Capitulo 01/10 leitura - fevereiro de 2022
É o
terceiro livro que li do moçambicano Mia Couto.
Gosto muito dos livros dele e do seu modo de se expressar, usando frases
com belas metáforas que levam à reflexão sobre a vida e o comportamento humano.
O autor
destaca que é uma obra de ficção mas a obra caminha tangenciando o país na fase
das guerrilhas contra o regime imperialista de Portugal. A principal parte do livro transcorre em
1973, no final do regime colonial e em 2019 quando o protagonista visita os
locais onde tem ligações com o povo. O
autor alerta que apesar da obra ser de ficção, os personagens tem perfil muito
próximo de pessoas daquela região e época.
Curioso
é que também lá em Moçambique o autor usa um termo que deveria ser corrente no
tempo colonial, chamando os povos originários de índios, tal qual chamavam no
Brasil.
Diogo, o
protagonista, fala do pai que era jornalista e poeta português vivendo em
Moçambique com a família. Narra fatos
do massacre de 1973 perpetrado pelo Exército português contra os que lutam pela
independência de Moçambique.
Capítulo
1 – Os que falam com as sombras. Cidade
de Beira, ano de 2019.
“A
poesia não é um gênero literário, é um idioma anterior a todas as palavras”. O protagonista é o poeta Diogo Santiago. Voltando à terra natal, Moçambique, ele
filho de portugueses.
“Eis a
minha doença: não me restam lembranças, tenho apenas sonhos. Sou um inventor de esquecimentos”.
... o
poeta... tímido e recatado, sendo
vítima de uma homenagem pública”.
A moça
do cerimonial vem convidar o poeta para tomarem uma bebida. Ele recusa. “Não posso – sou homem de incerta idade”.
A moça
Liana ao poeta: Sou negra. Aprenda uma coisa: a raça está no cabelo.
Carta de
Liana ao professor poeta Diogo Santiago.
Carta junto com documentos de uma prisão pela PIDE, a polícia secreta da
repressão em Moçambique, a serviço de Portugal.
Após a
revolução, queimaram os arquivos e o avô de Liana guardou os documentos da
prisão do jornalista e pai de Diogo Santiago. Diogo quer fugir das lembranças e agora
tudo volta nessas cartas, relatórios etc.
Documentos que incluem cartas do próprio Diogo quando muito jovem
escreveu ao pai então na prisão nos anos 70.
...”vou
lendo as minhas próprias cartas”... a
caligrafia é parte do corpo, a minha escrita foi ganhando rugas com a idade.
O avô de
Liana era Inspetor da PIDE, da polícia repressora. O professor Diogo pergunta se o avô de
Liana ainda está vivo. Ela
responde: “Acho que ele nunca esteve
vivo”. Ela pergunta: O que veio fazer aqui na sua terra?. Resposta:
- O meu médico disse que esta visita me apaziguaria as memórias.
Você é
casado? Ele responde: Não sei.
Quando
Diogo era garoto nos anos 70, a polícia (PIDE) um dia veio à casa dele e
apreendeu o livro do poeta Adriano Santiago, pai de Diogo.
Nome do livro
apreendido: Um Retrato em Busca de
Feições.
O poeta
acordando, disse ao policial. Este
livro, não levam. Os policiais
disseram. Vai você e o livro.
Levaram
o poeta de pijama preso e o público da vizinhança curioso, vendo tudo.
Dona
Virgínia, esposa de Adriano fala indignada aos policiais. – Tudo isso por causa de um livro?
A mãe de
Diogo dizia que o marido não dormia porque não sabia nem arrumar a cama. E perguntava para o filho Diogo: “Que graça pode haver em nos deitarmos numa
cama feita por mãos alheias?”
O último
momento dele ao lado do pai que morreu no hospital. “Espreito a rua e perco a vontade de sair”.
Depois
de muitos anos, voltou à cidade da Beira para recuperar memórias e não consegue
sair do hotel.
...quem
sabe se de medo de descobrir que a minha vida se assenta numa falsidade.
Diogo
selecionando os papeis que recebeu que estavam sob a guarda do avô de Liana que
era da polícia nos anos 70, quando o pai de Diogo foi preso.
Liana
estuda Letras e pretende ser escritora.
Ela tem pouco mais de quarenta anos.
Ela é órfã e foi adotada na infância.
Recebeu de tudo na nova família, mas não tem a sua
história/memória. Ela diz:
“Ando em
busca das narrativas como um cego que procura o desenho no seu próprio corpo”. Ela:
...”foi por obediência ao seu pai que dizia que a arte maior do poeta
era saber desperdiçar oportunidades.
Nos
tempos de militância, os intelectuais da região se reunia na casa de Adriano
Santiago, pai de Diogo. Eram chamados
pelos policiais da PIDE de toupeiras brancas.
Cita o bairro da Manga na cidade da Beira.
Diogo –
volto à minha cidade em busca do passado e também busca de remédio para a
depressão. Diogo é professor e poeta.
Os
revolucionários da turma de Adriano Santiago, pai de Diogo, eram comunistas e
apoiavam a luta do povo de Moçambique pela Independência.
Continua no capítulo 02/10