capítulo 10/10
O Inspetor Óscar Campos escreve ao prisioneiro Adriano Santiago
Ano de 1973
Sobre espionagem e agente
infiltrada. Almalinda era uma espiã
disfarçada de prostituta. “No calor dos
prostíbulos as mulheres ganham a confiança dos nossos inimigos”.
Arrancar confissão – despir a roupa do
que vai ser interrogado. O policial
diz: “a roupa atrapalha a
sinceridade”...
Carta da avó Laura ao Inspetor Campos –
1973
“Quando um regime começa a prender os
poetas é porque esse regime está perdido”.
Uma senhora sobre as estratégias das
mulheres de sua época:
“Os senhores (policiais) não aprenderam
com as mulheres da minha geração. Era
o que fazíamos no casamento. Trazíamos
o lobo para dentro de casa, que era onde ele se convertia num cachorro manso”.
Capítulo 21 – Naufragadas Nuvens - Inhaminga, março de 2019
O povo local ver os brancos nas
piscinas e não poder entrar. ...”e
que deveríamos dar graças a Deus por poder ver a alegria dos outros”.
O marido de Maniara é contratado como
guarda do cemitério. Logo lhe passaram
uma pá para ele abrir covas. Ele
argumentou que era guarda e não coveiro.
O chefe retrucou: “És guarda de
noite... de dia vais abrir covas que é um trabalho em que os pretos são bons
porque mal nascem já vão abrindo a própria sepultura”.
Por lá eles consomem muito “peixe
seco”. (como leitor já ouvi que muitos
povos africanos tem o hábito de consumir peixe seco e procuram a mercadoria
mesmo em países distantes para os quais migram, como nos USA).
Cubata é o nome que dão às choças que
servem de moradia nas aldeias. Cubata é
coberta com folhas de palmeiras.
Capítulo 22 – O amor e outras
mentiras - Os papeis da PIDE – 11
Ano de 1973. O da polícia política.
“Retirei da minha maleta um livro que
os nossos serviços de censura tinham recolhido na livraria Salema. Tinha por título Capitães da Areia e o
autor era um tristemente célebre comunista brasileiro chamado Jorge Amado”. Neste tempo o livro citado era proibido em
Portugal e em suas colônias.
Dá pane no poeta ao receber o livro do
policial. Desmaia. Chama-se um médico.
O médico puxa a orelha do poeta que
andava fugindo de retornar à consulta e não andava bem de saúde. O poeta argumenta: “É verdade, doutor, ando com problemas de
memória. Tenho-me esquecido de ficar
doente”. O poeta defendia a
necessidade de ter uma doença.
Justifica:
“Há dois inimigos da inspiração
poética: o primeiro era ser saudável
num mundo tão doente; o segundo era ser feliz num mundo tão injusto”.
O por quê do não retorno ao
médico: Quando eu ia, lá só tinha
pacientes da estrada de ferro, todos brancos.
Não se via negros. “Se eles não
adoecem, eu também quero ser negro”.
O marido poeta já doente e não largava
de fumar. Tanto a mulher dele reclamou.
Mas... “A certa altura, deixei de me
importar. Era melhor o cheiro do tabaco
que o perfume das amantes que ele trazia agarrado no corpo”.
Capítulo 23 – O ciclone - Beira, março de 2019
Lá na região a cada uma porção de tempo
ocorre ciclone que causa enormes estragos.
Em 2019 houve um que foi arrasador.
Epílogo – O último interrogatório - Beira – março de 2019
O Inspetor velho recordando. “...sempre me senti derrotado. Comecei a perder vitória. A minha mulher escapou-me, da pior maneira
que pode suceder: desistiu de ser ela mesma.
Enlouqueceu...”
A Vitória teve uma filha mulata, a
Ermelinda. Nome português e lá em
Moçambique os nativos não tem a pronúncia do erre e então ficou como Almalinda.
No passado o Inspetor desprezava
Ermelinda. Depois que ela morreu
assassinada, ele mudou de comportamento.
“No dia que mataram Ermelinda, nesse dia ela nasceu como minha filha. Pela primeira vez eu era pai”. (fora do casamento)
O velho inspetor confessa que no passado
tinha uma atração pelo poeta Adriano. E
um dia visitou Sandro, filho de Adriano e teve um caso com ele sonhando com
Adriano.
O inspetor já em Portugal. O exército nunca chegou a me prender. “E não era necessário. Eu já estava aprisionado no meu passado”.
O antigo inspetor confessa e pede
sigilo a Diogo, filho de Adriano. Foi
ele que pagou secretamente os estudos de Benedito Fungai. No passado a polícia matou o pai dele por ter
testemunhado o crime dos policiais ao matarem Almalinda.
Liana, filha de Almalinda diz que como
punição ao Inspetor vai escrever a história dele. E ele tinha cedido a ela toda a
papelada. Ele diz à neta. “Mas devo dizer-te uma coisa – avisei – Não
é reproduzindo a minha história que te vais curar. É escrevendo a tua história”. Pela primeira vez Liana escutou o meu
conselho. O livro dela: O Mapeador de Ausências”. (este que estamos lendo).
O desfecho - “A história do que fomos e de quem
somos”. “Esses anônimos guardiões das
histórias buscam, entre os escombros, a palavra redentora. Eles sabem:
tudo o que não se converte em história se afunda no tempo”.
Fim. Término da leitura dia 08-02-2022
orlando_lisboa@terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário