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sábado, 12 de fevereiro de 2022

CAP. 04/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO

 cap. 04/10

 

            O da polícia para saber dados de Adriano Santiago (pai de Diogo) foi procurar a mãe dele.   Disse a ela que iria visitar em Moçambique o lugar onde ele vivia e que se interessava por ouvir dados do local.    E deu corda para ela ir falando.   "Uma pessoa daquela idade troca tudo por um momento de atenção".   A velha sabia que ele era Inspetor de Polícia, da PIDE Polícia Internacional e de Defesa do Estado.   

         A mãe de Adriano:   “Não se preocupe com meu filho.   O meu filho é um sonhador.    “Sonha com a política como sonha com as mulheres”.

         “O Adriano acha que a poesia é o mais poderoso dos explosivos”.

         A mãe de Adriano acha que ele quis sempre ser criança.   “É por isso que o Adriano escreve versos.  É por medo.  O meu filho tem medo de olhar o grande vazio de sua vida”.

         O Inspetor da Polícia quis saber o que o levou a ir par Inhaminga.  (o lugar onde o conflito estava mais acirrado)

         Ela sabia que a FRELIMO Frente Nacional de Libertação de Moçambique atuava por lá inclusive.    A Frelimo matou um maquinista de trem branco.

         O Sandro fez serviço militar e atuava na terra dele pelo colonizador, contra a guerrilha da Frelimo.

         A mãe do poeta fala ao policial.   Sobre o filho adotivo dela, o Sandro, ser atualmente militar.    “Foi mandado para o serviço militar.  Acho graça que se chame ‘serviço’ a ocupação que consiste em matar pessoas”.      “Meu filho Adriano não é fiel na política...  O meu filho será um eterno amante da vida, das mulheres e de devaneios poéticos.   O regime dele só existe em sonhos”.

 

         Papel 8 – Depoimento da vizinha Rosinha – vizinha da família de Adriano.

         A vizinha dizendo que a família de Adriano é muito doida.    ...”dona Laura, sendo mulher, se põe a ler livros na varanda à frente de toda gente.  Exibe-se assim, sem pudor, de manhã à noite”.

         ...”os pretos lá na tradição deles, são muito dados a visitar os familiares e, para eles, os parentes são todos misturados, os vivos e os mortos”.

         A vizinha diz que faz reuniões na casa dela, mas não são de política.   Ela é espírita.  E diz:   “O inspetor sabe dos segredos dos vivos.  Pois eu conheço os segredos dos mortos”.

         Papel 9  - Diário de uma mãe, Virgínia Santiago (mãe de Adriano)

         A esposa de Adriano, jornalista e poeta, que não impediu o marido e o filho Diogo a irem para o local dos conflitos, Inhaminga.     “...fazer as malas e vou sair desta cidade.   Não sei para onde.   Não saber para onde fugir é tão triste como ficar em casa”.

         Capítulo 5 do livro – Uma alma esburacada.

         Cita Lao Tsé:   “A lembrança é um fio que nos condena ao passado”.

         Encontro do poeta Diogo (filho de Adriano)  com uma vizinha e amiga de infância.    Camila, que veio com sua mãe Rosinda.    “Esta mulher que me abraça é linda e sabe da sua beleza”.

         A velha parente recordando a mãe do jornalista.   “A tua mãe dizia que na nossa cidade, tão fechada e cinzenta, faltar à verdade não era um pecado.  Era uma generosidade”.      O marido da velha, Vitorino Sarmento, dizia sobre o povo seu e os da colônia.   “Estes pretos, mesmo sendo estranhos, são todos da mesma família.   Que inveja dessa gente.   Nosso caso é inverso.  Somos parentes e nunca chegamos a ser família”.

         Rosinda, viúva, mãe de Camila, declara:    “Esta cidade que vai te libertar é a minha prisão.  Passo a vida em casa.”

         Na saída, Camila de forma escondida da mãe, deixa o número do telefone para o jornalista Diogo.   A mãe entrega a Diogo uma carta.

         O guarda do cemitério é Capitane, pai adotivo de Benedito e Jerónimo.

         Vitorino Sarmento (pai de Camila) tinha como criado o Jerónimo, tinha um quê com essa filha e ficou possesso quando pegou ela no flagrante com o criado Jerónimo no passado.    Montou uma farsa e matou o criado e a outra filha dele.     Por causa do crime que cometeu e pelo caso que tinha com a filha Camila, Vitorino ficou louco.    Toda noite tinha a visão de que o morto estava na porta de sua casa e que ele tinha que remover o corpo de lá.   Pirou.

         Em Portugal já tinha terminado o tempo do ditador Salazar no poder e já era tempo do presidente Marcelo Caetano.  

         Logo após o crime,  Vitorino internou Camila num hospital psiquiátrico sem indicação médica.    Mais adiante, Vitorino já louco, foi internado no mesmo hospital.   Mais ou menos no mesmo tempo que Camila foi liberada do hospital.    Vitorino morreu na cela dois dias depois.

        

                            Continua no capítulo 05/10

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

cap. 03/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO

 capítulo – 03/10

 

Uma das línguas dos povos originários de Moçambique: chissena. 

Maniara é a mãe de Benedito.   Ela numa dança ritual na praça ao redor dos mortos.   Dança ritual, olhos fechados, pá na mão, recitou o nome dos mortos, todos conhecidos dela que é uma liderança em sua comunidade.

     No fim do rito ela disse:  "sou como eles, sou terra.  E morri junto com os meus irmãos".   Na língua dela, chama o deus de Mulungo.    Benedito é branco e foi criado por Maniara.   Ele ao se ajoelhar nos pés dela, ela declarou que ele não era filho dela.   "Eu não tenho filho branco".  (revoltada por causa da revolução e da opressão ao seu povo)

     Maniara disse que foi ela quem enterrou os homens de sua aldeia, mortos na guerra.   "Todos se tornam meus filhos".

     O alferes (chefe dos militares) deu ordem aos seus soltados para eles mesmos enterrarem os mortos para não dar moral ao povo local.   E assim fizeram.

    Capítulo 3 - Escrever nos panos -     cidade de Beira, março de 2019

     Depressão e suas muitas causas:   "Assim como a cidade colonial enlouquecera para se defender do caos, também eu adoecera para me defender do meu arruinado cotidiano".

     Lá na cidade grande, no Hotel de luxo, representantes e Ongs se reunem para se acercar dos povos locais.   "Uma vez mais, discutem a miséria do povo nos hoteis mais luxuosos da cidade".

 

     Na cidade grande o jornalista foi visitar o recanto boêmio com direito até a boate, entre outros, com nome de Moulin Rouge, o ícone do setor em Paris do passado.

     O professor e Liana a conversar na beira do Rio.   Ele recordando da juventude.   Brancos e pretos, originalmente, pescando.   Ele achava um momento justo, brancos e pretos tendo nisso, na pesca, a mesma chance.   "A vida era justa por escassas horas".

 

Lá na região há uma superstição.  Não se pode responder se uma pescaria no mar foi boa.   Se o pescador responder que sim, o mar se revolta e esse pescador não consegue mais boas pescarias.

     Vestido de Liana se prendeu numa pedra beira mar e rasgou.    Subiram ao hotel e eles conversando no pátio.   "Estamos próximos, os nossos joelhos tocam-se.   O rasgão do vestido está agora completamente a serviço dos meus olhos".  

     Do pátio viam as águas e ela disse que foi lá para que a mãe dela e o namorado (raças segregadas) impedidos de viver juntos se amarraram no passado e se suicidaram se atirando no rio.    Só que a mãe dela conseguiu se desatar e foi salva.   O noivo morreu afogado.

     A filha Liana morou em Portugal e voltou para sua terra em busca da mãe Ermelinda (Almalinda).   E o poeta Diogo voltou para rever seu passado.    Liana é mulata.

     O empregado do hotel pergunta ao professor/poeta se ele sabe quem é aquela moça, a Liana.   "Essa sua amiga, professor, é a noiva de um comandante da polícia."

     Capital de Moçambique - cidade de Maputo.      O Oceano Índico banha Moçambique.    O paradoxo.   Liana busca traços da própria história de vida.   Já o professor sofre o excesso de sua história de vida.

     Ele diz:   "Tenho demasiada história, sofro um excesso de passado".    "Quero livrar-me desse tempo que não me deixa existir".

     Quando os pais do professor adotaram os meninos, o Benedito e o irmão Sandro, eles eram pequenos.     A mãe dele costurando roupas para os meninos adotados.   Ela diz:   "Gosto de costurar.  Ocupada, não tenho tempo para adoecer".

     Sandro, garoto, ajudava por gosto, a mãe adotiva a costurar.   "Não eram as roupas que os dois costuravam:  eram pedaços rasgados de suas almas".

      Capítulo 4 -  Juras, Promessas e Outras Mentiras

     (Os papeis da PIDE -2 - a polícia de repressão)

     Papel 6 - Anotações do Inspetor de polícia - 1973

     "Diz-se que as polícias são como caçadores: sonham com as presas e, aos poucos, vão se transformando nelas".

     O da polícia para saber dados de Adriano Santiago (pai de Diogo) foi procurar a mãe dele.   Disse a ela que iria visitar em Moçambique o lugar onde ele vivia e que se interessava por ouvir dados do local.    E deu corda para ela ir falando.   "Uma pessoa daquela idade troca tudo por um momento de atenção".   A velha sabia que ele era Inspetor de Polícia, da PIDE Polícia Internacional e de Defesa do Estado.   

           continua no capítulo 4/10

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

CAP. 02/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO - leitura fevereiro de 2022

 capítulo 02/10

 

         Universo Descarrilado  (Os papeis da PIDE – 1)

         Os comunistas portugueses, por baixo do pano, apoiavam o movimento de liberação do Moçambique.   Este que fazia ações de guerrilha para derrubar o poder português. 

         Carta de 1973 a Adriano Santiago, vinda de líder comunista de Portugal.    Adriano é jornalista, poeta e revolucionário.   Havia na época o PCP Partido Comunista Português em Portugal.

         Sobre o apoio dos padres holandeses na região do Moçambique.   O dirigente do PCP na carta a Adriano Santiago.     “Os padres holandeses nesta vila, abrir-lhe-ão as portas para chegar à verdade.   Esses missionários serão imprescindíveis, mas não se deixe iludir:  padres são padres e os compromissos dessa gente são diferentes dos nossos.   Falam em nome do povo sofredor, mas enganam os mais humildes com promessas de um paraiso celestial”.

         No interior onde haverá missão lá no tempo revolucionário, o povo originário não fala o português em Moçambique.   Então, levar o empregado para servir de intérprete.

         O líder orienta o jornalista na missão.    “O seu maior inimigo não são os outros.   Quem atrapalha é o seu lado poético”.

         Lider:  Faustino Pacheco.   (reside em Portugal)

         O risco do revolucionário:   “Mas se a vida nunca me pertenceu, ao menos que eu tome posse da minha morte”.

         Parte 2 – A Viagem a Inhaminga   (excerto do meu diário – 1)

         Cidade de Beira, fevereiro de 1973.   Tempo de guerrilha com foco em Inhaminga.

         O empregado de Diogo, o negro Benedito Fungai é nascido em Inhaminga.   É o intérprete entre Diogo e seu povoado.

         O filho Benedito ao pai ao partir em missão:   - Não nos despedimos da mãe?  O pai diz:  - Quem se despede da tua mãe arrisca-se a nunca mais partir.

         O pai:  Vamos para Inhaminga.     O nome do povoado tem origem na língua regional de terra de espinheiros.

         O jornalista poeta:   “As terras são mulheres, foram feitas para abraçar”.     O guia Benedito fala baixo só para o filho do jornalista.   Terra de espinhos.   Nem os bichos se deitam naquela terra.     

         O primo Sandro, criado pelo jornalista.   Os pais de Sandro morreram num acidente de automóvel.

         Quando Sandro ficava bravo dizia que iria sumir lá para Inhaminga.

         “Em África não há distâncias.   Há apenas profundezas”.   Inhaminga é a terra natal de Benedito, o empregado dos pais de Diogo.

         Havia aldeamentos em Inhaminga onde os portugueses obrigavam povos originários (que chamavam de índios) a morarem nesses aldeamentos.

         Esse lugar já tinha sofrido muito com a Guerra.

         O pai de Diogo, no passado, dirigindo o carro, recitando versos e gesticulando com as mãos.   E diz ao filho:    “É o que tenho para oferecer à tua mãe – palavras e versos...”

         Mas a tua mãe não entende, ela é uma mulher demasiado prática.

         O carro enguiçou no caminho, no meio da estrada ladeada pela mata.   Entraram no carro enguiçado por segurança.   Adriano perguntou   - Temos medo de bichos ou das pessoas? 

         - Bichos e pessoas, aqui é tudo o mesmo – respondeu Benedito.   Eram tempo de guerrilhas para agravar tudo.

         No passado o jornalista mentiu para a esposa que estava com câncer.   A esposa rezando para São Braz, protetor das doenças do peito.   E ele deixou de fumar nesse dia.

         “O poeta Adriano era um homem feliz, tão feliz que nem sabia que vivia”.

         Papel 3 – Ofício Interno da PIDE/DGS  - Polícia da repressão política.

         Beira, fevereiro de 1973   (tempos de guerrilha pela Independência)

         O pai de Benedito era informante para os dois lados do conflito, da revolução.    E o poeta jornalista não sabia disso.

         Em Inhaminga, soldados com fuzis ao lado da linha do trem e mulheres com seus guarda-sois.    As brancas.   Elas, funcionárias da estrada de ferro.   Estão em greve e estão bloqueando os trilhos.

         Um empresário europeu tinha por lá a fábrica de cimento, plantações, serrarias e muitos outros empreendimentos.   “Tudo nas mãos de um só homem”.

         O Estado construiu uma barragem e uma usina elétrica e o empresário aproveitou essa infraestrutura para expandir seus negócios na região.

         Na praça da cidade de Inhaminga, uma pilha de mortos (negros – povos originários) e guardas vigiando os mortos.    A ordem era para deixa-los sem enterrar, para servirem de exemplo e intimidar os outros que tendiam a apoiar a guerrilha.

         Uma placa de madeira alertando:   “Isto é o que acontece com quem ajuda os terroristas”.

         Os padres pedem para os militares autorizarem eles a enterrarem os mortos.   Os militares retiveram os mortos na praça para intimidar a população.   E disse um dos soldados:    “Há quem trabalha melhor depois de morto”.   (ali servindo de exemplo para o povo ficar intimidado)

         Continua no capítulo – 03/10

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

CAP. 01/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor: o Moçambicano MIA COUTO

Capitulo 01/10                leitura - fevereiro de 2022

 

         É o terceiro livro que li do moçambicano Mia Couto.  Gosto muito dos livros dele e do seu modo de se expressar, usando frases com belas metáforas que levam à reflexão sobre a vida e o comportamento humano.

         O autor destaca que é uma obra de ficção mas a obra caminha tangenciando o país na fase das guerrilhas contra o regime imperialista de Portugal.   A principal parte do livro transcorre em 1973, no final do regime colonial e em 2019 quando o protagonista visita os locais onde tem ligações com o povo.    O autor alerta que apesar da obra ser de ficção, os personagens tem perfil muito próximo de pessoas daquela região e época.

         Curioso é que também lá em Moçambique o autor usa um termo que deveria ser corrente no tempo colonial, chamando os povos originários de índios, tal qual chamavam no Brasil.

         Diogo, o protagonista, fala do pai que era jornalista e poeta português vivendo em Moçambique com a família.   Narra fatos do massacre de 1973 perpetrado pelo Exército português contra os que lutam pela independência de Moçambique.

         Capítulo 1 – Os que falam com as sombras.        Cidade de Beira, ano de 2019.

         “A poesia não é um gênero literário, é um idioma anterior a todas as palavras”.     O protagonista é o poeta Diogo Santiago.     Voltando à terra natal, Moçambique, ele filho de portugueses.  

         “Eis a minha doença: não me restam lembranças, tenho apenas sonhos.  Sou um inventor de esquecimentos”.

         ... o poeta...    tímido e recatado, sendo vítima de uma homenagem pública”.

         A moça do cerimonial vem convidar o poeta para tomarem uma bebida.   Ele recusa.    “Não posso – sou homem de incerta idade”.

         A moça Liana ao poeta:   Sou negra.  Aprenda uma coisa:   a raça está no cabelo.

         Carta de Liana ao professor poeta Diogo Santiago.   Carta junto com documentos de uma prisão pela PIDE, a polícia secreta da repressão em Moçambique, a serviço de Portugal.

         Após a revolução, queimaram os arquivos e o avô de Liana guardou os documentos da prisão do jornalista e pai de Diogo Santiago.     Diogo quer fugir das lembranças e agora tudo volta nessas cartas, relatórios etc.  Documentos que incluem cartas do próprio Diogo quando muito jovem escreveu ao pai então na prisão nos anos 70.

         ...”vou lendo as minhas próprias cartas”...    a caligrafia é parte do corpo, a minha escrita foi ganhando rugas com a idade.

         O avô de Liana era Inspetor da PIDE, da polícia repressora.     O professor Diogo pergunta se o avô de Liana ainda está vivo.    Ela responde:  “Acho que ele nunca esteve vivo”.    Ela pergunta:   O que veio fazer aqui na sua terra?.   Resposta:   - O meu médico disse que esta visita me apaziguaria as memórias.

         Você é casado?   Ele responde:   Não sei.

         Quando Diogo era garoto nos anos 70, a polícia (PIDE) um dia veio à casa dele e apreendeu o livro do poeta Adriano Santiago, pai de Diogo.

         Nome do livro apreendido:   Um Retrato em Busca de Feições.

         O poeta acordando, disse ao policial.   Este livro, não levam.   Os policiais disseram.   Vai você e o livro.

         Levaram o poeta de pijama preso e o público da vizinhança curioso, vendo tudo.

         Dona Virgínia, esposa de Adriano fala indignada aos policiais.    – Tudo isso por causa de um livro?

         A mãe de Diogo dizia que o marido não dormia porque não sabia nem arrumar a cama.    E perguntava para o filho Diogo:   “Que graça pode haver em nos deitarmos numa cama feita por mãos alheias?”

         O último momento dele ao lado do pai que morreu no hospital.    “Espreito a rua e perco a vontade de sair”.

         Depois de muitos anos, voltou à cidade da Beira para recuperar memórias e não consegue sair do hotel.

         ...quem sabe se de medo de descobrir que a minha vida se assenta numa falsidade.

         Diogo selecionando os papeis que recebeu que estavam sob a guarda do avô de Liana que era da polícia nos anos 70, quando o pai de Diogo foi preso.

         Liana estuda Letras e pretende ser escritora.  Ela tem pouco mais de quarenta anos.      Ela é órfã e foi adotada na infância.   Recebeu de tudo na nova família, mas não tem a sua história/memória.   Ela diz:  

         “Ando em busca das narrativas como um cego que procura o desenho no seu próprio corpo”.   Ela:   ...”foi por obediência ao seu pai que dizia que a arte maior do poeta era saber desperdiçar oportunidades.

         Nos tempos de militância, os intelectuais da região se reunia na casa de Adriano Santiago, pai de Diogo.   Eram chamados pelos policiais da PIDE de toupeiras brancas.    Cita o bairro da Manga na cidade da Beira.

         Diogo – volto à minha cidade em busca do passado e também busca de remédio para a depressão.    Diogo é professor e poeta.

         Os revolucionários da turma de Adriano Santiago, pai de Diogo, eram comunistas e apoiavam a luta do povo de Moçambique pela Independência.

         Continua no capítulo 02/10 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

CAP. 13/13 (FINAL) - fichamento - livro - A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA - Co autor: CLÓVIS DE BARROS FILHO

 capítulo 13/13 (final)

        

         ”.     “Essa luta recebeu o nome de Reforma.   Travada por contendores hábeis em fundar suas intepretações em fina teologia.    E assim, o que era vontade de Deus antes, deixou de ser.    E o que era pecado, também deixou de ser.   Ao menos para alguns.       

         O autor volta a citar Max Weber e seu livro Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.    “A obra esclarece melhor que ninguém.   A prosperidade e o enriquecimento”.   Ter mais dinheiro do que precisa.   Para uns sempre foi pecado.   Já para outros, não só não é pecado, como é indício de alegria de Deus com você.       (capitalismo é competição e fé cristã seria solidariedade...)

         “Ora, se Deus continua impávido, a interpretação da sua vontade ficou dúbia.  Por isso ao invés de pautar a vida pela vontade de Deus, passamos a escolhe-la à la carte; ajustada às conveniências da própria trajetória.

         Assim... ficamos sem Deus.   “Perdemos a referência para a vida boa”.   Em resumo, até a Grécia Antiga, eramos regidos pelo Universo.  Depois, pela crença em Deus.   Após certas interpretações ficamos sem o universo e sem Deus.  Ficamos à deriva.  Sem chão.

         “Decidiremos nós, o certo e o errado, o junto e o injusto, os limites da ação, até onde posso ir e até onde ir você”.

         O autor coloca um ouvinte hipotético da aula dele:   - Quer dizer que agora é nóis!    E o autor reponde:   Não nos sobrou outra alternativa.

         “Assim os tais direitos humanos foram decididos por nós.”    “Só que o homem conserva a estrutura religiosa.  Por quê?    “Porque depois de chamar para si a responsabilidade de definir o certo e o errado, cria, ele mesmo, vivas transcendências.   Propostas de idealidades terrestres, por assim dizer.”

         “Assim, os direitos humanos, o liberalismo, o comunismo, o anarquismo e todas as sociedades ideais que o homem acabou inventando para substituir os mundos supracelestes.   De todas essas formulações de idealidades existenciais, a mais contemporânea é, sem dúvida o paradigma da qualidade de vida.

         Intensidade e Qualidade de Vida -   ...” vida de qualidade depende 100% de quem a vive”.   Todos os protocolos de qualidade de vida a  relacionam com menos trabalho.    ...”enquanto não estamos trabalhando temos mais tempo para nós, para fazer o que gostamos”.

         Citou como por exemplo, o happy hour das sextas feiras após o expediente do trabalho.     Pelo lado utilitarista, então fico menos feliz  a semana toda de trabalho e só um happy hour de uma horinha na sexta? 

         Umas reflexões que ele faz.    Ele dá um exemplo de outro modo de ver a coisa.     Como ele se sente feliz sendo professor, suas jornadas de segunda a sexta não deixam ele menos feliz.   Então há modos e modos de ser feliz.   Ele diz:   “Pela alegria de cada um.   Porque todos que afirmam falar em nome de todos são candidatos a tirano”.      Em luta para travestir a própria alegria em alegria do mundo   (dessa forma a pessoa que assim faz está colocando seu próprio desejo como desejo geral)

         Intimidade e Ineditismo

         O autor e esposa foi com um casal amigo para uma excursão num lugar ecológico, de montanha.   Tudo bem rústico.  Ele detestou tudo, inclusive o calor e tudo o mais.

         “Já aprendemos, à exaustão, que não há um gabarito para a vida que seja aplicável a qualquer um”.

         ... também não há gabarito para todos, também não há uma solução existencial para nós, válida para toda nossa trajetória”.

         Porque o que nos alegra hoje, pode não nos alegrar amanhã.

         A vida boa deste instante, poderá se converter em puro tédio logo em seguida.   Porque sempre seremos outro em relação ao que já fomos.

         ...”a vida que vala seguramente a pena viver.

         ... mas também seus sonhos, suas ilusões, seus medos e esperanças e, por que não; suas filosofias também”.

                            Fim.                       24-01-2022

 

         (próxima leitura – livro do moçambicano Mia Couto – O mapeador de Ausências)

CAP. 12/13 - fichamento - livro - A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA - Co autor: CLÓVIS DE BARROS FILHO

capítulo 12/13

  

         Se trabalhamos, tudo fica fácil de explicar.   Se não, tudo se complica.

         “Sentimos a necessidade de prestar um esclarecimento.  Dar satisfação, como se diz”.

         Sociedade e alinhamento -   Nascemos sem limites por assim dizer, em nosso potencial de ações.   Mas a sociedade tem meios de nos colocar “na linha”.   “Aprendemos a perseguir o que é autorizado.    E, sobretudo, a nos afastar do que colocaria em risco a ordem social”.

         O sistema funciona por prêmio e castigo. Aplauso e vaia.   Alegria e tristeza.     ...”a sociedade age docilizando-o.   Direcionando para o certo”.   O corpo é social.    Porque você incorpora a sociedade com a qual convive”.

         O indivíduo tem medo do isolamento, de se sentir excluído...”

         Um exemplo é o voto útil.    O indeciso muito comumente acompanha o voto da maioria....

         Na escola nos ensinam uma “história geral”, mas que foca alguns países.   Por exemplo, a França, USA...    “Porque foi decidido que França vale mais que Angola...”

         Bordieu em A Categoria do Juizo Professoral.    Sistema de ensino.    ...”programas indiscutíveis”  ...no princípio da função de consagração da ordem social que o sistema de ensino preenche sob a aparência de neutralidade”.

         Os de cima – “consagrar seus saberes e ignorar outros saberes”.

         “Trata-se portanto de um exercício de poder”.      

         Aos alunos.    “... é preciso saber o que todo mundo sabe”.    Se tentarmos buscar outros saberes...   “somos desautorizados a manifestar nossos pontos de vista”.

         A escola é uma das instituições que pautam nossos saberes.    “Mas não só a escola que pauta nossos saberes”.   

         Poucos na sociedade conseguem o status de poder abordar assuntos diversos em público, pela imprensa, por exemplo.   “É para poucos.   Nem sempre acontece”.   E é revoltante pensar coisas que você julga interessantes e perceber que ninguém quer ouvir.      (Na polarização atual, um exemplo seria uns professores de história querendo colocar fatos relevantes do passado que nos impactam no presente e serem taxados de comunistas, ou seja, querem desqualifica-los sem entrar no mérito da questão)

         Para ter voz e vez:   “Melhor alinhar suas habilidades com as práticas sociais autorizadas, legítimas e consagradas”.    E seus saberes e discursos com o que a sociedade espera ouvir.   Porque o aplauso alegra.   Pelo menos por alguns segundos...

         Jogar pra torcida arranca aplausos, mas...

         “Afinal, alinhar-se com a sociedade injusta em busca de uma vida boa parece indigno”.

         Para os inconformados, esta vida boa seria bem outra.  Desalinhada  (coisa do que chamam de bicho grilo).    Num processo transformador.   Num movimento revolucionário.    “Mas este é tema para outro curso e para outro livro.     Uma reflexão sobre outras sociedades possíveis.

         Capítulo 10 – Vida Intensa -   “Intensidade.   Atributo da vida boa.   Tão boa que você não dá conta de ter vivido.   A relação vivida com o mundo satisfaz tanto que não cogita outra.    “Na intensidade, desaparecem o passado e futuro.    Porque a vida se reconcilia com o presente”.

         Sociedade e Referências Supra Celestes     -   Classificar períodos da história é construção humana e não é neutra em termos de interesse.

         “Classificar períodos é apresentar-se como legítimo para falar deles.  E condenar adversários à ilegitimidade”   ....”garantir certa reserva de mercado”.

         “Vejam os pós Modernos.   Únicos autorizados a falar do Pos Moderno.    ... Por que nomear é, de certa forma, fazer existir”.

         “E autorizar-se a discorrer sobre.    Com maior ou menor legitimidade”.

         Segundo o autor deste livro, foi Descartes que criou o sistema de coordenadas geográficas de paralelos e meridianos para localizarmos pontos no planeta.    “Ter a autorização social para interpretar a vontade de Deus não deve ser nada mal”.     “Essa luta recebeu o nome de Reforma.   Travada por contendores hábeis em fundar suas intepretações em fina teologia.    E assim, o que era vontade de Deus antes, deixou de ser.    E o que era pecado, também deixou de ser.   Ao menos para alguns.

 

        

         Continua no capítulo 13/13 (final) 

CAP. 11/13 - fichamento - livro - A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA - Co autor: Professor da USP - CLÓVIS DE BARROS FILHO

capítulo 11/13    

         ...”não é possível pensar na vida, ou mesmo viver sem pensar nela, sem considerar as condições sociais em que ela é vivida”.

         Porque todo recolhimento é protagonizado por um ser já socializado.   A sociedade vai junto.  Não adianta trancar a porta”.

         Sociedade:   Resultado ou Condição -  Sociedade e Discurso

         O autor se refere a texto que leu de Bakhatin, que achou relevante no tema.   Quando nascemos não sabemos falar e não pensamos.   As palavras, também denominadas símbolos, “vamos aprendendo e assim aprendemos a falar e a pensar.    “Por isso, toda nossa consciência...  é povoada de signos que são  aprendidos com outras pessoas”.

         (o surdo total não aprende falar como consequência)

         “Temos a ingênua crença de ser o marco zero de nossas manifestações.   De que somos criadores plenos de nossos discursos.   Que seriam gestados na nossa alma a partir de uma atividade intelectual toda nossa”.   Não é assim na realidade.

         “Toda a materialidade das coisas que pensamos e dizemos nos vem de fora”.    ...”vivendo em sociedade estamos submersos num mar de discursos...”   ... impregnado de conteúdo ideológico ou semiótico...”

         Elaboramos...   “Porque a mesma materialidade pode facultar infinitas articulações diferentes.   Assim, comporemos nossas receitas discursivas ineditamente.    Como só nós faríamos.   Criativamente.   Porque não somos máquinas de reprodução ou memo de transformação de discursos alheios”

         Sociedade e Identidade

         ...”pelo menos o que achamos que somos poderia ser uma construção genuína da nossa parte.  Seria gratificante.   Mas, desencantar é preciso.    Quando observamos o dia a dia de uma criança pequena, percebemos claramente que as coisas que começa a dizer sobre si, são as mesmas que ouve das pessoas com quem interage.    ...”É com os outros que vamos descobrindo os atributos que estaremos autorizados a apresentar na hora de nos definir”.

         “Afinal, é com essa ideia que temos dos outros que nos relacionamos”.      ...”Ideia que construímos do outro.  O que achamos que o outro seja”.   Ideia que acreditamos controlar melhor em nome da estabilidade.  Segurança.”

         (como leitor, acho que quase todos já tiveram amigos num passado relativamente distante e ficaram muito tempo sem interagir.   Quando voltam a interagir, é comum acharmos que aquela pessoa não é mais a mesma...)

         “Quando o espelho desmente, continuamos acreditando numa estabilidade mínima.   Do que consideramos mais fundamental.   Alma, caráter, personalidade.   Para que eu possa continuar existindo.   E o outro com quem me relaciono, também”.

         Sociedade e seus laços -    A realidade

         ... “para muitos pensadores importantes, a vida boa possível não vai além de uma vida não muito ruim”.   Comumente quando nos perguntam – como vai? – respondemos com negativas – Vamos indo.   Empurrando com a barriga, tirando avanti (como dizem os italianos).

         O ato extremo do suicídio.      ...”quanto mais sólidos os laços sociais, menos provável é a abreviação deliberada da existência”.

         Ao contrário...   “uma inscrição pobremente consolidada no mundo social indica maior chance de vida ruim”.        (inclui aqui a situação de muitos imigrantes, mas não só)

         (também entra nessa lista casos de relações complicadas entre pais, avós, filhos, netos)

         Durkheim é considerado o pai da Psicologia.   Um dos livros dele se chama O Suicídio.   Século XIX.   Casados em média tem menos chance de suicídio do que solteiros.    Casados e que tem filhos, diminui ainda mais o risco no casal.   O risco é ainda menor em pais com filhos pequenos e que dependem economicamente, inclusive, dos pais.

         Um dos momentos que geralmente é negativo na vida de muita gente: logo após se formar nos estudos e a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho na área desejada.    E esse período pode ser longo.

         Fase em que estamos meio no limbo.   Temos ex colegas dos estudos e futuros colegas da vida profissional.   Fase de falta de vínculos sociais, que corresponde a uma fragilidade identitária.   “Por não termos muito o que dizer – sobre nós – acabamos não tendo também para quem dizer”.   E isso é super desagradável.   “A sociedade cobra de nós, a cada encontro, alguma autoapresentação”.  

         E por isso, somos constrangidos o tempo todo, a assumir uma indefinição existencial.

         Se trabalhamos, tudo fica fácil de explicar.   Se não, tudo se complica.

         “Sentimos a necessidade de prestar um esclarecimento.  Dar satisfação, como se diz”.

                   Continua no capítulo 12/13