capítulo 07/10
Papel 20 – Excerto do meu diário. A avó, o mar e os fatos
Diogo usava consumir flocos de aveia no
café da manhã.
Juliano, o preto velho que sempre foi
empregado da avó Laura de Diogo. A avó
dizendo que o marido queria despedir o empregado porque ele estava muito velho
e que por isso não ajudava em nada.
...”este preto – que todos dizem não ser já de nenhum préstimo – todos
os dias nos traz uma história”. A
patroa, avó Laura, vê isso como um grande serviço.
“Não imaginas como preciso escutar
essas histórias”.
Capítulo 11 – Os domadores do caos -
cidade da Beira, março de 2019
O velho farmacêutico militante do
passado, natural de Goa, que foi província portuguesa no sul da Índia. Benedito levou o Diogo para visita-lo,
estando então o velho acima dos noventa de idade.
“Estou velho e tão magro que já tenho
mais ossos do que palavras.”
O velho Natalino que foi um dos
agitadores da revolução e era comunista.
Em 1962 a Índia tomou o governo de Goa
e Natalino foi preso por uns tempos.
“Nunca Natalino disse uma palavra sobre o que tinha padecido no
cárcere”. Não há lamento mais digno que
o silêncio.
Era o que ele sempre dizia. Em certo momento, Diogo esperando o
barco. – Que horas parte este barco?
O marinheiro responde: “O horário aqui, meu boss, é quando aparecer
o último passageiro. O barco fica cheio
e nós arrancamos pontualmente”.
O Diogo pergunta qual a lotação do
barco e vem a resposta: “O limite
máximo pode chegar a uma média de vinte e tal pessoas. Mas aguenta até cinquenta, dependendo da
ventania”. Esta viagem que vão fazer
demora ao redor de três horas rio acima.
“No mar é como na caça: contam-se histórias”.
Ventania, ondas fortes, água entrando
no barco. O piloto diz: “Este barco é uma igreja flutuante, reza-se
mais aqui que nas igrejas”. “Um dia
começo a cobrar o dízimo”.
O guia que é da região da terra
visitada vai parando para conversar com cada conhecido que não vê há
tempos. E a prosa tem assuntos de
colheitas, saúde dos amigos etc.
Na repartição pública “na parede
lateral está suspenso um relógio antigo.
Está avariado, os ponteiros estão mortos”.
Termo mizungo, equivale a mestiço.
A viagem de barco foi de Beira até
Buzi, sendo uma viagem por um rio e seu afluente. Foram buscar informações sobre a mãe de
Liana. A que se atirou no mar junto
com o namorado, ambos amarrados juntos para se suicidar porque os pais não
deixavam eles se casarem.
Capítulo 12 – Se os mortos não morrem. Quem é dono do passado?
Os papeis da PIDE – 6
Adriano, pai de Diogo, era ateu. “Estou a chegar aos cinquenta anos, altura
em que a idade se vai tornando uma doença.”
O desprezo da candidata a sogra
portuguesa em relação a alguém (alguma pretendente) “de menor estatura”. A sogra ao conhecer a futura nora: “Tantas moças do nosso meio e foste buscar
uma rapariga da aldeia!”
A nora em carta à sogra depois de
muitos anos. Chorei e chorei muitos
anos... a senhora me obrigava a sentir
vergonha de mim mesma”.
Carta do Inspetor de Polícia – Óscar Campos
O inspetor vê na rua protestos de
brancos contra o exército que está supostamente lutando para defende-los. “Alguém disse que a esperança alimenta
multidões.” Pois eu digo: “O desespero cria exércitos alucinados”. Estes protestos atingiram a honra da
corporação. (do exército).
“A Beira nunca foi nossa. Eles elegeram o candidato da oposição. O quase cego da família, um octagenário ... “ser quase cego é pior que ser
completamente cego... “a cegueira total
inspira compaixão. Mas não ameaça
ninguém. A cegueira incompleta suscita
meto. Entre os da nossa família, nós
nos indagávamos o que é que esse nosso tio era capaz de ver”.
Um paralelo do militar. Entre nós militares neste tempo de
guerra. Quem é o inimigo?
Um dia o Inspetor devolveu o caderno de
poesias inédito que tinha confiscado do poeta.
Ele não estava em casa e a esposa dele recebeu o caderno. Estava sendo pintada a casa dela e ela,
irada, pegou o caderno e enfiou dentro da lata de tinta.
Continua no capítulo 08/10