Anotações pelo leitor Eng. Agrônomo Orlando Lisboa de
Almeida
Autor do livro – Jeferson Tenório – Editora Cia das Letras – 2ª reimpressão – ano 2020 – 190 páginas
O autor é nascido no RJ e radicado em Porto Alegre. Tem doutorado em Teoria Literária.
Na introdução tem uma apresentação de Paulo Scott na orelha
do livro.
“Jeferson Tenório se coloca como autor que nos ajuda a
compreender nossa identidade brasileira, humana”.
A Pele - sobre o pai “Eu queria um tipo de presença, ainda que
dolorida e triste. E apesar de tudo, nesta
casa, neste apartamento, você será sempre um corpo que não vai parar de morrer”.
“Até o fim você acreditou que os livros poderiam fazer algo
pelas pessoas”. ...”Em silêncio,
esses objetos me completam sobre você”.
O autor se refere a objetos da Umbanda que a família
pratica. Alguidar (vaso de barro que pode ser de uso doméstico
ou de ritual da Umbanda). O pai era
filho de Ogum.
Fala da tia Luara.
... O pai era professor e o narrador,
após o pai falecer, está entrando em contato com objetos do cotidiano do pai. Provas de alunos, canetas, redações,
cadernos...”
“Teu caos me comove. Olho para tudo isso e percebo que serão esses
objetos que vão me ajudar a narrar o que você era antes de partir. Os mesmos utensílios que te derrotaram e que
agora me contam sobre você”.
Capítulo 2
O pai professor e um dia um aluno pediu para sair porque
estava passando mal. Acabou vomitando
sobre o professor.
O pai quando criança já sentia ansiedade. Aos 12 anos a ansiedade já era forte ... “sofreu
antecipado por todos que viessem a viver na Terra.
No caso do vômito, o pai dele, professor em escola pública
de Porto Alegre, tinha trinta anos de idade.
O pai aos 18 anos, tinha úlcera no estômago e não foi aceito
no Exército. Assim, com essa idade, já
com úlcera, sem plano de saúde nem dinheiro para se tratar.
O pai, virgem aos 18, magricela, jurando bandeira. O militar grita para todos erguerem mais o
braço, “porra!”. “Senão vai pra cela
por um dia”.
O pai se lembra que um dia, ainda aos quatorze anos, já foi
abordado pela polícia sem ter cometido nada errado. Abordado por ser preto.
O pai dele tinha padrasto quando tinha quatorze anos, idade
na qual foi algemado no Rio de Janeiro, quando ia indo visitar o pai.
Ao descer do ônibus, foi confundido por um grande número de moleques que acharam que ele tinha roubado
o boné de um deles.
Agrediram ele ao máximo e depois ele foi algemado. Nessa situação, descobriram que ele não era
o ladrão.
...”E ser confundido com bandido vai fazer parte de sua
trajetória”.
... “Você precisa ser honesto consigo mesmo: você não sabe como se formou professor”.
Vestibular aos 19 e emprego num escritório de advocacia em
Porto Alegre.
Bruno, o advogado que o contratou: “Bruno disse com todas as
letras que não gostava de negros”.
Foi para o protagonista a primeira impressão racista direta.
Bruno alegou que dando o emprego iria salvar o rapaz das
drogas, das armas e da violência”.
Os pais dele se conheceram como colegas de trabalho num
supermercado no RJ. O pai dizia que na
juventude ele com bigode se parecia com o bigode do jogador Rivelino.
“Ele era um homem de poucas palavras e sua mãe gostava de
homens de poucas palavras”. Antes de
casar, o pai vai à casa de Mãe Tereza de Iemanjá se aconselhar e receber a
benção.
Continua no capítulo 2
O livro em geral trata da trajetória de um professor negro
nascido no RJ e que viveu a juventude em Porto Alegre. O fio da meada mostra as agruras de viver
desde sempre enfrentando desde criança o preconceito racial.
O livro tem sido objeto de frequentes discussões nas redes sociais.
Quando o narrador era criança, o pai saiu
de casa e abandonou a família. Um dia
o terapeuta falou para o pai da criança:
É cruel abandonar alguém.
Falando do pai.... “Você
se sentia um fracassado por não conseguir mais amar minha mãe”. ...”minha mãe também estava arrependida por
ter depositado sonhos e planos em você”.
“Ela também se sentia culpada.”
A mãe estudou letras mas não quis dar aulas.
O pai do narrador morreu no Rio de Janeiro aos 75 anos e
então já tinha uma segunda família.
“Você tinha um ano de idade quando seu pai sumiu no
mundo”. “Anos a fio, suportou a pobreza,
o racismo e a ausência paterna foi uma espécie de sinônimo da vida”.
Tempo de criança.
...”evitar chorar. Vai chorar
para dentro”.
O casal jovem com dificuldades de relacionamento e a mãe
dele recomenda terapia de casal para eles.
Indicou a Jane que era a terapeuta da mãe.
O jovem casal andando pela cidade e entra num bar. Encontram no bar a terapeuta de casais,
Jane, bêbada e arrumando treta.
Frustração do casal.
O protagonista quando garoto, com problemas na escola. Acharam que ele era magro, passava fome.
“Pessoas brancas nunca pensam que um menino negro e pobre
possa ter outros problemas além da fome
e das drogas”.
Terapeutas brancos tentando orienta-los. ... o
casal percebe que parte dos problemas deles era por serem negros e sofrerem com
o racismo.
Henrique pensava... “e
ninguém nunca te diz que você pode fracassar.
Que está tudo bem se você cometer um erro. O mundo seguirá. Nada demais vai acontecer”.
No passado a mãe de Henrique, vendo que ele era um menino
quieto, achava que ele era autista. Até
ele achava que isso poderia ser de fato.
Depois da mãe dele desconfiar, ele também... “a partir daquele momento você sempre achou
que fosse autista, mesmo sem saber bem o que isso significava.”
Dentre as cobranças que ouvia sobre os negros... “Nunca
saia sem documentos”. “Não ande com
quem não presta”. Não seja um
vagabundo, tenha sempre um emprego....
.... ao longo do tempo ....”um
manual de sobrevivência...”.
O casal no taxi, ambos sem achar o que conversar depois da
sessão com os analistas. “Nada do que
vinha à cabeça era bom para ser dito”.
(ele achava).
... O protagonista aos doze anos, morando com a
mãe e os irmãos na casa da avó em Porto Alegre.
Vida de pobre. Mãe desempregada,
ambiente hostil.
O tio, polícia civil, traia a esposa e ela um dia descobriu
e fez barraco. Pegou faca para matar
ele, que sacou a arma e deu um tiro no chão para assustá-la. O protagonista ficou paralisado diante da
cena.
Continua no capítulo 2/4