capítulo final 15/15 LEITURA - outubro de 2023
Apesar
dos tanques nas ruas
O
golpe militar em curso no dia 31-03-1964 e naquela noite Hilda de casa cheia
num programa de despedida da zona boêmia conforme tinha dito na entrevista
coletiva.
Hilda atendendo a fila de clientes e ansiosa
por um telefonema do frei que tinha que ser até a meia noite, conforme ela
determinou. Antes do dia primeiro de
abril para ser verdade mesmo.
Ratos
e homens
O
jornalista Ponce de Leon foi preso pela ditadura no dia do golpe. Mesmo ele sendo integrante do jornal
Alterosa, de propriedade do governador Magalhães Pinto, governador de MG que
apoiava o golpe.
Ficou
em cela escura e infestada de ratos.
Hilda
e a espera. Faltavam poucos minutos
para encerrar o prazo para a decisão do frei.
Se aceitasse, se casariam e ele abandonaria a vida religiosa.
Ela
ficou muito feliz com o telefonema dele quase ao fim do prazo. E marcaram para se encontrar no dia seguinte
em frente ao Tenis Clube onde Hilda foi no passado a Garota do Maiô Dourado.
Os
fãs de Hilda em peso na saída do prédio num evento de despedida com música e
tudo. Inclusive Valsa do Adeus. Ela iria ao encontro marcado com o seu
amado.
Estava
com o mesmo vestido tubo que usou no dia da tentativa do exorcismo contra
ela. Vestido que, molhado de chuva no dia
do exorcismo, deixava mais sensual a jovem Hilda.
Os
militares colocaram três jornalistas presos em frente a um paredão e apontaram
as armas num gesto de fuzilamento. Um
deles desabou de medo da morte iminente.
Foi um sufoco, mas era uma brincadeira de mal gosto por ser primeiro de
abril.
Depois
libertaram os jornalistas descalços e sem cinto pela cidade.
O
frei se despediu da vida religiosa e caminhava pela rua para tomar um
taxi. Nisso encosta um jeep militar com
soldados que vieram e deram voz de prisão a ele. Lá se foi o encontro tão esperado com Hilda.
Prisão
em nome da “revolução”.
O
frei tentou argumentar mas não teve jeito.
Indo preso mesmo, justo na hora de ir encontrar Hilda.
Argumenta: - Mas isso é uma violência – protestou.
-É
uma revolução, frei.
-
Revolução ou golpe militar?
-
Se vencermos, será uma revolução. Se
perdermos será um golpe militar.
Hilda
sem saber desses fatos, em frente ao Tenis Clube ansiosa pela chegada do
frei. Ela inclusive com um pé calçado e
outro esperando o sapato que tinha sido achado pelo frei e que ele certamente
devolveria a ela.
Ela
já imaginava ele chegando, desembrulhando o sapato e calçando nela, mas não
sabia o que aconteceu com o frei.
Passado
mais de hora do que o combinado, ela desistiu e foi embora arrasada. Falou sozinha na hora de sair do local do
encontro que não houve.
-
Ah, felicidade, você me passou um bom primeiro de abril.
João
Goulart foi deposto da presidência pelo golpe militar e se exilou no Uruguai.
Leonel
Brizola, que tentou como governador do Rio Grande do Sul, uma reação contra o
golpe, foi deposto e também foi pro exílio no Uruguai.
“Chico
Campos, o pai dos atos institucionais da ditadura”. Depois o cronista Rubem Braga é citado numa
reportagem por sua frase: “Quando o Sr.
Francisco Campos acende a sua luz, acontece curto-circuito nas instituições
democráticas”.
Na
véspera do Natal de 1964 foi fechada a redação do jornal Alterosa onde o
jornalista narrador trabalhava. Ele foi
trabalhar no Rio de Janeiro no Jornal do Brasil.
No
Rio, sempre a vontade de voltar para MG.
Todo avião que via no céu do Rio, para ele parecia que ia para Minas
Gerais.
Um
dia decidiu o casal a voltar para MG e ficou lá em BH um ano desempregado. Leu muito no período. Um dia recebeu um convite de trabalho do
jornal Estado de MG.
Um
dia, chega a notícia por um jornal dos USA de que o Pretty Boy (o Aramel)
estava para cumprir a promessa de sobrevoar a terrinha dele e de cima fazer a
chuva de dólares para ajudar os necessitados.
O
frei, agora preso pela quarta vez, desta vez no Rio Grande do Sul.
O
jornalista tornou-se cronista esportivo e um dia estava em Buenos Aires em
serviço e lá encontrou Hilda.
Consta
que só após um ano ela ficou sabendo da prisão do frei e do motivo dele não ter
ido ao encontro.
Hilda
havia no passado prometido contar por que foi para a zona boêmia. Prometido ao amigo jornalista. No encontro na Argentina ele fez a pergunta
novamente e ela não cumpriu a promessa. Ela argumentou:
-
“Por que você não diz aos leitores que, tal como contou no seu romance, eu,
Hilda Furacão, nunca existi e sou apenas um primeiro de abril que você quis
passar nos leitores? Por que não diz
isso?
Penso
que não deixa de ser uma boa ideia.
FIM. 31-10-2023
Oportunamente
devo ler do mesmo autor o livro Sangue de Coca Cola, bem recomendado pela
crítica no final deste livro.
orlando_lisboa@terra.com.br Grato aos leitores do fichamento.
Outros e outros virão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário