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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

CAP. 15/15 (FINAL) - fichamento do romance - HILDA FURACÃO - autor|: ROBERTO DRUMMOND

 capítulo final 15/15            LEITURA - outubro de 2023 

 

         Apesar dos tanques nas ruas

         O golpe militar em curso no dia 31-03-1964 e naquela noite Hilda de casa cheia num programa de despedida da zona boêmia conforme tinha dito na entrevista coletiva.

          Hilda atendendo a fila de clientes e ansiosa por um telefonema do frei que tinha que ser até a meia noite, conforme ela determinou.   Antes do dia primeiro de abril para ser verdade mesmo.

         Ratos e homens

         O jornalista Ponce de Leon foi preso pela ditadura no dia do golpe.   Mesmo ele sendo integrante do jornal Alterosa, de propriedade do governador Magalhães Pinto, governador de MG que apoiava o golpe.

         Ficou em cela escura e infestada de ratos.

         Hilda e a espera.   Faltavam poucos minutos para encerrar o prazo para a decisão do frei.    Se aceitasse, se casariam e ele abandonaria a vida religiosa.

         Ela ficou muito feliz com o telefonema dele quase ao fim do prazo.  E marcaram para se encontrar no dia seguinte em frente ao Tenis Clube onde Hilda foi no passado a Garota do Maiô Dourado.

         Os fãs de Hilda em peso na saída do prédio num evento de despedida com música e tudo.  Inclusive Valsa do Adeus.   Ela iria ao encontro marcado com o seu amado.

         Estava com o mesmo vestido tubo que usou no dia da tentativa do exorcismo contra ela.    Vestido que, molhado de chuva no dia do exorcismo, deixava mais sensual a jovem Hilda.

         Os militares colocaram três jornalistas presos em frente a um paredão e apontaram as armas num gesto de fuzilamento.  Um deles desabou de medo da morte iminente.  Foi um sufoco, mas era uma brincadeira de mal gosto por ser primeiro de abril.

         Depois libertaram os jornalistas descalços e sem cinto pela cidade.

         O frei se despediu da vida religiosa e caminhava pela rua para tomar um taxi.   Nisso encosta um jeep militar com soldados que vieram e deram voz de prisão a ele.   Lá se foi o encontro tão esperado com Hilda.

         Prisão em nome da “revolução”.

         O frei tentou argumentar mas não teve jeito.   Indo preso mesmo, justo na hora de ir encontrar Hilda.

         Argumenta:   - Mas isso é uma violência – protestou.

         -É uma revolução, frei.

         - Revolução ou golpe militar?

         - Se vencermos, será uma revolução.  Se perdermos será um golpe militar.

         Hilda sem saber desses fatos, em frente ao Tenis Clube ansiosa pela chegada do frei.   Ela inclusive com um pé calçado e outro esperando o sapato que tinha sido achado pelo frei e que ele certamente devolveria a ela.

         Ela já imaginava ele chegando, desembrulhando o sapato e calçando nela, mas não sabia o que aconteceu com o frei.

         Passado mais de hora do que o combinado, ela desistiu e foi embora arrasada.  Falou sozinha na hora de sair do local do encontro que não houve.

         - Ah, felicidade, você me passou um bom primeiro de abril.

         João Goulart foi deposto da presidência pelo golpe militar e se exilou no Uruguai.

         Leonel Brizola, que tentou como governador do Rio Grande do Sul, uma reação contra o golpe, foi deposto e também foi pro exílio no Uruguai.

         “Chico Campos, o pai dos atos institucionais da ditadura”.    Depois o cronista Rubem Braga é citado numa reportagem por sua frase:   “Quando o Sr. Francisco Campos acende a sua luz, acontece curto-circuito nas instituições democráticas”.

         Na véspera do Natal de 1964 foi fechada a redação do jornal Alterosa onde o jornalista narrador trabalhava.   Ele foi trabalhar no Rio de Janeiro no Jornal do Brasil.

         No Rio, sempre a vontade de voltar para MG.   Todo avião que via no céu do Rio, para ele parecia que ia para Minas Gerais.

         Um dia decidiu o casal a voltar para MG e ficou lá em BH um ano desempregado.   Leu muito no período.   Um dia recebeu um convite de trabalho do jornal Estado de MG.

         Um dia, chega a notícia por um jornal dos USA de que o Pretty Boy (o Aramel) estava para cumprir a promessa de sobrevoar a terrinha dele e de cima fazer a chuva de dólares para ajudar os necessitados.

         O frei, agora preso pela quarta vez, desta vez no Rio Grande do Sul.

         O jornalista tornou-se cronista esportivo e um dia estava em Buenos Aires em serviço e lá encontrou Hilda.

         Consta que só após um ano ela ficou sabendo da prisão do frei e do motivo dele não ter ido ao encontro.

         Hilda havia no passado prometido contar por que foi para a zona boêmia.  Prometido ao amigo jornalista.   No encontro na Argentina ele fez a pergunta novamente e ela não cumpriu a promessa. Ela argumentou:

         - “Por que você não diz aos leitores que, tal como contou no seu romance, eu, Hilda Furacão, nunca existi e sou apenas um primeiro de abril que você quis passar nos leitores?  Por que não diz isso?

         Penso que não deixa de ser uma boa ideia.

 

         FIM.                               31-10-2023    

 

         Oportunamente devo ler do mesmo autor o livro Sangue de Coca Cola, bem recomendado pela crítica no final deste livro.

 

         orlando_lisboa@terra.com.br          Grato aos leitores do fichamento.

Outros e outros virão.

        

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