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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CAP. 5/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora ZÉLIA GATTAI

 capítulo 5/20

 

         Candomblé

         Jorge quis visitar um Candomblé  em Cuba.    Na ocasião não havia.   Ele lamentou e lá sempre teve muitos leitores dele.  Mais adiante, em 1986 quando voltou a Cuba, havia o Candomblé por lá.

         Num dos eventos em Cuba, Jorge era presidente dos jurados de um festival latino-americano de cinema.   Um dia todo para juízes analisarem as obras e decidirem seus votos.   Comes e bebes no final dos trabalhos de julgamento.   Eis que chegam dois brasileiros, gaúchos, afobados dizendo que traziam um filme curta metragem para o evento e que uma série de contratempo fez com que chegassem atrasados.   Jorge ouviu os jurados e todos aceitaram incluir o filme no certame. 

         Só que tinha um problema.   O filme era em português e tem aquilo dos de língua espanhola não nos entenderem e nós temos mais facilidade de entender os de língua espanhola.     Diante do quase impasse, Zélia propôs uma solução:    Passa o filme e eu vou traduzindo.    Aceitaram, assim se fez e todo mundo entendeu o filme.  Resumo dos fatos:    O filme pegou o primeiro prêmio na sua modalidade de curta metragem.

          Nome do curta premiado:   “O dia que Daniel encarou a guarda”

         Copa do Mundo de 1962

         Numa das viagens a Cuba o casal se encontrou com Fidel Castro, mas Zélia resolveu deixar esta parte para um outro livro que virá.     Copa de 1962 no Chile.   Zélia e Jorge são apaixonados por futebol.    O casal em Cuba há apenas 3 anos da Revolução.    Tudo que passava na TV cubana, ainda no calor dos acontecimentos era política, política, cultura e nada de futebol.

         O casal ficou angustiado.    Amigos do casal vinham de Cuba para Lima no Peru e os convidaram para passar uns dias em Lima.   Zélia era curiosa para conhecer Lima, mas Jorge, movido pelo futebol, resolveu que voltariam para o Brasil, como de fato o fizeram.   Curtir a Copa de 1962 pela TV em casa.

         Doutor Mirabeau

         Estudou com Jorge na juventude e contava ao filho de Jorge sobre as traquinagens do pai dele quando eram estudantes.     Mirabeau estudou medicina para fazer o gosto do pai e não exercia a profissão.  Herdou lojas de calçados em Salvador e expandiu os negócios no setor, mas seu forte eram as artes plásticas.  Pintura a óleo sobre tela.

         Dona Norma

         Era da alta sociedade e socorria os pobres da favela.    Era então querida do povo da favela.

         Sobre hábitos da época em Salvador:    “Naquela época os bons restaurantes eram raros, em geral ninguém convidava ninguém para comer em restaurantes, convidavam para comer em sua casa, a mulher se desdobrava na cozinha”.

         Vamos levantar a casa?

         O projeto da casa do casal foi elaborado pelo jovem arquiteto Gilberbert.   Feito o projeto, Jorge convidou os amigos para palpitarem sobre o projeto.   Carybé destacou que a decoração dos azulejos seria por conta dele.

         Na ocasião a arquiteta Lina Bo Bardi  (a que projetou o MASP da Avenida Paulista em SP) estava em Salvador atuando sob contrato do governador do estado da Bahia.   Dirigia o Museu de Arte Moderna da BA.

         Ela também deu seus palpites no projeto.   Sugeriu inclusive usar caquinhos de azulejo no piso de algumas áreas externas do entorno da casa.

         Camafeu de Oxossi

         Jorge Amado era adepto do Candomblé e filho de Oxossi.   Uma destacada Mãe de Santo da época em Salvador era Mãe Senhora.

         Um dia veio o recado de Mãe Senhora ao casal:   “Está na hora de vocês fazerem o bori”.   (um rito do Candomblé).

         Jorge num dia na casa de Mãe Senhora e na despedida ela pergunta de amigos dele, conhecidos dela, Paulo e Simone.   Ela estava se referindo ao escritor francês Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir.    Estes que em visita a Jorge Amado, foram conhecer o Candomblé de Mãe Senhora.

 

         Continua no capítulo 6/20

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CAP. 4/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 4/20                leitura em dezembro de 2023

 

         Para reformar o pomar da casa, foram buscar mudas da faculdade de agronomia de Cruz das Almas-BA.   Nesse tempo o amigo pintor Carybé já tinha comprado uma chacrinha e nela tinha vários tipos de frutas em produção e contava vantagem por isso.

         As sauvas, logo que o casal plantou as mudas, pelaram as folhas das laranjeiras.   Tiveram que contratar uma pessoa que era prática em controlar saúvas.

         Na fase de formar o pomar e jardim, Jorge contratou um jardineiro e este providenciou a compra de esterco.   Na verdade despejaram na casa uma verdadeira carga de lixo mal cheiroso e que juntava mosca de todo lado.   Tiveram que mandar embora o lixo e o jardineiro.

         Pouco tempo passado, veio uma intimação da Justiça do Trabalho, convocando Jorge para depor.   Ele ficou babando de raiva.  Não se conformava.   Pagou tudo, não recebeu a contrapartida em serviço e ainda essa reclamação na justiça.

         Logo depois do recebimento da intimação, Carybé chamou Zélia de lado e disse que foi um trote dele com uns amigos para assustar Jorge.   Intimação com papel timbrado da Justiça e tudo...

         Zélia contou pra ele que fingiu junto aos amigos não saber de nada e já tinha feito contato com um advogado amigo, antes de saber que era trote.

Desmarcou com o advogado e se fez de não saber de nada junto aos amigos.  Estes entraram em pânico pelo tamanho da brincadeira e envolver a justiça.

         A Revanche de Jorge

         Jorge forjou um anúncio no jornal em nome da escola de Inglês da amiga que participou do blefe contra ele.    No anúncio, oferta de um punhado de bolsas de estudo nos USA por conta da escola.   No dia marcado, uma multidão de gente lá na porta esperando a vez.    A dona da escola acabou tendo que de fato (ela era americana casada com brasileiro), oferecer umas bolsas nos USA.    Tudo por conta da revanche do amigo Jorge.

         E teve que ela pagar a conta do anúncio caro que chegou na escola.

         Viagem a Cuba

         A convite do poeta cubano Nicolás Guillén, o casal foi visitar Cuba poucos anos após a Revolução que foi em 1959.  Foram lá no começo dos anos 60.   O poeta, antes da revolução, era ferrenha oposição ao regime do ditador Fulgêncio Batista.   Foi exilado no tempo do ditador e viveu pela Europa e lá conheceu o casal, também exilado, Jorge e Zélia.     Zélia cita outros países que visitou no tempo do exílio: China, Mongolia, URSS, Tchecoslováquia, França.

         Em Cuba visitaram em Havana inclusive o Cabaré Tropicana que na ditadura antes da Revolução era o paraíso dos turistas americanos que vinham veranear nas praias e cassino de Havana.

         O casal Jorge Amado e Zélia estavam na viagem acompanhados dos compadres Carybé e esposa.  Visitaram vários lugares na capital e interior de Cuba.

         “Passamos duas semanas visitando o que nos mostraram e o que quisemos ver”.   Conversavam com o povo para sentir as mudanças no novo regime pós Revolução Cubana de 1959.

         O povo simples enfrentando um desafio de mudança cultural.    Citou o exemplo dos pescadores que antes viviam em barracos precários, sem água nem banheiro.    Agora, o governo fez colonias de casas em alvenaria com água encanada e esgoto.    Através de assistentes sociais, em visitas periódicas, buscavam que os moradores cuidassem da limpeza do local inclusive por conta da saúde pública.      Alguns moradores reclamavam meio incomodados...   “Não necessito de tanto luxo, prefiro viver em paz”.

         Visitaram a histórica Baia dos Porcos.    Onde há apenas um ano atrás, cubanos dissidentes da revolução, treinados pela CIA americana na Guatemala, partiram em barcos da Nicarágua, buscando invadir Cuba e derrubar o regime do novo governo.    Os golpistas foram derrotados em dois dias de combate.    Houve alguns mortos de ambos os lados e resultou em 1.200 presos por tentativa de golpe.

         Visitaram em Havana o túmulo dos Mártires da Pátria, tombados no combate de Baia dos Porcos.   “Jorge tem horror a cemitérios.   Evita sempre ir a enterros, mas não pode dizer que não ia lá e fomos”.

         No cemitério o guia não deixou por menos.  Mostrou o mausoléu dos Mártires, mas não deixou de mostrar o túmulo com a estátua de bronze  do fundador da fábrica de Rum Bacardi.   Uma estátua de corpo inteiro, tamanho natural do fundador com óculos e tudo.

         Abaixo o analfabetismo!

         Cuba antes da revolução era muito pobre e havia muitos analfabetos.  A revolução incluiu uma campanha forte de alfabetização e todos se empenharam nela.   A meta era que cada alfabetizado buscasse alfabetizar ao menos uma pessoa.  

         Até o jovem neto do ministro do governo de Cuba, anfitrião de Jorge, estava no interior do país em tempo integral no esforço de alfabetizar o povo.

         O jovem, para isso, deixou temporariamente os próprios estudos para retomar mais tarde, após a campanha de alfabetização.

         O genro do ministro era médico e deixou sua clínica na cidade e foi para o interior atender a população carente no esforço de reconstrução da Nação.

         Se hospedaram, os visitantes, no prédio alto onde morava o ministro e ficaram sabendo que lá havia centenas de estudantes que o governo da revolução selecionou pelo perfil para fazerem estudos superiores para servirem a Pátria.    Em geral eram jovens da zona rural, cortadores de cana.  Agora estudando com tudo patrocinado pelo governo para dar um novo rumo ao país.

        

         Continua no capítulo 5/20

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CAP. 3/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 3/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Cadê a Casa?

         Há em Salvador, na Pituba, um local onde havia uma casa que o casal foi ver para comprar mas na hora a dona desistiu de vender.   Muito tempo depois a casa foi demolida e hoje é o Teatro Jorge Amado.

         Uma das casas que foram ver tinha paredes precárias e manchas de percevejos macetados.  Aqueles da doença de Chagas.   “Eu as reconheci, eram iguais às manchas que víramos nos campos de concentração na Alemanha, Tchecoslováquia e Polônia.”

         Morando em Salvador, foram algumas vezes de carro ao Rio mas era viagem muito cansativa.   “Passaram a ir de avião com as crianças para o conforto de todos, menos de Jorge que ficava tenso nas viagens de avião”.

         Jorge Amado com seu livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ganhou na França um prêmio a ser recebido no castelo do Mont-Saint-Michel, considerado a oitava maravilha do mundo.    No voo doméstico lá na França, Jorge ficou intrigado.    Era voo num pequeno avião turbo-hélice bimotor para doze passageiros.   Zélia curiosa para ver Paris durante o voo. Só que sobrou para eles os bancos na direção da asa e esta impedia ver a cidade.

         Ela leu que os motores do avião eram da marca Rolls Royce e logo avisou Jorge.  Ela que era filha de mecânico em São Paulo.    Ele perguntou o que é isso?   Ela esclareceu.    A marca é da melhor fabricante de motores do mundo.

         Logo em seguida, deu pane num motor e foram avisados que haveria um pouso de emergência.    Ela segurou firme na mão de Jorge.   “Se era para morrer, ao menos morrer de mãos dadas”.

         Acabaram fazendo um pouso sem maiores complicações.    Mesmo depois disso, Zélia continua preferindo para longas distâncias, ir de avião.  Jorge reclama:  “Você é uma irresponsável”.

         Jorge veste fardão

         Antes de encontrarem a casa em Salvador, morre o imortal da ABL Academia Brasileira de Letras (sede na então capital federal Rio de Janeiro), Otávio Mangabeira, da cadeira 23.   Jorge concorre à vaga.  O patrono da cadeira 23 é José de Alencar e o fundador, Machado de Assis.

         Dia 06-04-1961 Jorge foi eleito para a ABL.    No dia da posse, o desconforto de Jorge que sempre foi de usar roupas leves, folgadas e sandálias nos pés.

         Os fardões são pesados, desconfortáveis e inclusive com bordados a fios de ouro.

         O pai de Jorge Amado, que insistia para o casal não se mudar para Salvador viu nisso mais um argumento para tentar tirar da cabeça deles a mudança.     “Afinal, nem ABL tem lá em Salvador... dizia”.

         ... Nesse mesmo ano, dia 10 de agosto, Jorge completou 49 anos.  Fez um festão para os amigos do Rio antes de voltarem para Salvador.

         Enfim compraram a Casa do Rio Vermelho, que foi de um pianista suíço contratado por uns tempos pela Universidade Federal da Bahia.   Venceu o contrato com a universidade e os suíços decidiram voltar para a terra deles.    Eles sentiram ter que deixar Salvador e a casa.  

         Zélia diz que não era a casa do sonho deles e precisou de reforma pesada, mas a vista do local agradou muito.  Lugar alto e vista para o mar.

         Outro atrativo foi o casal saber que a casa tinha inclusive o nome de Sonata batizado pelos donos que eram músicos.

         Procissão de Iemanjá.

         Dia dois de fevereiro, dia da Rainha do Mar, Iemanjá.  Ritos e procissão de barcos.   Os adeptos trazem até a praia as oferendas para agradar Iemanjá  (flores, pentes, espelhos etc).    São colocados em cestos que depois são transportados ao mar pela procissão de barcos e lá ofertados.   Há tradição de que o que afunda, agradou Iemanjá e o que boia, ela não aceitou.

         O casal costumava acompanhar a festa muitas vezes vendo tudo de casa, mas em certas festas, desciam até a praia para participar diretamente.

 

Continua no capítulo 4/20

sábado, 16 de dezembro de 2023

CAP. 2/20 - fichamento do livro de Memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 2/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Férias na casa dos amigos de Recife que foram colegas de turma do curso de Direito de Jorge no Rio de Janeiro.   Colegas de curso e da militância na política estudantil.

         “Jorge não aderia às pescarias, nem às grandes caminhadas.   Seu divertimento era outro: preferia descansar, deitado na rede do terraço, ouvindo histórias dos empregados da casa e de pescadores que apareciam por lá na hora da preguiça”.

         Entre os velhos amigos de prosa, aposentados e “operados” não faziam nem serviços leves.   “Tranquilos, os pais da indolência, cansavam-se só de ver os outros trabalhar.”

         Essas prosas inspiravam o romancista Jorge Amado.   Em Salvador recebiam visitas frequentes, famílias inteiras chegando de carro.   A casa tinha espaço para todo mundo.

         Nesses encontros, os homens jogavam pôquer e as mulheres, canastra.   Zélia gostava de pescar no mar.   Um dia ela, pescando embarcada, “pescou” a âncora do barco e lutou com ela pensando que era um peixe enorme.

         Ao fim da pescaria, ao levantarem a âncora, viram lá o anzol enroscado.   Decepção.

         Um dia ela pescou uma arraia de uns dez quilos, o que foi o maior peixe que ela pescou.

         Antes de mudarem do Rio, os pais de Jorge contrariados por eles optarem por ir morar na Bahia.   Diziam ao casal que iriam deixar a cidade grande para ir morar no mato.

         Para Zélia, foi um certo sacrifício ir morar em Salvador.   Valia a pena por conta do lugar ser mais seguro para o casal de filhos.   Lá Jorge se sentia mais em casa, tendo nascido no sul da Bahia.     Zélia, paulistana, filha de italianos, se sentia meio peixe fora d´água em Salvador no começo.

         Quando se mudaram para Salvador o casal já estava junto há dez anos.

         A reação dos sogros para tentar tirar da cabeça do casal a ideia de morar em Salvador.   A sogra:  “Seus filhos lá em Salvador vão virar dois tabaréus”   (Recruta mal exercitado. 2 Pessoa tímida. 3 V caipira , acepção 2. 4 obsoleto, Oficial desleixado e incompetente)

         A sogra, dona Eulália, dona Lalu, enfrentou no passado no sul da Bahia tempos e lugares violentos, confrontos a bala, gente da família atingida.    O marido dela era Capitão.

         Ela dizia que lá em Salvador e região era o cú do mundo.

         Os pais de Jorge Amado tinham fazenda de cacau em Pirangi BA no sul do estado.   Moravam no Rio de Janeiro na época.

         Zélia diz:  “Vivo me gabando de ser otimista.   Acho apenas que tive sorte de ter nascido otimista, não me apoquento com pouca coisa...”

         Achou que ia ser fácil encontrar uma boa casa para comprar em Salvador.   Não foi fácil.

         Zélia sempre no volante e Jorge não dirigia e ainda palpitava.   Reclamava quando ela deixava os outros ficarem ultrapassando.  “Ora, minha filha!  Você parece que gosta de comer poeira, todo mundo passa em sua frente!”

         O carro deles tinha o apelido de Sapão (um Citroen de faróis saltados)

E  era um carro raro na região.   Nas viagens na rota Rio-Salvador, nas paradas, juntava gente em volta do carro por curiosidade.   Em Milagres MG, um cego de cuia na mão pedindo esmola,  óculos escuros, ao “ver” o carro se aproximou admirado.   “Eta bichão porreta!   Igual este eu nunca vi”.   O carro fez esse milagre.

         Salvador a vista

         O artista plástico Carybé, amigo do casal, também é adepto do Candomblé e mora em Salvador.    Ao chegarem a Salvador logo mais, passaram na casa do Carybé.   Ele admirado, pôs o apelido no carro de Mané Pato e o apelido pegou em definitivo.

         Uma bela noite, o carro do casal  passou por cima de um bueiro destampado e o motor do carro bateu no chão com força e lá se foi o óleo e tudo o mais.   Em Salvador não havia peça para consertar o Citroen importado.   Colocaram o carro num caminhão e mandaram para o Rio e nem lá houve conserto.  A contragosto, teve que ir para o ferro velho.  

 

         Continua no capítulo 3/20

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Cap. 1/20 - fichamento do livro - A CASA DO RIO VERMELHO (Memórias) - Autora: ZÉLIA GATTAI

 

Fichamento do livro – A CASA DO RIO VERMELHO                            DEZEMBRO DE 2023

 

         Autora:  Zélia Gattai – Editora Companhia das Letras – 2022 – 326 páginas.   1ª reimpressão

 

         Neste ano de 2023 eu e minha esposa fomos conhecer Salvador.  Antes visitamos várias regiões litorâneas do Nordeste, inclusive a região de Porto Seguro no sul da Bahia.

         Não faz tempo que nossa filha Francieli esteve em Salvador como turista e ela recomendou nosso passeio e indicou inclusive o guia que atendeu ela quando esteve lá.   Ter um guia com referência sempre dá mais segurança numa viagem desse tipo.   A experiência foi ótima, inclusive muitas dicas que a filha nos repassou sobre os lugares turísticos.

         Um dos locais que visitamos foi a Casa do Rio Vermelho, onde moraram Zelia Gattai e Jorge Amado, ela paulistana, filha de italianos e ele baiano da região cacaueira do sul do estado.

         Moraram antes por um bom tempo no Rio de Janeiro, onde no passado Jorge Amado estudou Direito, como queria seu pai Coronel e fazendeiro do cacau no sul da Bahia.

         Passados uns tempos, o casal de filhos de Jorge e Zélia crescendo e eles optaram por morar em Salvador por acharem que seria um lugar mais tranquilo e mais seguro para os filhos.  O filho já estava com 13 anos e a filha, um pouco mais nova.  Zélia inclusive queria uma casa com vista para o mar e que tivesse um quintal grande para ela plantar flores.

         A casa que foi do casal hoje é um Centro Cultural com acervo deles e acessíveis ao público que visita o local.  Muitos e muitos turistas.

         Nos anos 90 até o escritor português José Saramago visitou e foi hospedado pelo casal.   Há foto deles exposta na casa.

         Moraram na Casa do Rio Vermelho a partir do ano de 1963.   Zélia nasceu em 1916 e faleceu em 2008.

         Ela alerta neste livro que é de Memórias.

         O cara de sapo

         O carro usado que foram ver para comprar.   Um Citroen preto, faróis saltados.   Parecia um sapo de olhos grandes.   “Cara de Sapo”. Ficou como apelido.

         Jorge não dirigia automóvel.   Escala Zélia para assumir o volante.  O carro que compraram tinha um tipo de suspensão sofisticado movido a pressão de óleo.    Acionado, a pressão do óleo aumentava a altura do carro e trazia como vantagem evitar risco de encalhar ou bater em pedras em estradas não pavimentadas.   

         Zélia era filha de um mecânico de automóveis e conhecia as principais peças de automóveis, diferente de Jorge que não se interessava por esse tipo de coisa.

         “E se esse óleo específico acaba numa viagem longa, onde vamos encontrar para repor?”   Ela pergunta ao vendedor do carro.

         Uns 20 litros de óleo fino específico.   O vendedor disse que poderia ser substituído por óleo de rícino (de mamona) sem problema.

         O casal iria logo do Rio a Salvador com o Cara de Sapo.

         Nos anos 60 quando optaram por morar em Salvador, a cidade não tinha 500.000 habitantes.  Era uma cidade pacata.

         A cidade era também um sonho de Jorge Amado, natural do sul da Bahia.     Na juventude, em 1930, Jorge foi enviado para o Rio de Janeiro para ser Doutor, estudar Direito, como filho mais velho do pai Coronel e fazendeiro de cacau.    De fato Jorge se tornou bacharel em Direito e desde cedo sonhava em escrever um romance.

         No tempo de colégio Jorge fez uma redação e o padre professor Cabral ao ler a mesma afirmou:  “o autor desta redação será um dia um grande escritor”.   Jorge quando garoto era um menino peralta.

         Aos 14 de idade, Jorge já escrevia para jornais e revistas.

         A volta

         Se formou em Direito, escreveu muitos livros, foi deputado comunista, foi perseguido, preso político e foi exilado.

         Ilhéus no sul da Bahia, região costeira e produtora de cacau.    Jorge vendeu os direitos do romance Gabriela Cravo e Canela para uma empresa americana (a Metro), uma empresa “capitalista” como ele afirmava.

         Os recursos da venda do livro foram empregados na compra da casa para o casal.

         Continua no capítulo 2/20

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

CAP. 8/8 (final) - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora: CLARICE LISPECTOR

 capítulo 8/8 (final)                    Leitura em dezembro de 2023

 

         Capítulo – A víbora

         ...à noite, na casa.       ...”tinha consciência do resto da casa que se perdia na escuridão, os objetos sérios e vagos flutuando pelos cantos.”

         Na casa com Otávio, divagando...

         “Largassem-na no deserto...  Tomar uma trouxa de roupas, ir embora devagar.  Não fugir, mas ir.  Isso, tão doce:  não fugir, mas ir...”

         Joana diz para Otávio que quer ter um filho dele.   Ele acha estranho isso porque percebe que o relacionamento deles está na reta final.

         - “Só terminará quando eu tiver um filho, repetiu ela, obstinada.”

         Ela diz...   ... depois de um filho nada nos restará senão a separação...

         - “E o filho? – indagou ele.  Qual será o papel do pobre em todo este sábio arranjo?

         - Oh, ele viverá – respondeu.       ... ela ... cheia de piedade   ... apertou os lábios, confusa – um amor cheio de lágrimas.”

         - “Você bem sabe que não se trata disso.   Oh, Otávio... Murmurou depois de um instante, as chamas subitamente reavivadas – que nos acontece afinal, o que nos acontece?

         A voz de Otávio era áspera e rápida quando respondeu:   - Você sempre me deixou só.

         ... – “Não  .. assustou-se ela.   -É que tudo que eu tenho não se pode dar.  Nem tomar.   Eu mesma posso morrer de sede diante de mim.   A solidão está misturada à minha essência”...

         ... seguiu o diálogo todo truncado...

         “subitamente compreendeu que Joana iria embora.”  “Sim, ele continuaria.  Havia Lídia, o filho, ele mesmo”.

         ...” A indefinível sensação de perda quando Joana o deixasse.”

         Ele em pensamento:  “Minha, minha, não partas!” – implorou do fundo do seu ser”.

         “Mas ele não pronunciaria tais palavras porque desejava que ela partisse, não saberia o que fazer de Joana se ela ficasse”.

         - Quer mesmo um filho? – perguntou ele porque, medroso da solidão em que avançara, quis subitamente ligar-se à vida, apoiar-se em Joana até para poder em Lídia, como quem quer atravessar um abismo agarra-se às pedras pequenas até galgar a maior”.

         - Nós não saberíamos como faze-lo viver... veio a voz de Joana.

         Otávio, transtornado, ferve os nervos:  - Foi tua tia quem te chamou de víbora.  Víbora, sim!  Víbora! Víbora! Víbora!

         Depois ele se acalmando.   “Os dois mergulharam em silêncio solitário e calmo”.

         Capítulo  -  A partida dos homens

         Joana após a partida de Otávio.    “Tomou consciência da solidão em que se achava no centro de uma casa vazia”.

         Otávio estava com Lídia, grávida...

         ... Haveria de reunir-se a si mesma um dia, sem as palavras duras e solitárias.

         Capítulo – A viagem

         Aceitou sua parte na herança.   Viajando de navio.   Joana sempre em suas elocubrações...

         “Deus meu, eu vos espero, deus, vinde a mim, deus brotai no meu peito, eu não sou nada...”    ... não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas”...    “esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada...”

         “Porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte – sem – medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo”.                             FIM

 

         No Postfacio do livro há o comentário de Nádia Battella Golflib

         Ela discorre sobre a autora e esta obra e no contexto coloca um perfil:

         “Joana é uma personagem intensa e pautada pela complexidade.   Múltipla.  Quer e não quer.  Pode tudo.  Mas não pode.  Segue.  Mas não chega.  Deseja.  Mas não deseja mais.  Não seria esse o próprio risco do intrincado bordado da vida, com avanços e recuos?”

capítulo 7/8 - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora - CLARICE LISPECTOR

 leitura em dezembro de 2023       ( o livro foi publicado originalmente em 1943)

Alguma coisa estava dita.    Depois da divagação de Joana, ela disse a Lídia:   - Eu também posso ter um filho, disse alto.   A voz soou bela e límpida.   Eu terei um filho e depois lhe devolverei Otávio.”

         - Mas isso é monstruoso!  Gritara Lídia.

         - Mas por quê?  É monstruoso ter duas mulheres?   Você bem sabe que não.

         ... Joana continuou na hipótese de ter um filho.    “Mas depois, quando eu lhe der leite com estes meus seios frágeis e bonitos, meu filho crescerá de minha força e me esmagará com sua vida.   Ele se distanciará de mim e eu serei a velha mãe inútil.   Não me sentirei burlada.”

         Capítulo -    O homem

         Saindo da casa de Lídia:   “Quando fechou o portãozinho, afastou-se de Lídia, de Otávio, e, de novo sozinha em si mesma, caminhava”.

         ...Mas não era a morte o que ela queria.  Tinha medo também.     ...Agora ela se separara do passado”.

         “Continuou a andar.  Não sentia mais o calor da febre que a conversa com Lídia provocara.”

         ...”às vezes seus passos erravam na direção, pesavam-lhe, as pernas mal se moviam.   Mas ela se empurrava, guardava-se para cair mais longe.”

         Vagando a ermo na noite, Joana vê um homem.   Ele que ela teria visto outras vezes.   Ela para e fica ali.  Ele se aproxima.   “Mas nenhum dos dois descobria no outro o começo de alguma palavra.”

         Capítulo -   O abrigo no homem

         No dia do encontro, pouco ou quase nada conversaram.   Joana o acompanhou até a casa dele que era perto de onde eles estavam.   Ela ficou lá poucas horas e se foi.   Prometeu voltar.   Um dia, ela voltou.

         “Quando a porta se abriu para Joana ele deixou de existir.   Escorregara mais fundo dentro de si...

         Joana ia à casa, se relacionava com o estranho e na casa tinha outra mulher.   Aquela mulher espera que eu vá embora (pensa Joana) um dia finalmente.

         ...”Tristeza de domingo no cais do porto, os  marinheiros emprestados à terra.   Essa tristeza leve é a constatação do viver”.

         Os dois apaixonados e perto do mar.   “Ele escondeu o rosto naquele ombro e ela ficou sentindo sua respiração percorre-la de ida e volta, de ida e volta.”     ...Lá fora o mundo se escoava...

         ...   O marinheiro e a relação com Joana.   Algum dia tenderia a ir embora.    “Mas uma vingança:  ele não se libertaria inteiramente.”   ... ele terminaria por odiá-la, como se ele exigisse dela alguma coisa.”

         ...Como terminaria a história de Joana?       ...”Sim, terminar assim: apesar de ser das criaturas soltas e sozinhas no mundo, ninguém jamais pensou em dar alguma coisa a Joana”.

         ...”Otávio também era bonito, olhos.   Esse era uma criança uma ameba flores brancura mornidão como o sono...”

 

         Continua no capítulo 8/8 (final)