CAP.17/20
Lula era um entusiasta dos
cursos profissionalizantes e ajudava a estimular os sindicalizados a
estudarem. O sindicato passou a estimular cursos e palestras inclusive sobre
formação política, noções básicas de economia e mesmo cursos supletivos para
acelerar os estudos dos metalúrgicos.
No começo Lula era mais
articulador e negociador e não era forte em oratória. Esta foi lapidada com o tempo. Ele aos 23 de idade – “Eu era inibido que,
quando citavam meu nome numa assembleia, eu já ficava vermelho”.
Tudo andava correndo muito
bem ao casal Lula. O casal trabalhava e
a gravidez dela transcorreu tranquila mesmo com ela trabalhando. No parto, a esposa de Lula perdeu o bebê e
ela também veio a falecer.
Foi muito doloroso para
ele essa verdadeira tragédia familiar.
Ficou à beira de uma depressão e voltou a morar na casa da mãe para
reequilibrar emocionalmente a vida.
Passado certo tempo, foi
voltando às partidas de futebol, encontro com os amigos e a vida foi retornando
ao eixo. O time amador do qual fazia
parte era o Nautico Capibaribe, um nome pernambucano.
A viuvez acabou empurrando
ele ainda mais para o dia a dia do sindicato.
Numa eleição sindical, pela participação ativa dele, se tornou candidato
natural ao cargo de primeiro secretário, o cargo só abaixo do presidente. Isso no curso de três anos. Saiu de suplente e saltou para primeiro
secretário.
Ele no cargo efetivo no
sindicato passou a ser liberado do emprego em tempo integral e dava expediente
no sindicato representando sua base.
Tinha dois bons advogados
como assessores e um jornalista. Como
secretário, o cargo era como um prefeito na entidade e todos os processos
passam pela sua mão. Questões de
demissão, acordos, questões previdenciárias e outras.
Lula, inovando dentro do
“novo sindicalismo”, começou a viajar pelo Brasil e tabular contatos com outros
sindicatos. A imprensa chamava essa
nova postura de novo sindicalismo.
Integrantes do PCB Partido
Comunista Brasileiro (o Partidão) tocava o jornal Tribuna Metalúrgica com
jornalista experiente. Driblavam as
amarras da ditadura e “colocaram trabalhadores cara a cara com os
patrões”. A cartunista Laerte ilustrava
o citado jornal e o personagem “João Ferrador”, um boneco de boné e
macacão. Personagem criado por Felix
Nunes e desenhado pela Laerte que então era um jovem de vinte anos, ligado ao
PCB. Bem mais adiante, Laerte assumiu
nova identidade e é a Laerte que continua como destaque como cartunista até a
atualidade.
O bonequinho João Ferrador
se tornou um símbolo das campanhas de mobilização dos metalúrgicos.
Nos anos 70 o DIEESE,
fundado por sindicalistas em 1955, já era bem estruturado. Departamento Intersindical de Estatísticas e
Estudos Socioeconômicos. Tem equipe
técnica especializada e levanta dados e produz índices vários sobre a economia
e salários. Fornece parâmetros para
os sindicatos usarem como referência para as negociações.
Consta que o PCB é o
partido político mais antigo do Brasil.
No passado mais remoto, foi comandado por Luiz Carlos Prestes.
“Lula não queria saber de
conversa com o PCB nem com nenhuma outra organização clandestina”.
O foco de Lula era salário
dos trabalhadores. O foco dos
sindicalistas era manter ou melhorar o
poder de compra dos operários.
No passado, os índices de
inflação e outros eram medidos só pelo governo. Não eram dados confiáveis. No começo do governo JK Juscelino (anos
50), os sindicatos se articularam e criaram em 1955 o DIEESE. Buscavam ter dados confiáveis para medir
perdas salariais e embasar suas reivindicações.
No período da ditadura
militar (1964/1985), os generais presidentes vinham tocando a economia sem
maiores sobressaltos até que em 1973, ocorreu a Guerra do Yom Kippur entre
Israel e árabes e os USA entraram em apoio a Israel. Numa marcante ação de represália, os países
árabes (grandes produtores e exportadores de petróleo) formaram um cartel
chamado OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Nessa, reduziram a produção e elevaram os
preços em até 400%. Abalou a economia
do mundo em graus relativos à dependência do insumo em cada país. Foi um baque enorme para o Brasil.
Em 1973, no Brasil, a
inflação pela alta do combustível medida pelo governo foi de 15,7% ao ano. Já a inflação no mesmo período medida pelo
DIEESE, foi de 37,8% ao ano. Os
sindicatos lutam para repor essas perdas pelo índice do DIEESE.
Continua no capítulo 18/20