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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CAP. 15/18 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 15/18

 

         Rumo a Dusseldorf  (na Alemanha)

         Na cidade, participaram de um importante congresso de escritores.  Dentre estes, Angel Miguel Astúrias, Prêmio Nobel de Literatura, Vargas Llosa, Gabriel García Marquez, Eduardo Portella, Josué Montelo.     Jorge e a preocupação com a pontualidade.   Tomar café antes da família e sair mais cedo.  Estavam hospedados numa cidade menor, onde acharam hotel, 30 km distante do evento.  Zélia comenta:   “Eu sempre digo e repito que a pontualidade é uma qualidade, mas o excesso de pontualidade, a preocupação de chegar antes da hora marcada, é um defeito”.

         Noturno para Londres

         Em Londres, ficaram na casa de Olinto, amigo  de longa data.  Ele era o adido cultural da Embaixada do Brasil na Inglaterra.

         Zélia citou o artista Genaro, destacado na arte da tapeçaria.   Carybé também estava lá em Londres para ser homenageado por um banqueiro.   Como isso ocorreu?    O filho do banqueiro gostava de cavalos e uma vez visitando a Bahia, descobriu telas de Carybé representando cavalos e adquiriu obras para sua coleção.   Daí o convite do banqueiro para o artista plástico Carybé, compadre de Jorge Amado.

         Zélia destaca que Carybé pintava quadros tão esmerados representando cavalos que até num dos palácios da rainha da Inglaterra tem quadros equestres dele.

         Em Londres num teatro estava passando a peça Óh Calcutá!.   No Brasil em tempo de ditadura, a peça estava proibida e aumentava a curiosidade do povo, inclusive por saber que no fim da peça os atores se apresentavam nús.

         A filha Paloma de Zélia e uma prima fizeram questão de assistir a peça em poltronas um tanto distantes da dos pais para poderem fazer seus comentários numa boa.    As moças empolgadas e já festejando, pois as amigas ao saberem que assistiram a peça iriam morrer de inveja.

         Ao fim da peça, uma pessoa toca no ombro e Paloma e pergunta o que ela achou da peça e onde estavam os pais dela, primos dessa pessoa.   As moças ficaram com a cara no chão ao saber que o tio que elas nem sabiam que estava em Londres, não só estava, como assistiu no banco de trás e escutou o ti ti ti das duas.   Eita mundo pequeno!

         No Hyde Park em Londres estava na moda o seguinte:   Qualquer pessoa que queria soltar o verbo em praça pública, subia num caixote na praça e dava o recado.    Boca livre, podia nesse local falar mal até da família real britânica.

         Em Portugal, uma aldeia submersa

         Zélia visitou um pequeno povoado rural que estava para ficar submerso por uma represa.   Os moradores geralmente que lá viviam por várias gerações sucessivas, lamentando ter que deixar o local de tantas lembranças dos seus antepassados.   Inclusive abandonando as parreiras de uva.   Zélia ficou muito triste com o que lá viu e ouviu do povo.

         Casamento do filho de Jorge Amado, comunista e praticante do Candomblé

         A noiva queria casar na Igreja Católica e João Jorge não era nem batizado.  Sem batizado, a igreja não realizaria a cerimônia.    No ponto de vista de Jorge e Zélia, não precisaria de cerimônia religiosa nem no cartório.  Eles mesmos, ambos desquitados (ainda não havia sido aprovado o divórcio) viviam juntos.   (viveram mais de 50 anos juntos até o fim)

         “Tínhamos o nosso exemplo:  apenas o amor nos ligava a tantos anos”.

         Jorge e Zélia ao longo do tempo a dois, antes de haver a lei do divórcio para poderem se casar e legalizar a situação já que seus filhos até então eram legalmente considerados ilegítimos.   Viveram juntos 32 anos sem papel passado e quando aprovaram o divórcio, se casaram no cartório.   Assim facilitava a vida dos filhos e documentação inclusive passaporte.

        

         Próximo capítulo   16/18

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

CAP. 14/18 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora - ZÉLIA GATTAI

 capítulo 14/18

 

         Anarquistas, Graças a Deus

         Zélia aos 6e de idade puxando pela memória para resgatar pessoas e fatos da infância.  Fala logo da mãe Angelina.  “Dona Angelina era uma pessoa formidável e eu não lhe dera o devido valor”.

         O pai Ernesto..  “Era bem como eu o julgara: inteligente, humano, homem bom”.

         Jorge só viu o livro pronto.   Quem lia as partes do livro sendo redigido eram os filhos Paloma e João Jorge.    No tempo de moradia na Pedra do Sal, o casal teve que voltar para Salvador.   Uma equipe italiana gravando cenas do filme Tieta do Agreste com a estrela Sophia Loren.

         Tempos antes, Jorge e Zélia, estando em Paris, foram recebidos no apartamento da estrela internacional Sophia Loren.   Ela depois veio conhecer na Bahia as locações para o filme Tieta do Agreste.    Ao voltar para a Itália, havia uma ordem de prisão para ela por sonegação de impostos e envolvimento com contas no banco Ambrosiano do Vaticano que sofreu desfalque na época.   Em resumo, ela chegou a ser presa por curto período e nesse vai e vem, acabou gorando a filmagem com ela no papel de Tieta.

         O papel de Tieta do Agreste em filme acabou ficando com a brasileira Sonia Braga com direção de Cacá Diegues.

         Adeus, Pedra do Sal!

         O povo foi descobrindo o novo endereço de Jorge Amado na Pedra do Sal.   Logo até uma agência de turismo passou a levar grupos para mostrar o local.   A turma descia do ônibus em frente a casa e o guia de megafone ia falando aquela coisa decorada em alta voz.  Adeus, sossego.

         Turistas chegavam a chamar por Jorge Amado, queriam falar com ele.   Ao ponto de Jorge reclamar para a esposa:   “Não vejo a hora de terminar este livro e sair daqui, voltar para nossa casa de Salvador.   Tenho às vezes a sensação de ser um foragido, um bandido escondido da polícia dia e noite...”

         Hansen na Bahia

         Hansen, o alemão artista plástico que foi morar na Bahia.   Se apaixonou pela região.  Produziu muitas telas e criou a Fundação Hansen Bahia.    A Fundação fica na cidade de Cachoeira, na Bahia.

         Bélgica

         A cidade de Bruges tem bastante canais e prédios antigos e lembra um pouco Veneza.  Lugar bem festivo.   Bruges entre outros atrativos tem artigos em renda feitos a mão, de alta qualidade e beleza.   Compraram vários artigos para o enxoval da filha Paloma.

         Holanda

        

         Visitas aos museus.    Museu Rembrandt, Museu Van Gogh, em Amsterdã.    Passeio de barco pelos canais.   Naquela cidade há muitos barcos onde as pessoas moram neles e ficam ancorados nos canais.

         Zélia e família tiveram a curiosidade de passar pela zona boêmia de Amsterdã onde há vitrines com moças com trajes insinuantes em exposição.  Quando algum cliente entra, baixam a cortina e a vitrine se transforma no leito e quando o programa termina, arruma-se a cama e erguem a cortina e está tudo pronto para o próximo...

         Dinamarca

         Andersen, o escritor maior da Dinamarca.

         Alemanha – No hotel na cidade de Colônia, a família Amado tinha vaga para pouso mas não havia vaga para o carro.   Deixaram o carro na rua em frente, confiando na segurança da cidade.   No outro dia cedo, as malas tinham sido roubadas e entre os pertences, várias compras para o enxoval de Paloma, adquiridas em vários países pelos quais passaram.

         Tendo amigos no trajeto, encomendaram de novo os artigos do enxoval e estes foram remetidos à família no Brasil.

         Nessa Zélia perdeu o gravador e a máquina fotográfica.

        

         Continua no capítulo 15/18

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

CAP. 13/18 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 13/18

         Zélia destaca que na época que visitaram Cuba, mesmo os famosos de outros países, louvavam a fama dos cosméticos cubanos.

         Jubiabá

         Livro de Jorge Amado escrito em 1935.    No passado, o pintor argentino Carybé tinha lido esse romance e se encantou com o livro.  Resolveu ir conhecer a Bahia.  Foi, se encantou e ficou de vez.

         O milionário americano Belafonte também leu Jubiabá e isso motivou ele e família a virem com seu jato particular conhecer Salvador. 

         Pierre Verger – Outro famoso, fotógrafo, que leu Jubiabá e acabou indo também conhecer Salvador.   Ele era francês e leu em seu país a versão francesa de Jubiabá antes de vir conhecer o Brasil.

         Verger se entrosou muito bem em Salvador e frequentava terreiros de Candomblé e conhecia várias Mães de Santo.  Ele lançou o livro Oxossi.   De Verger é o livro sobre o tráfico de escravos:   Fluxo e Refluxo.

         (eu vi inclusive aqui no MON Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, coleção de fotos de Pierre Verger)

         Antonio Carlos Magalhães   ( o ACM)

         Foi um governador dinâmico.   Percebeu que Salvador estava apertado no centro urbano e a mobilidade estava complicada.   Criou obras viárias e mudou o centro administrativo de Salvador para fora do centro histórico e novos empreendimentos foram construídos com incentivo dessas obras viárias que facilitavam o acesso.

         No conjunto de prédios do Centro Administrativo, em cada prédio, há obra de artista de destaque da Bahia.   Obras de arte independente da linha política de cada artista plástico.  Valeu o talento de cada um.

         ACM também implantou uma rede de esgoto em Salvador que ajudou muito no saneamento da cidade.     Vale lembrar que ele era formado em Medicina e isso pode ter pesado na decisão de investir pesado no saneamento urbano.

         Casa de praia na Pedra do Sal na Bahia

         Jorge e Zélia recebiam tantas visitas e demandas em casa que afetava o ritmo de trabalho de Jorge na sua atividade de escritor.    Por isso se retiravam para lugares mais tranquilos como a casa de campo de amigos.  Construiram uma casa de praia num local retirado, a Pedra do Sal.

         A brisa do mar

         “A brisa do mar é inimiga do trabalho.   Jamais Jorge tinha escrito um livro em casa de praia”.   Jorge bem que tentava escrever, mas a brisa do mar o convidava à preguiça, a rede o atraia mais do que a máquina de escrever.”

         Passaram um ano na Pedra do Sal, beira mar, na casa de praia que lá construíram.   Lá Jorge Amado acabou escrevendo em um ano o livro:  Farda, Fardão, Camisola de dormir.   Zélia até então não tinha escrito nenhum livro e nem pensava em escrever, mas foi lá na Pedra do Sal que ela escreveu Anarquistas, graças a Deus.

         Ela diz que sempre gostou de contar histórias.  A criançada da vizinhança gostava das suas histórias.   Morando em Pedra do Sal, a filha Paloma que tanto ouvia a mãe contar histórias perguntou a ela:

         - Por quê, mãe, você não escreveu a história de sua infância? 

         Daí desabrochou a escritora e seus livros de memórias.   Zelia começou escrevendo umas quinze páginas contando um episódio que viveu.   Levou para Jorge ler e ficou na expectativa.   Afinal “em se tratando de mulher e dos filhos, ele possui um sentido crítico severo, não dá colher de chá”.

         Ele não só leu como chamou Zélia para se sentar e ouvir.   Destacou que ela conseguia escrever com simplicidade e que isso era positivo.  Que ela poderia usar a simplicidade e ir em frente com a rica memória de quem viveu na Colônia Cecilia, onde imigrantes italianos conviveram uma experiencia anarquista.      (não fica muito claro se Zélia chegou a conviver com algo da Colônia Cecilia que foi, ao que se sabe, uma experiência de colonos italianos Anarquistas no município de Palmeira no Paraná).

         Jorge finalizou o assunto com Zélia nestes termos:   “Toque o bonde” (siga na escrita).

 

         Continua no capítulo 14/18 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

CAP. 12/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 12/20

 

         A barganha

         Di Cavalcanti pintou uma tela de baianas deitadas de presente para o casal Jorge e Zélia.   Jorge deu a ele um cachorrinho de uma raça inglesa que tinha encantado o pintor.   Foi, digamos, uma troca de presentes entre velhos amigos.  (imagina o valor dessa tela hoje em dia...)

         Floriano Teixeira

         Um maranhense que era radicado em Fortaleza.  Era um pintor de qualidade, tanto que a arquiteta Lina Bo Bardi (a que projetou o MASP da Avenida Paulista em SP) recomendou que ele viesse morar em Salvador para dar mais vez à sua obra.  Veio para Salvador com apoio dos amigos artistas, inclusive do casal Jorge e Zélia.   Fez sucesso com sua arte, inclusive ilustrou vários livros de Jorge Amado.  

         “É autor das capas da primeira edição de cinco livros de memórias editados por Zélia Gattai”.

         ...  Em outro tema...   Foi o diretor Bruno Barreto quem dirigiu o filme Dona Flor e seus dois maridos com os atores Sonia Braga e José Wilker.

         Confusão no Pelourinho

         Num mesmo momento rodavam em Salvador as filmagens de três filmes baseados em obras de Jorge Amado.    Ao iniciar uma cena externa alguém da equipe técnica pede silêncio dos passantes – silêncio geral e o povo obedece mais ou menos.

         “Às vezes a equipe tem que repedir o pedido de silêncio com megafone”.

         Um dos diretores ouviu falar que ali na área do Pelourinho (no centro histórico) havia  um tal Sergipinho que segundo a lenda urbana já tinha esfaqueado e matado um cidadão no passado e ainda lambido o sangue na faca.   O tal era temido.

         O diretor pediu para a equipe convidar o Sergipinho para trabalhar na equipe e o serviço era, na hora das filmagens externas, pedir silêncio para o povo.   Ele falava uma só vez e sem megafone.   Todo mundo se calava.

         “Encantado com o cargo, o temido facínora passou a ser o mais feliz e eficiente auxiliar da equipe de gravação”.

         Coração mole

         Como alertava o próprio pai de Jorge Amado, este era muito bom escritor, mas era fraco para negócios.   Os filmes sobre os livros dele fizeram sucesso e Jorge pouco ganhou com eles.  Mas Jorge ficou muito feliz com a aceitação dos seus filmes pelo público.

         A vendedora de quadros

         Um amigo pintor primitivista encontrou o amor de sua vida e queria se casar.  Mas para isso, queria comprar uma modesta casinha.  Pediu ajuda à amiga Zélia.   Ela sugeriu ajudar vendendo seus quadros para os contatos dela no meio artístico que sempre foi grande.      Assim combinaram e à medida que ia vendendo os quadros, ia pagando as prestações da casa e atingiram o objetivo.

         Vendo a desenvoltura de Zélia no setor, outros amigos pintores foram colocando ela como intermediária junto aos potenciais clientes.   Ao ponto dela começar a cobrar uma pequena comissão para ao menos cobrir custos de deslocamentos, hospedagem etc.    Aumentou o negócio que surgiu por acaso.

         Ela foi notando que estava ficando com pouco tempo para ficar com o marido.    Ele não reclamava, mas ela sentia que deveria parar com essa atividade de vender os quadros.   Parou com a atividade e repassou para uma sócia que tinha para a continuidade do negócio.

         O amigo artista plástico

         O amigo artista plástico Carybé (argentino que vivia há anos em Salvador) ganhou um concurso internacional e foi pintar dois murais no Aeroporto Internacional John Kennedy em Nova Iorque.   

         Outro episódio – Jorge sempre afobado para não perder hora

         Jorge sempre gostou de ser pontual nos horários dos compromissos.   Em Cuba, numa festa na casa onde morava na época Gabriel Garcia Marquez, Jorge apressou tanto a esposa que ela se arrumou e esqueceu de colocar o sapato para o evento e foi de chinelo.  No meio do percurso, ela percebeu mas era tarde demais.  Foi assim mesmo.

         Garcia Marquez, prêmio Nobel de literatura, comunista, vivia em Cuba por não ser bem visto pelos políticos do seu país na época.    Conquistou em Cuba um casarão com amplo espaço de jardim no entorno para ele poder viver e escrever com tranquilidade.

         Na ocasião da festa com a presença de Jorge Amado, Fidel Castro disse:   “Aqui Gabo (como chamavam Garcia Marquez) pode escrever tranquilamente seus livros.  A casa é dele enquanto for vivo.   Depois, certamente, será um museu”.

 

         Continua no capítulo 13/20 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

CAP. 11/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 11/20

 

         Vinicius de Moraes e seu violão na casa de Jorge.  “À beira da piscina, o inseparável copo de uísque ao lado, violão em punho, Vinícius cantava”.

         Vinicius foi casado com uma baiana e chegou a ter casa na praia de Itapuã-BA.   Tentou morar lá de forma permanente.   Fez música sobre a praia de Itapuã.

         Um dia ele, na casa de Jorge, violão em punho, copo do lado, resolve cantar uma musiquinha para os netinhos do casal anfitrião.    Ele canta algo inédito e Zélia corre pra dentro e traz o gravador e grava meio na surdina.

         Manteve essas gravações guardadas e depois da morte de Vinícius, ela entregou a gravação à companheira dele.   Foi assim que nos chegou a gravação de músicas infantis como aquela  “Lá vem o pato, pata qui patacolá...”.    Também o clássico:   “Era uma casa muito engraçada / não tinha teto, não tinha nada...”

         Relembrando, Vinícius foi diplomata e serviu em Paris.   Quando ele frequentava a praia em Itapoã-BA, a rua vizinha onde o artista plástico Calazans Neto tinha casa era precária e nem nome tinha e ficava difícil até a correspondência.   Pediu tantas vezes à prefeitura para cuidar disso.  O amigo Vinícius fez uma Petição em versos ao prefeito da cidade e logo em seguida foi atendido.   A rua passou a ter nome e recebeu calçamento.   O artista plástico era procurado por turistas do Brasil e vários até do exterior.   Ficou mais fácil achar a casa com o atelier dele.

         A petição foi feita por Vinícius e publicada por Jorge Amado no Jornal A Tarde.    Deu resultado.

         Conceito de liberdade

         No tempo da ditadura militar, Vinícius de Moraes, então Diplomata em Paris, foi despedido.   O despacho do presidente General Costa e Silva: “Afaste-se esse vagabundo”.   Assinado – presidente Costa e Silva.

         Tempos de repressão e uma repórter entrevistando Vinícius e provocando para levar para o campo da política.   Perguntou a ele sobre o conceito dele para liberdade.  Ele foi irreverente:  - “Meu conceito de liberdade é fazer cocô de porta aberta”.

         O homem forte

         Odorico Tavares era o homem forte dos Diários Associados no estado da Bahia.   (Os Diários Associados eram tipo as Organizações Globo...)

         A empresa do pernambucano Assis Chateaubriand trouxe o primeiro canal de televisão para a Bahia.

         Odorico tinha em casa uma coleção de obras de arte em óleo sobre tela de vários artistas famosos como Di Cavalcanti e outros.   Ele frequentava a casa de Jorge Amado.

         Sem sair do lugar

         Jorge Amado tinha dois cães da raça inglesa Pug e um deles tinha o nome de uma personagem do livro de Charles Dickens, de quem Jorge era fã.   Di Cavalcanti na época tinha recebido o título de Doutor Honoris Causa da UFBA Universidade Federal da Bahia.    Antes, o pintor tinha sido nomeado por João Goulart para embaixador na França.   Assumiu num dia, João Goulart no outro dia foi cassado pelo golpe militar e Di Cavalcanti, comunista, foi apeado do poder.   Foi embaixador por um só dia.

         Festival de Cassações

         Perseguições políticas pelo regime militar e cassações.  Começou em 1964 e o AI 5 Ato Institucional de 1968 endureceu ainda mais o regime, dando mais poderes ao presidente general.    “...dando poderes totais ao regime militar, carta branca para cometer crimes: prender e torturar, cassar os direitos do homem, sobretudo de cientistas, compositores, cantores, artistas plásticos, jornalistas”.

         Dos compositores, os mais visados foram Caetano Veloso e Chico Buarque de Holanda.    Tanto que Gilberto Gil ficou sem clima para cantar e compor e se autoexilou na Europa.   Nessa fase ele compôs a música:  Aquele Abraço.    Chico Buarque viveu no exílio na Europa e no período viveu uns anos na Itália.    Nesse tempo Roberto Carlos fez a música para Caetano Veloso, a música Debaixo dos Caracois dos Seus Cabelos.

 

                   Continua no capítulo 12/20

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

cap. 10/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo       10/20

         Gatos

         A mãe de Jorge sempre gostou de gatos e ele herdou esse gosto da mãe.  Ao ponto do gato dele dormir sobre sua máquina de escrever e ele adiar o trabalho para não acordar o gato.

         Uma vez Jorge estava em São Paulo e acabou vendo um anúncio e comprou uma gatinha siamesa novinha.   Colocou nela o nome de Dona Flor.  A gata cresceu linda.  Até que um dia.... foi pega cruzando com uma gata da família.   A Dona Flor era macho.   Os empregados da casa queriam agora mudar o nome do gato porque não achavam legal ele ter nome feminino...        

         A gata que cruzou com Dona Flor se chamava Gabriela, sempre personagem dos livros de Jorge.

         O golpe do bicho preguiça

         Um dia Jorge viu na rua um camelô vendendo um bicho.  Era um bicho preguiça.   Comprou e levou para casa escondido da esposa.  Soltou no quintal e o animal subiu no pé de mulungu.  Num dia o bicho comeu todas as folhas do mulungu.  Nos dias seguintes, comeu as folhas dos outros dois pés de mulungu e o bicho sumiu do quintal.    O casal nem saiu procurar o bicho pela vizinhança até pelo estrago que ele fazia nos jardins.

         Passam dias e um dia Jorge passa pelo mesmo local onde comprou o preguiça e lá estava de novo o camelô vendendo o bicho preguiça.   Jorge passou longe do vendedor.

         Um ebó sem rumo certo

         Nos domingos os amigos se reuniam para jogar baralho.   Eles no pôquer e elas na tranca ou no jogo de buraco.

         A mãe de Jorge desabafando:   “Tu nem imagina, meu irmão, os amigos de Jorge aqui na Bahia não trabalham, são todos artistas, todos vagabundos, só vivem pintando quadros, cantando, gostam de conversar, rir e de jogar baralho... O único trabalhador deles é Jorge, vive escrevendo o coitadinho, às vezes tenho até pena...”

         Galeria de fotos no livro:  Numa delas, manchete de jornal dizendo quanto Jorge recebeu pelos direitos junto à Metro sobre o livro Gabriela.  Foram 50.000 dolares no ano de 1963.    O negócio propiciou ao casal comprar a Casa do Rio Vermelho.

         Glauber Rocha

         Nos anos da ditadura militar, Caetano Veloso se exilou em Londres e lá Jorge Amado se tornou amigo dele.    Jorge ficou seis meses morando em Londres e lá escreveu Tieta do Agreste.

         Dos artistas de destaque da Bahia, Zélia destaca que o mais amigo de Jorge foi o cineasta Glauber Rocha.   “Acompanhamos a carreira de Glauber e sua vida até o fim”.

         Zélia disse que Glauber foi patrulhado pela esquerda no Brasil no tempo da ditadura porque ele conseguia dialogar com o General Golbery do Couto e Silva que era a eminência parda (agia nos bastidores) dos governos militares.  Ele tinha grande poder nos governos militares.

         Glauber foi viver em Portugal, lá adoeceu e Jorge recomendou que ele voltasse para perto da mãe para cuidar melhor da saúde.  Esse conselho de Jorge, ele não seguiu.  Quem morava em Portugal na época e era amigo comum de Jorge e Glauber era o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, este que acompanhou no que pode o amigo até que Glauber veio a falecer.   Glauber quando estava já perto de falecer, foi transferido para o Brasil mas logo que aqui chegou, faleceu.

         Dorival Caymmi

         Era assíduo frequentador da casa de Jorge Amado.  Época na qual Caymmi compôs a música Minininha do Cantóis.   Era tempo do terreiro de Cantois e a Mãe de Santo local era Minininha do Cantóis.

         Mesmo em Salvador era bastante comum as pessoas confundirem Jorge Amado com Dorival Caymmi e vice versa.   Jorge levava numa boa.

         Sobre essa semelhança, Zélia diz que eles tinham alguma semelhança “só na cabeça branca”.

        

         Continua no capítulo 11/20 

sábado, 30 de dezembro de 2023

CAP. 09/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

  capítulo 9/20

 

         Houve a passeata dos estudantes e passando em frente ao Palácio, um estudante ajuntou uma pedra para atirar no Palácio.   Zélia deu um alto lá! E o estudante jogou a pedra fora.   Se jogasse a pedra, formaria tumulto e daria um argumento para a polícia reprimir o movimento e até prender os líderes da passeata que era de protesto mas era pacífica.

         A passeata terminou perto da Reitoria da UFBA Universidade Federal da Bahia.   Terminou com cerco policial, gás lacrimogênio, mas sem prisões nem vandalismo.   Zélia fez valer a experiência do tempo de militância estudantil.

         Ladeiras da Bahia

         Há ladeiras para todo lado em Salvador.    Dadá realiza seu sonho.  Na Ladeira dos Perdões morava Dadá, viúva do cangaceiro Corisco, lugar-tenente de Lampião rei do cangaço.    Dadá tinha quatorze anos quando foi raptada por Corisco no tempo do Bando do Lampião.

         “Fora muito feliz com o cangaceiro e não admitia que falassem mal dele.”.   Dadá não deixou enterrarem Corisco sem a cabeça.  Ele e outros do bando foram fuzilados e depois decapitados.   A cabeça dele e de outros estavam em vidros com conservante na Faculdade de Medicina.

         Dadá guardava os ossos de Corisco por anos debaixo da cama e lutava para ter a cabeça dele de volta para lhe dar um sepultamento digno.

         Mais adiante o governador da Bahia, Luiz Viana Filho, determinou que as cabeças fossem devolvidas às respectivas famílias.   Só então Dadá conseguiu sepultar Corisco da forma que achava mais digna.

         Jorge e Zélia estão entre os que ajudaram na coleta para realizar o sepultamento de Corisco.

         Biografia de Corisco e Dadá

         Um dia um vigarista entrevistou Dadá e depois foi tentar uma “parceria” com Jorge Amado para escrever um livro sobre o casal de cangaceiros.    Jorge logo de cara deu o fora no oportunista, que mesmo depois do não, continuou telefonando para Jorge ainda tentando a tal parceria.

         As campainhas tocam

         Gente na porta de casa ou no telefone pedindo coisas  até inusitadas.  Esta, por telefone:  -É dona Zélia?   Jorge Amado não pode atender?  Então falo com a senhora mesmo.  Sabe o que é?   Minha professora mandou que a gente lesse o livro de Jorge Amado, o Mar Morto.   Eu não tive tempo de ler e preciso falar sobre ele hoje.  Se não souber, tiro zero”.

         Por haver em Salvador o Teatro Jorge Amado em homenagem a ele, muitos pensam que o teatro é dele e costumam pedir ingressos para eventos no local.     Tem até candidatos a ator ou atriz que liga achando que ele pode indicar a pessoa para atuar no teatro.

         Aparece gente querendo contar a história da vida dela para ver se Jorge Amado se interessa em colocar em algum livro.      ...”é um história muito boa, muito forte, vai dar um romance e tanto, com toda certeza” – garante um dos interessados.

         O imperador romano

         O famoso jato Concord fazia voos comerciais entre o Rio de Janeiro e Paris com escala em Dacar na África.  Demorava a metade do tempo dos voos normais de jatos convencionais.     Por essa rapidez, Jorge e Zélia usaram várias vezes o Concord para ir ou vir de Paris.

         Até padre apareceu lá na casa de Jorge  com livros  para ele autografar. 0 leitor começa elogiar Jorge e ele fica encabulado diante de elogios.

         Ao se despedir, o padre ajoelhou diante de Jorge e disse que ele se parecia com um imperador romano.

         Casa pronta, Hóspedes ilustres

         Concluída a reforma da Casa do Rio Vermelho, foi uma sequencia de visitas de amigos ilustres.   Muitos citados nominalmente por Zélia no livro.

         Na ampla casa tem o gabinete que seria para Jorge escrever mas ele não usa o local para isso.  Prefere sempre estar no ambiente social da casa interagindo com as pessoas e querendo saber quem telefonou, quem bateu na porta e assim por diante.   É o jeito dele.

 

         Continua no capítulo       10/20