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segunda-feira, 9 de maio de 2022

CAP. 20/27 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 20/27

 

         Em 1976 numa operação da repressão na Lapa, bairro de SP, mataram três integrantes do PCdoB, um deles, Pedro Pomar.  

         Capítulo 13 -   Após passar anos excomungando a classe política, Lula começa a preparar o caminho para criar o PT.

         Lula conseguiu depois  de muita negociação com o TST Tribunal Superior do Trabalho, o direito dos sindicatos poderem representar diretamente seus filiados.   Até então, cada sindicato passava um mandato para a Federação e esta negociava, nem sempre dentro do que pretendia cada sindicato.   Nesse acordo, as Federações só passaram a negociar em nome de empregados não filiados a sindicatos.    Isto deu muita força aos sindicatos.

         Lula com suas ações inovadoras passou a fazer mudanças nas comemorações do Dia do Trabalho inclusive.   “Em vez de celebrar o 1º de Maio com quermesses e atividades recreativas, iniciou as comemorações um mês antes, com sessões de cinema, teatro, tudo seguido de debates e discussões sobre a temática exibida”.

         Geisel, vindo a São Paulo para inaugurar uma fábrica de tratores da Ford.     Em São Paulo, o presidente anunciou que estava retirando o censor da Revista Veja, a última da grande imprensa que ainda era mantida com censor direto.   Restaram com censores três tabloides “nanicos”:  O Pasquim, o Movimento e o Opinião.

         Na eleição de 1974, o povo já furioso com os dez anos de ditadura, não podendo votar para governador (que era indicado pelos generais presidentes), votou em peso na oposição para o Congresso.    Votos no MDB que era oposição à ARENA (governista)  Aliança Renovadora Nacional.   Das 22 vagas para o senado, a oposição conquistou 16 cadeiras.

         Crise do petróleo.   O cartel da OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo (maioria por países árabes), criado em 1973, fez o preço do barril do petróleo saltar de dez dólares em 1973 para 110 dólares em 1979.   A economia do Brasil e do mundo levou um baque.   Para tentar amenizar o problema da energia, o governo brasileiro criou o Proalcool para ter combustível nacional em maior quantidade.    Investiu bilhões de dólares para construção da Hidrelétrica de Itaipu para reforço no abastecimento de energia.   Investiu na Usina Nuclear de Angra dos Reis, para a qual houve uma batalha comercial e diplomática entre a americana Westinghouse e a alemã Siemens KWU, vencendo a alemã.   Montante da obra:  8,4 bilhões de dólares.

         Geisel e o apoio para a Villares fabricar também locomotivas.  O empresário para entrar nessa atividade, precisava de empréstimos e de pedidos de locomotivas e o governo prometeu ambos e cumpriu apenas em parte, dando um verdadeiro tombo no empresário que construiu em Araraquara-SP uma nova fábrica para tal e que depois não chegou ao que foi planejado por falta de recursos financeiros e de pedidos de locomotivas.

         O fresador metalúrgico Pedro Okamoto, ficou surpreso um dia de madrugada na porta da fábrica onde trabalhava.  Viu Lula, já bastante popular e presidente do sindicato, ajudando a panfletar na madrugada.  Okamoto falou a um amigo, admirado:  - Puta merda, esse cara não é o Lula, presidente do sindicato?   - Parece que sim, acho que é ele mesmo.

         Okamoto foi puxar prosa com o Lula e ficaram amigos de muitos projetos e batalhas sindicais e partidárias.    

         Nos tempos passados, os sindicatos distribuíam panfletos que não eram atrativos no conteúdo e na forma aos sindicalizados.   Já no tempo de Lula, os materiais eram mais bem elaborados, inclusive com uso de quadrinhos e eram lidos e compreendidos pelos operários.

           O cartunista mineiro Henfil era um dos que desenhavam nos materiais dos folhetos.    Henfil – Henrique de Souza Filho, irmão do Sociólogo Betinho que foi idealizador do Programa Fome Zero.

         Okamoto ao longo dos anos passou a ser parceiro de Lula em várias iniciativas como o PT, a CUT Central Única dos Trabalhadores, no Instituto Lula.

         No governo Geisel o povo já estava fomentando o movimento por eleições diretas e pela “anistia ampla, geral e irrestrita”.

         Lula no Senado em Brasilia para audiência com o presidente da casa, o senador governista Petrônio Portela (da Arena).  Lula pelo gabinete com um paletó sempre no ombro.  Depois do evento, se reuniu com um grupo de pessoas num restaurante e um repórter da Veja questionou o caso do paletó.  Lula disse que não usava paletó e nem tinha um.   Ao saber da audiência no Senado, emprestou um paletó e levou.   Na hora h, o paletó não servia e o jeito foi andar com o tal pendurado no ombro.   

         Na época eram 430 congressistas, sendo 66 senadores e 364 deputados federais.   Entre todos, Lula percebeu que só havia dois trabalhadores, ambos de São Paulo.

 

 

                   Continua no capítulo 21/27       

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domingo, 8 de maio de 2022

CAP. 19/27 - fichamento do livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Escritor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 19/27 

 

         O PCB, o Partidão, “era contra toda forma de luta armada, fosse urbana ou rural”.    A ditadura por esse tempo matou o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.

         Lula que estava no evento sindical em Tóquio, teve que abandonar o evento no meio e retornar ao Brasil para tentar acudir o irmão, frei Chico que foi preso pela repressão militar e estava sendo torturado na prisão.    Foi torturado no DOI CODI no número 921 da Rua Tutoia no Bairro Paraiso em São Paulo, local que ficou famoso pela crueldade da tortura.

         Torturaram frei Chico e outros presos por acusação de subversão.   Usavam choques e muito mais.   (detalhes na página 277 do livro)

         Lula foi procurar o irmão dele no DOPS.   Mais tarde, afirmou:   “Naquele tempo, ir ao DOPS atrás de um preso político, ou era advogado ou era doido.   Eu não era nenhum dos dois”.

         Frei Chico ficou duas semanas levando choques e demais formas de tortura e interrogatório.     Naqueles dias prenderam o jornalista Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de SP.  Foi preso e torturado e depois foi assassinado na prisão.   Simularam que o preso se enforcou com o próprio cinto na cela.

         Repressão pesada pelo governo militar.  Nesse período o Ministro do Exército era o general Silvio Frota, um linha dura.

         No evento do assassinato do jornalista, as alas mais radicais dos militares estavam divididas com aquela ala pouco mais branda.    A circunstância da morte do jornalista causou grande comoção na Nação.

         Herzog era jornalista e foi indicado para diretor da TV Cultura “pelo insuspeito secretário da cultura do estado de SP, o bibliófilo e abastado industrial José Mindlin.   (Herzog e Mindlin eram judeus).

         O crime mexeu com a comunidade judaica paulista.   Houve celebração ecumênica na Praça da Sé por Dom Paulo Evaristo Arns, pelo Rabino Henry Sobel e pelo Pastor Presbiteriano Jaime Wright.   Os militares dificultaram o acesso ao evento, mas mesmo assim teve ao redor de dez mil pessoas na Catedral da sé e entorno.

         Era tempo de governo do presidente general Ernesto Geisel que desaprovou esse exagero de assassinarem o jornalista.   Pegou mal para a ditadura militar.    Geisel deu uma ordem contundente, mantendo o governador como testemunha.   Que ninguém mais fosse preso por questões políticas sem antes ter o ciente de auxiliar do presidente ou do próprio presidente.

         Depois disso, contra a ordem de Geisel, os militares invadiram a indústria Metal Arte e de lá levaram o operário alagoano Manoel Fiel Filho, 49 anos, suspeito de ser comunista.   Ele foi pego distribuindo o jornal clandestino do PCB.  Jornal chamado Voz Operária.   Foi torturado e assassinado no DOI CODI.    Deu forte repercussão negativa para o governo.

         Os militares registraram que o operário se suicidou se enforcando com as próprias meias.     E testemunhas presas disseram que o operário foi preso calçando havaianas, portanto, sem meias.

         Após esse assassinato Geisel substituiu imediatamente o Comandante do II Exército (com sede em SP), sob cuja jurisdição estava o mais cruel aparato de repressão.    Depois disso não houve mais assassinatos de presos políticos na temporada.    Geisel passou a ser visto como um general brando na ditadura, porém  documentos dos arquivos da CIA (dos USA), acessados por pesquisador brasileiro em 2018 captou declaração de Geisel ao general Figueiredo no tempo da repressão.   “A política deve continuar, mas deve-se tomar muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados”.  (o documento é de 1974 e revelado em 2018)

         Essa revelação documental mudou a biografia de Geisel para bem pior.

 

                   Continua no capítulo 20/27

 

sábado, 7 de maio de 2022

CAP. 18/27 - Fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 Cap. 18/20

 

         Na época o governo e o patronato ficavam desacreditando os dados do DIEESE e o Banco Mundial fez uma pesquisa e a conclusão que os dados do governo eram marretados e os do DIESSE estavam corretos.    Nessa época o diretor técnico do Dieese era o economista Walter Barelli que dirigia uma equipe com vários outros economistas.    Descobriram examinando dados do governo federal que os dados oficiais eram distorcidos.     Era tempo em que os sindicatos lutavam ao menos para obter as reposições das perdas causadas pela inflação.

         Nessa época, incluindo parte dos anos 70, Lula comandava o sindicato dos metalúrgicos do ABC e o Joaquinzão do sindicato dos metalúrgicos de SP usavam estratégias diferentes.   Lula e sua entidade buscavam repor as perdas no embate direto na mesa de negociação com os patrões.   Joaquinzão usava a estratégia de entrar sempre na justiça e esta decidia o índice a ser aplicado.     Joaquinzão foi presidente do sindicato de SP por 21 anos.

         Os Cursilhos da Cristandade surgiram na Espanha nos anos 40.   Estavam bem presentes no Brasil dos anos 70 e Lula, viúvo recente, por breve tempo foi engajado por colega de diretoria do sindicato e fez cursilho.  Andava rezando com alguma frequência ou mesmo esboçando o cantarolar de algum hino em voz bem baixa vez por outra.

         O irmão dele, frei Chico, um dia chamou a atenção dele dizendo que via o risco de fanatismo.    Logo Lula se desiludiu do grupo de cursilho porque descobriu que os palestrantes e lideranças do mesmo pregavam uma coisa e andavam praticando coisas que não eram compatíveis com a fé cristã.

         Depois Lula passou por uma fase de namorador.   Chegou a ter quatro namoradas fixas ao mesmo tempo.    Conheceu dona Marisa, inspetora de alunos, aos 23 anos de idade, também viúva.  Ela era loira, descendente de italianos.   Marisa Letícia Rocco Casa.    Ela estava no quarto mês da gravidez quando perdeu o marido.     

         Paralelamente, Lula namorando com a enfermeira Mirian com quem acabou tendo uma filha, a Lurian, nome que contém parte dos nomes dos pais.      Mirian que numa campanha para presidente foi apresentada pelos opositores como alguém que na ocasião da gravidez dela, teria sido por ele estimulada a abortar, coisa que não era verdadeira.

         Lula se casou com Marisa e compraram uma casinha popular para morar.   Casa de 33 m2.

         Capítulo 12 – Em sua primeira viagem ao exterior, Lula deixa Toquio às pressas e volta ao Brasil:  seu irmão (frei Chico) estava sendo torturado no DOI-CODI.

         Por essa época, chapa para eleição do sindicato.  Vidal era já detentor de dois mandatos como presidente e Lula tinha sido suplente num mandato.  Vidal era metalúrgico em uma empresa de Mauá-SP e esta era fora da base do sindicato e teria problema para tentar nova presidência.   Lula passou a ser o candidato a presidente pelo desempenho mesmo sendo suplente até então.   Na base do sindicato, 100.000 metalúrgicos.   Posse de Lula e equipe com grande número de convidados, inclusive contando com a presença do Governador de SP, Paulo Egídio.   Ao redor de 10.000 convidados presentes.

         No discurso de posse, Lula ainda tímido, tremeu muito e outra pessoa segurou o microfone na fala dele.     Ele leu o discurso de posse, escrito por ele com antecedência.   Confirma que foi seu único discurso escrito.  Os demais, todos de improviso.

         O governador de SP, nomeado pelo General presidente, foi depois questionado por ir a um evento do operariado.    E o governador justificou:  Fui porque o Lula não é comunista e derrotou os comunistas na base dele.

         Lula presidia o sindicato mas Vidal, agora secretário, tentava ocupar o espaço destinado ao presidente.    Lula percebeu que os dirigentes sindicais costumavam ficar encastelados no escritório do sindicato e quase não visitavam os operários da base nas fábricas.   Buscou mudar isso e passou a frequentar os locais onde estavam os metalúrgicos.  Ouvir a base.

         Em 1975 Lula e mais dois sindicalistas foram ao Japão a convite da Toyota e da Nissan.   Aqui no Brasil a ditadura já tinha caçado literalmente os “subversivos” que enfrentavam o regime.

 

                   Continua no capítulo 19/20     (estendido para 27 capítulos devido à quantidade de informações contidas no trecho)

 

sexta-feira, 6 de maio de 2022

CAP. 17/20 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - Edição 2021

 

CAP.17/20

                  

         Lula era um entusiasta dos cursos profissionalizantes e ajudava a estimular os sindicalizados a estudarem.    O sindicato passou a  estimular cursos e palestras inclusive sobre formação política, noções básicas de economia e mesmo cursos supletivos para acelerar os estudos dos metalúrgicos.

         No começo Lula era mais articulador e negociador e não era forte em oratória.   Esta foi lapidada com o tempo.   Ele aos 23 de idade – “Eu era inibido que, quando citavam meu nome numa assembleia, eu já ficava vermelho”.

         Tudo andava correndo muito bem ao casal Lula.   O casal trabalhava e a gravidez dela transcorreu tranquila mesmo com ela trabalhando.   No parto, a esposa de Lula perdeu o bebê e ela também veio a falecer.

         Foi muito doloroso para ele essa verdadeira tragédia familiar.   Ficou à beira de uma depressão e voltou a morar na casa da mãe para reequilibrar emocionalmente a vida.

         Passado certo tempo, foi voltando às partidas de futebol, encontro com os amigos e a vida foi retornando ao eixo.   O time amador do qual fazia parte era o Nautico Capibaribe, um nome pernambucano.

         A viuvez acabou empurrando ele ainda mais para o dia a dia do sindicato.   Numa eleição sindical, pela participação ativa dele, se tornou candidato natural ao cargo de primeiro secretário, o cargo só abaixo do presidente.   Isso no curso de três anos.   Saiu de suplente e saltou para primeiro secretário.

         Ele no cargo efetivo no sindicato passou a ser liberado do emprego em tempo integral e dava expediente no sindicato representando sua base.

         Tinha dois bons advogados como assessores e um jornalista.   Como secretário, o cargo era como um prefeito na entidade e todos os processos passam pela sua mão.   Questões de demissão, acordos, questões previdenciárias e outras.

         Lula, inovando dentro do “novo sindicalismo”, começou a viajar pelo Brasil e tabular contatos com outros sindicatos.   A imprensa chamava essa nova postura de novo sindicalismo.

         Integrantes do PCB Partido Comunista Brasileiro (o Partidão) tocava o jornal Tribuna Metalúrgica com jornalista experiente.  Driblavam as amarras da ditadura e “colocaram trabalhadores cara a cara com os patrões”.  A cartunista Laerte ilustrava o citado jornal e o personagem “João Ferrador”, um boneco de boné e macacão.    Personagem criado por Felix Nunes e desenhado pela Laerte que então era um jovem de vinte anos, ligado ao PCB.  Bem mais adiante, Laerte assumiu nova identidade e é a Laerte que continua como destaque como cartunista até a atualidade.

         O bonequinho João Ferrador se tornou um símbolo das campanhas de mobilização dos metalúrgicos.

         Nos anos 70 o DIEESE, fundado por sindicalistas em 1955, já era bem estruturado.  Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos.    Tem equipe técnica especializada e levanta dados e produz índices vários sobre a economia e salários.     Fornece parâmetros para os sindicatos usarem como referência para as negociações.

         Consta que o PCB é o partido político mais antigo do Brasil.   No passado mais remoto, foi comandado por Luiz Carlos Prestes.

         “Lula não queria saber de conversa com o PCB nem com nenhuma outra organização clandestina”.  

         O foco de Lula era salário dos trabalhadores.   O foco dos sindicalistas  era manter ou melhorar o poder de compra dos operários.

         No passado, os índices de inflação e outros eram medidos só pelo governo.   Não eram dados confiáveis.    No começo do governo JK Juscelino (anos 50), os sindicatos se articularam e criaram em 1955 o DIEESE.   Buscavam ter dados confiáveis para medir perdas salariais e embasar suas reivindicações.

         No período da ditadura militar (1964/1985), os generais presidentes vinham tocando a economia sem maiores sobressaltos até que em 1973, ocorreu a Guerra do Yom Kippur entre Israel e árabes e os USA entraram em apoio a Israel.   Numa marcante ação de represália, os países árabes (grandes produtores e exportadores de petróleo) formaram um cartel chamado OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo.   Nessa, reduziram a produção e elevaram os preços em até 400%.    Abalou a economia do mundo em graus relativos à dependência do insumo em cada país.   Foi um baque enorme para o Brasil.

         Em 1973, no Brasil, a inflação pela alta do combustível medida pelo governo foi de 15,7% ao ano.   Já a inflação no mesmo período medida pelo DIEESE, foi de 37,8% ao ano.   Os sindicatos lutam para repor essas perdas pelo índice do DIEESE.

        

         Continua no capítulo 18/20

quinta-feira, 5 de maio de 2022

CAP. 16/20 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 16/20

 

         Imigrante nordestino em São Paulo era genericamente chamado de baiano naquela época.   O irmão de Lula, o frei Chico, entrou na Villares que não admitia irmãos na empresa porque ambos tinham o sobrenome diferente e não foi barrado.   Frei Chico desde 1964 já militava nas causas operárias e atuava em sindicato, sendo politizado.

         Chico convidava Lula para ir ao sindicato, ir às assembleias.   Lula dizia:   “- Não vou, ali só tem ladrão”.

         Sindicalistas eram tratados como terroristas e como tal, fora da lei e a imprensa passava essa ideia para a população.

         Página 235 – Frei Chico era super ligado a sindicato e os demais da família de Lula eram                                   contra sindicato.

         Na época, com boa dose de razão, pela forma que “vendiam” a ideia de sindicato, os sindicalistas eram associados à subversão, prisão e tortura.

         Lula tendo sido convidado pelo irmão para participar da diretoria do sindicato, consultou a noiva.   Esta conversou com o gerente da firma na qual trabalhava e veio com a opinião.   –“O gerente falou para você não se meter nisso.  O pessoal disse que ser diretor de sindicato, bicho, é virar comunista. Os caras vão te prender, você nunca mais vai ter emprego.   E se você encarar, não tem mais casamento ao menos no seu mandato.  Espero três anos do mandato.”

         Lula entrou na chapa como suplente.   A eleição do sindicato não foi notícia nem no jornal Diário do Grande ABC, o principal da região.   Era tempo do governo do General Costa e Silva e um ano antes foi decretado o AI 5 Ato Institucional número 5 que restringia todo tipo de reunião e aglomerados sob risco de prisão.

         Nesse tempo, 94 políticos já tinham sido cassados por não apoiarem a ditadura.  O STF tinha 16 ministros e a ditadura reduziu para 11 ministros.

         Desde 1964 a ditadura já havia decretado a intervenção em 483 sindicatos, 49 federações e 4 confederações sindicais.   Muitos líderes sindicais presos, exilados ou escondidos.

         Três semanas antes da eleição da chapa de Lula, o presidente Costa e Silva baixou mais um Ato Institucional determinando que os chamados “crimes contra a segurança nacional” não seriam mais julgados pelo STF, mas pela Justiça Militar.   Greves de longa duração entravam nos crimes previstos nesse novo Ato Institucional.

         Ao casar, Lula conseguiu de um amigo a carona em um carro Aero Willys, que era chique para a época, para levarem a noiva à igreja.

         A lua de mel foi em Poços de Caldas- MG.   Ele tinha 23 anos de idade.

         Eles começaram a vida a dois numa casinha que compraram financiada pelo BNH Banco Nacional de Habitação, casa de apenas 1 quarto.

         Capítulo 11 -  “Já sei, doutor, meu bebê nasceu morto.   – Seja forte, seu Luiz, porque a notícia é pior: a sua esposa Lourdes também faleceu”.

         Período duro para Lula que esteve à beira de uma depressão.

         Lula foi observando os colegas e se engajando cada vez mais na luta sindical.   O presidente do sindicato era Paulo Vital, um líder que não era de esquerda e nem pelego.  (pelego vem daquela pele de carneiro para colocar sobre o arreio do cavalo para o “patrão” sentar no macio).

         Conseguiram se desfiliar da central sindical dirigida por Argeu Egídio dos Santos, este, um pelegaço.  Era um que fazia o jogo dos patrões.

         O sindicato passou a negociar diretamente com as montadoras de automóveis e demais metalúrgicas da jurisdição.

         As CEBs Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Igreja Católica, davam uma mão para expandir as filiações ao sindicato.  CEBs nascidas no progressista encontro de Puebla no México em 1979, por ocasião do CELAM Conferência do Conselho Episcopal Latino Americano.   Teve inclusive a presença do Papa João Paulo II.    Nas gestões do sindicalista Vital, o número de metalúrgicos sindicalizados na sua base, passou de 20% para 50% dos metalúrgicos.   Aumentou o poder de pressão do sindicato.

 

 

Continua no capítulo 17/20

quarta-feira, 4 de maio de 2022

CAP. 15/20 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - ED. 2021

CAP. 15/20

 

         SENAI - Escola excelente, inclusive com refeições e lanches diários.   A escola também proporcionava práticas de esportes.    “Então era uma coisa grã-fina pra mim”.        ...”passou a ser motivo de orgulho por toda a vida”.

          Depois de alguns anos como torneiro mecânico, pediu aumento para o patrão e este negou.   Pediu a conta e foi para outra metalúrgica.   Metalúrgica Independência.   O dono era um polonês e esta fabricava segredo para cofres de bancos.   Nesse emprego que Lula se acidentou e perdeu um dedo.   Turno noturno, fazendo horas extras direto.  Entrava as sete da noite e saia  às seis da manhã.   Um dia num pequeno cochilo entre as duas e três horas da manhã, ocorreu o acidente no torno e ele perdeu o dedo mindinho esquerdo.

          Cirurgia, quinze dias de recuperação e volta ao trabalho.

         O 13º salário foi instituído no Brasil em 1962 em decorrência das lutas operárias no governo João Goulart.   Começou a ser pago a partir de 1965, quando de fato foi implantado.    Quando Lula e seus amigos receberam o primeiro décimo terceiro, tomaram um porre de vinho Sangue de Boi.   Comprou uma bicicleta usada com parte do 13º.

         Capítulo 10 do livro -  “A noiva dá um ultimato a Lula:  - Você tem que escolher: O sindicato ou o casamento.  Os dois, não dá!”.

         O golpe militar de 1964 e os empregos diminuíram.   Até o jovem Lula de então,  acreditava que houve em 1964 uma “Revolução Democrática”.  Nesse tempo ele tinha 19 anos.       (Lendo parte do livro sobre a tortura: Brasil: Nunca Mais, fiquei sabendo que a imprensa de então dourou a pílula de tal forma que até Dom Paulo chegou a rezar uma missa a pedido de fieis da igreja saudando o novo regime.  Depois viu a ditadura torturar, matar, cassar políticos e ele se tornou um dos mais ferrenhos defensores dos oprimidos do regime).

         A imprensa e autoridades vendiam que a dita revolução “democrática” ..... “que livraria o país do comunismo e da corrupção”.     (1964...)

         Foram 21 anos de ditadura militar.    Generais como presidentes, nada de voto.   Nem para governador havia eleição.   Eram indicados pelo regime.

         Lula naquele tempo e todos os seus colegas de trabalho sentiam orgulho dos militares estarem na tarefa de consertar o Brasil...

         Nessa fase Lula só abria o jornal O Diário da Noite para ler notícias sobre o futebol.   Já era corinthiano.

         Confiava por um lado nos militares, mas já tinha admiração por Leonel Brizzola e por Miguel Arraes que foram exilados pela ditadura.    Período de  desemprego geral na ditadura.   Lula fumava e nada de emprego.   Andava em busca de emprego até inchar os pés e nada.    Nessa fase de desemprego, ficou sabendo de vaga na Aços Villares, grande indústria em São Caetano do Sul – SP.   Após oito meses procurando emprego, deu certo na Villares.   Naquela fábrica eram quase mil metalúrgicos.  Outra fábrica da Villares ficava no bairro Cambuci em SP e fabricava os elevadores Atlas.   Lula trabalhou por 18 anos na Aços Villares.    Ficou assustado com o que se fabricava lá.   Escavadeiras, pontes rolantes, vagões de metrô para exportação e gigantescos motores à diesel para transatlânticos.    Indústrias da família  Dumont Villares, descendentes de Santos Dumont.

         Como a mãe de Lula administrava as finanças apertadas sempre.   Todos que tinham ganho na casa, traziam o ganho total para a mãe.   Ela distribuía nas contas a pagar, nas compras do necessário e distribuía o pouco que sobrava aos filhos segundo critério dela.   Ela nunca soube ler e escrever (como o pai dele), mas seu método funcionava. 

         Lula e seus irmãos não reclamavam da forma da mãe controlar as finanças da casa.   O sistema para ele não atrapalhava porque o lazer dele nada custava e era o costume de jogar futebol nas horas vagas.

         Era tímido nos bailinhos.   Um conhaque ajudava a criar coragem para tirar as moças para dançar.   Nos tempos dos namoros de Lula e sua geração,  chegaram os anticoncepcionais.   Antes disso, o tabu da virgindade delas e os rapazes apelavam para as prostitutas.  Com a pílula, isso mudou.

         Lula perdeu a virgindade na boca do lixo em São Paulo na Rua dos Andradas em SP.

         Paixão mesmo veio pela mineira Maria de Lourdes.   Esta e família migraram para São Paulo em 1952, mesmo ano que Lula e família.

         Eram vizinhos e o irmão da moça era amigão de Lula.   Ele noivou por dois anos com Maria de Lourdes e nesse tempo, virou sindicalista.

         Lula foi demitido da Villares dia 06-05-1981   (data exata que eu, leitor, iniciei carreira no Banco do Brasil, por coincidência).   Ele sendo dirigente sindical, por lei, não poderia ser demitido, mas foi.

        

         Continua no capítulo 16/20       (haverá, agora constato, mais de 20 capítulos...) 

terça-feira, 3 de maio de 2022

CAP. 14/20 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Escritor - Jornalista FERNANDO MORAIS - 2021

 capítulo 14/20

 

         O irmão dele chamado de frei Chico é pelo tipo da careca dele que ganhou o apelido.

         Lula praticamente não conviveu com os avós e ao contrário de muitos nordestinos de sua época, dois dos avós dele chegaram aos oitenta de idade.

         O pai de Lula era trabalhador, mas arranjou outra família quando dona Lindu estava grávida de Lula.   Ele pegou um pau de arara (caminhão com teto de lona na carroceria)   e partiu para São Paulo com a nova companheira, que era prima da esposa dele, uma moça de 16 anos, com quem veio a ter três filhos.

         Dona Lindu teve que lutar muito para criar os filhos.   O pai dele, depois de dar no pé com a outra companheira, ainda voltou para casa e teve mais um filho com a mãe de Lula.

         Dona Lindu ficou com o sítio de dez alqueires da família no Pernambuco.   Quando decidiu vir para o sul, vendeu o sítio (em moeda corrigida para 2021, por 18,6 mil reais).  Viagem de pau de arara (nos bancos de tábua na carroceria do caminhão coberta com lona) por 13 dias e 13 noites para chegar em Santos-SP.     Lula morou em Vicente de Carvalho-SP no litoral paulista.    O pai dele foi estivador no Porto de Santos.    Geralmente carregar e descarregar sacaria de café no porto.   Ele era vaidoso e ia e voltava do trabalho de terno e gravata.   Era analfabeto.  Para disfarçar, andava sempre com um pedaço de jornal debaixo do braço para impressionar os outros.

         Ele conseguia a proeza de carregar numa só vez 3 sacas de 60 kg de café, uma em cada ombro e uma na cabeça.    Era violento e ao menos era trabalhador e não deixava faltar alimentos aos filhos nas duas famílias.

         Regras ditatoriais dele aos filhos.  Filha não podia estudar, namorar, nem dançar.   Ninguém podia fumar.

         Na página 209 tem foto de Lula menino com quatro anos.

         Moraram em São Paulo, no Ipiranga, num cortiço no fundo de um bar com um só banheiro para os clientes do bar e para os moradores do cortiço.

         Lula nascido em 1945, passou todo o ano de 1959 (aos 14) com três peças de roupa:  as calças marrons, uma camisa branca e um calção como cueca.

         Estudava, trabalhava e nas poucas horas de folga, jogava futebol com os colegas operários.

         Ele era uma liderança no futebol pela redondeza e encarava as rixas e tretas do futebol.   Socos e pontapés não eram raros.

         Nos fins de semana, engraxava sapatos para reforçar o orçamento.   TV era coisa rara na juventude de Lula.   Ele só comprou uma TV nos anos 70, já casado.    Os sonhos de consumo mais simples: maçã argentina naquela embalagem de papel azul e os chicletes de bola Ping Pong.

         Aos 15 anos ele conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada no Armazém Colúmbia na função de office boy.   Entrou depois na metalúrgica Parafusos Marte.   Já registrado e ganhando salário como aprendiz de torneiro mecânico.

         O macacão de trabalho já dava a ele algum status na redondeza.   No intervalo de almoço no emprego, uma hora, comiam e depois batiam bola no pátio da empresa até a hora do retorno ao trabalho.

         Os aprendizes de destaque da empresa tinham a chance de uma vaga para curso na Escola do SENAI Serviço Nacional de Aprendizado Industrial.  No caso dele, havia três opções de curso e ele optou por Torneiro Mecânico. Curso de três anos em meio expediente e outro meio expediente era na fábrica onde trabalhava.   Dos três anos de SENAI, dois foram numa unidade bem perto de onde atualmente há o Instituto Lula.   O terceiro ano foi em outra unidade da mesma instituição.

         Quando Lula estava próximo de assumir a presidência da república, recorda dos tempos de SENAI.   “Foi o paraíso!  O SENAI foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.  Por quê?   Porque aí, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter uma profissão, o primeiro a ganhar mais que um salário mínimo, o primeiro a ter uma casa, o primeiro a ter carro, o primeiro a ter uma TV, o primeiro a ter uma geladeira”.

         Escola excelente, inclusive com refeições e lanches diários.   A escola também proporcionava práticas de esportes.    “Então era uma coisa grã-fina pra mim”.        ...”passou a ser motivo de orgulho por toda a vida”.

 

                   Continua no capítulo 15/20