ.
Aí o morro foi apelidado de Morro da Favela, lembrando Canudos.
Voltando às falas da Carolina: Uma mulher da favela se suicidou. A autora reflete: “Mas é uma vergonha para a Nação. Uma pessoa matar-se porque passa fome”.
Filas de pobres em frente à fábrica de bolachas para tentar
ganhar bolachas quebradas para comer. A
mulher que distribui dá a ordem: - Quem ganhar deve ir-se embora. ...
“Uma pessoa mata-se porque passa fome. E a pior coisa para uma mãe é ouvir... – Mamãe eu quero pão! Mamãe eu estou com fome!”.
Um soldado que bebe arrasta a asa para ela. Ela sabe que ele bebe e não gosta disso.
- “O senhor sabe que o soldado alemão não pode beber?
O soldado olhou-me e disse:
- Graças a Deus, sou brasileiro.
Pouca grana...
“Temos que voltar ao primitivismo.
Lavar na tina e cozinhar com lenha.
“Eu escrevia peças e apresentava aos diretores dos
circos. Eles respondia-me: “É pena você ser preta. Esquecendo eles que eu adoro a minha pele
negra, e o meu cabelo rústico. Eu até
acho o cabelo do negro mais educado do que o cabelo do branco. Porque o cabelo de preto onde põe, fica. É obediente”.
A filha Vera doente.
Vômitos e febre. “Não posso
contar com o pai dela. Ele não conhece
a Vera. E nem a Vera conhece ele.”
Época de campanha eleitoral. Cupom para “festa”. Encheu de gente. Era pão, bala e uma régua escolar com o nome
do candidato. (Deputado Paulo Teixeira
de Camargo)
Carne cara... “Pensei
na desventura da vaca, a escrava do homem que passa a existência no mato, se
alimenta com vegetais, gosta de sal mas o homem não dá porque custa caro. Depois de morta é dividida. Tabelada e selecionada. E morre quando o homem quer”.
Morreu a mãe do Paredão.
“Ela era muito boa. Só que bebia
muito.
... “O que eu acho
interessante é quando alguém entra num bar logo aparece um que oferece
pinga. Porque não oferece um quilo de
arroz, doce etc.?
...”Se eu viciar em álcool os meus três filhos não vão
respeitar-me. Eu prefiro empregar meu
dinheiro em livros do que em álcool.”
Corrida de pedestres.
Da favela (Vila Javari) até a Igreja do Pari.
Citou cola com visgo.
“Na rua A tem um baile.
Depois que a favela superlotou-se de nortistas tem mais intriga. Mais polêmica e mais distrações.”
“Eu percebo que se este Diário for publicado vai magoar
muita gente. Tem pessoa que quando me vê
passar saem da janela ou fecham as portas.
O Carteiro desanimado.
“As pessoas sem apoio ... quando
encontra alguém que condoi-se deles, reanimam o espírito”.
“Eu não faço reclamações de crianças. Porque eu gosto de crianças”.
Continua no capítulo 7
quarta-feira, 29 de maio de 2024
Fichamento do livro - cap 5 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 5
“O meu corpo deixou de pesar. Comecei a andar mais depressa. Eu tinha a impressão de que eu deslizava no
espaço. E haverá espetáculo mais lindo
do que ter o que comer?”
Diário – 28 de maio.
Sem dinheiro em casa. “Quero
escrever, quero trabalhar, quero lavar roupa”.
Frio e chuva ....” o que quero
esclarecer sobre as pessoas que residem na favela é o seguinte: que tira proveito aqui são os nortistas (hoje
dizemos nordestinos). Que trabalham e
não dissipam. Compram casa ou retornam
para o Norte (Nordeste na nomenclatura atual).
Na favela tem barraco do morador e tem dos que fizeram para
vender e os que fizeram para alugar.
... “O que eu me
revolto é contra a ganância dos homens que espremem uns aos outros como se espremesse
uma laranja.”
Favela sem lugar para flores, abelhas, natureza. “O único perfume que exala da favela é
a lama podre, os excrementos e a pinga”.
Ela enfrentando um vizinho valentão. “Mas eu lhe ensinei que a é a e b é b. Ele é de ferro e eu sou de aço. Não tenho força, mas minhas palavras ferem
mais do que espada”.
“Hoje tem arroz, feijão, repolho e linguiça. Quando faço quatro pratos penso que sou
alguém.”
Apareceu um pretendente querendo casar com ela. ...”um homem não há de gostar de uma mulher
que não pode passar sem ler. E que
levanta para escrever...”
Mulheres da favela... são horríveis numa briga. O que podem resolver com palavras,
transformam em conflito”. ...”eu penso
que a violência não resolve nada. .... “Dona Domingas é uma preta boa igual pão.
...”um dia eu discutia com a Leila. Ela e o Arnaldo puseram fogo no meu
barracão. Os vizinhos apagaram”.
...”Mas eu já observei os nossos políticos. Para observá-los fui na Assembleia
Legislativa. ...”Só quem passa fome é
que dá valor à comida.”
A mãe dizia a ela quando
criança: “Nós somos pobres, viemos para
as margens do rio.” ...”São lugares de
lixo e marginais”. Gente da favela é
considerado marginais.
“Não mais se vê os corvos nas margens do rio, perto dos
lixos. Os homens desempregados substituíram
os corvos (urubus).
“Eu não danço. Acho
bobagem ficar dançando daqui pra ali. Eu
já rodo tanto para arranjar dinheiro para comer.”
“Já faz tempo que os meninos estão pedindo pasteis. ... “os
pasteis é um acontecimento aqui em casa”.
Os moradores perto da favela olham os favelados com desprezo. Esquecem eles que na morte todos ficam
pobres.
...”Já faz seis meses que eu não pago a água. ...”O José Carlos está mais calmo depois
que botou vermes, 21 vermes.
Acordei de madrugada e comecei escrever. Tipo sonho que estou num Castelo onde
moro... “É preciso criar este ambiente
de fantasia para esquecer que estou na favela”.
“As horas que sou feliz é quando estou residindo nos
castelos imaginários.”
...”li o jornal para as mulheres da favela ouvir... ...devo reservar as palavras suaves para os
operários, para os mendigos, que são escravos da miséria.”
(na biografia dela na página 255).
Motivo para ler um livro:
“Para adquirirmos boas maneiras e formarmos nosso caráter”.
Ela destaca o incentivo da professora dela para
leitura: “Que pessoas instruídas vivem
com mais facilidade”.
“Passei 23 anos mesclada com os marginais”.
Continua no capítulo 6
segunda-feira, 27 de maio de 2024
Fichamento do livro - cap 4 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 4
Ela na Avenida Cruzeiro do Sul. ... Na favela todos sofrem. “Mas quem manifesta o que sofre é só
eu. E faço em prol dos outros”.
Anos 1957-58. A vida
piorando. Falta de dinheiro até para a
pinga. Menos serviço para a polícia.
As impressões dela na cidade... sala de visita. Na favela:
“E quando entro na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de
uso digno de estar em um quarto de despejo.
Mal vestidos. “Sou rebotalho”, estou
no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se
no lixo”.
Nas favelas de dia, vários homens em casa. “Uns porque não encontram emprego. Outros porque estão doentes. Outros porque embriagam-se”. “Só interfiro-me nas brigas onde prevejo um
crime”.
“O meu sorriso, as minhas palavras ternas e suaves, eu
reservo para as crianças”.
Famílias que mudam para a favela, as crianças pioram no
comportamento. “São diamantes que se
transformam em chumbo”. Transformam-se
de objetos que estavam na sala de visita para o quarto de despejo.
...”os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê seu
povo oprimido”.
Pouco dinheiro em casa.
Não tenho açúcar porque ontem eu sai e os meninos comeram o pouco que
tinha”.
Ela viu um jovem catador de papel que achou carne estragada
no lixo e comeu ela “esquentada”.
Carolina alertou mas ele disse que estava há dois dias sem comer. Ele morreu intoxicado.
Morreu e foi enterrado como indigente, sem nome e sem
documentos.
Marginal não tem nome.
Um dia na casa de uma patroa que lhe dá um conselho. “Ela disse para eu não me iludir com os
homens porque eu posso arranjar outro filho que os homens não contribui para
criar o filho”.
Catou uns tomates descartados na fábrica Peixe. (também
marca de massa de tomate).
“Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos. Dura é a vida do favelado”.
Dona Julita, a patroa de Carolina. Um dia a filha da Carolina pediu para a mãe. – “Mãe, vende eu para a Dona Julita, porque
lá tem comida gostosa.”
No barraco “digo louças por hábito, mas é latas. Comum faltar gordura para a comida.
“Fiz comida. Achei
bonito a gordura frigindo na panela”.
Que espetáculo deslumbrante!.
Para ela, ter o arroz e o feijão já era uma conquista.
Época de eleições...
“Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de Troia
que aparece de quatro em quatro anos.”
A vizinha, mãe de duas crianças que tentou se matar bebendo
soda cáustica.
...Faz duas semanas que não lavo roupa por não ter sabão.
... “ia andando meio tonta.
A tontura da fome é pior que a do álcool. A tontura do álcool nos faz cantar, mas a da
fome nos faz tremer.”
Está com fome e toma um café com pão. ...depois que comi, tudo normalizou-se aos
meus olhos. Passei a trabalhar mais depressa.
Continua no capítulo 5
sábado, 25 de maio de 2024
Fichamento do livro - cap 3 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)
capítulo 3
Uma vizinha brigando com o filho de seis anos de
Carolina. Ela trouxe o filho para dentro
de casa e perdeu a paciência porque a mulher continuou xingando. Respondeu:
- “Cala a boca, tuberculosa!”
“Não gosto de xingar os outros, mas quando a gente sai do
sério .... apela para as enfermidades”. (como leitor me lembro da minha infância
rural nos anos 50 no interior de SP.
Eram os palavrões: lazarento,
tísico, morfético... doenças). Lazarento – lepra. Tísico – tuberculoso. Morfético – hanseníase, lepra.
...”Amanheci contente.
Estou cantando. As únicas horas
que tenho sossego aqui na favela é de manhã.”
Ela recusa ir para o quarto de um conhecido que a
convidou. “Disse-lhe: Não!”
... “É que estou escrevendo um livro para
vende-lo. Viso com esse dinheiro do
livro comprar um terreno para eu sair da favela”.
...”Fiquei horrorizada.
Haviam queimado meus cinco sacos cheios de papel”. ...”Não estou ressentida. Já estou habituada com a maldade humana.”
Parte 2 - Diário de
1958
...”o que eu aviso aos pretendentes à política é que o povo
não tolera a fome. É preciso conhecer a
fome para saber descreve-la.
No diário – 09 de maio de 1958
...”eu cato papel mas não gosto. Então eu penso. Faz de conta que eu estou gostando.
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome é também professora”.
Matar pernilongo no barraco. Acender um jornal e passar pelas paredes.
13 de maio - “Que
Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz”.
Os filhos na escola mesmo com chuva. Os filhos comemoram o ter o que comer. “Mas eu já perdi o hábito de sorrir”.
13 de maio. Frio e
sem comida. “eu lutava contra a
escravatura atual: a fome. (1958)
...”a cidade é o jardim e a favela é o quintal onde jogam os
lixos.”
Barulho na favela. “É
o Ramiro que quer dar no senhor Binidito”.
“eu não posso descrever o efeito do álcool porque eu não
bebo.
“Eu quando estou com fome quero matar o Janio Quadros,
enforcar o Ademar de Barros, queimar o Juscelino. (políticos).
O apoio dos Vicentinos (grupo católico que faz caridade).
Dona Maria morreu.
...”era crente e dizia que os crentes antes de morrer já estão no céu”.
Carro vai levar o enterro.
“... vai para a verdadeira casa própria que é a sepultura.”
Cinco da manhã e os pardais já cantando. “As aves devem ser mais feliz que nós. Talvez entre eles reina a amizade e
igualdade”.
Fala do presidente Juscelino no palácio do Catete (RJ). Voz de sabiá – agradável. (ele era médico).
(Estive recentemente em Belo Horizonte e visitei a casa que
o Juscelino morou – uma casa confortável ao lado do lago da Pampulha projetada
por Oscar Niemeyer.)
Quem visitava a favela reclamava. “- Credo, para viver num lugar assim só os
porcos. Isto aqui é o chiqueiro de São
Paulo”.
“Começo a revoltar.
E a minha revolta é justa.”
Ela usando carrinho para catar/transportar o papel. Ela lembra versos do poeta Casemiro de Abreu: “Ri criança / a vida é bela. Carolina retruca: Chora criança, a vida é amarga”.
Continua no capítulo 4