SOBRE AS RESERVAS MONETÁRIAS DA RUSSIA - fevereiro de 2022 (base 30-06-21)
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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
RESERVAS EM DOLAR DA RUSSIA DIVULGADA EM FEVEREIRO DE 2022, BASE 30-06-2021 PELA FOLHA DE SÂO PAULO
sábado, 19 de fevereiro de 2022
CAP. 10/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO
capítulo 10/10
O Inspetor Óscar Campos escreve ao prisioneiro Adriano Santiago
Ano de 1973
Sobre espionagem e agente
infiltrada. Almalinda era uma espiã
disfarçada de prostituta. “No calor dos
prostíbulos as mulheres ganham a confiança dos nossos inimigos”.
Arrancar confissão – despir a roupa do
que vai ser interrogado. O policial
diz: “a roupa atrapalha a
sinceridade”...
Carta da avó Laura ao Inspetor Campos –
1973
“Quando um regime começa a prender os
poetas é porque esse regime está perdido”.
Uma senhora sobre as estratégias das
mulheres de sua época:
“Os senhores (policiais) não aprenderam
com as mulheres da minha geração. Era
o que fazíamos no casamento. Trazíamos
o lobo para dentro de casa, que era onde ele se convertia num cachorro manso”.
Capítulo 21 – Naufragadas Nuvens - Inhaminga, março de 2019
O povo local ver os brancos nas
piscinas e não poder entrar. ...”e
que deveríamos dar graças a Deus por poder ver a alegria dos outros”.
O marido de Maniara é contratado como
guarda do cemitério. Logo lhe passaram
uma pá para ele abrir covas. Ele
argumentou que era guarda e não coveiro.
O chefe retrucou: “És guarda de
noite... de dia vais abrir covas que é um trabalho em que os pretos são bons
porque mal nascem já vão abrindo a própria sepultura”.
Por lá eles consomem muito “peixe
seco”. (como leitor já ouvi que muitos
povos africanos tem o hábito de consumir peixe seco e procuram a mercadoria
mesmo em países distantes para os quais migram, como nos USA).
Cubata é o nome que dão às choças que
servem de moradia nas aldeias. Cubata é
coberta com folhas de palmeiras.
Capítulo 22 – O amor e outras
mentiras - Os papeis da PIDE – 11
Ano de 1973. O da polícia política.
“Retirei da minha maleta um livro que
os nossos serviços de censura tinham recolhido na livraria Salema. Tinha por título Capitães da Areia e o
autor era um tristemente célebre comunista brasileiro chamado Jorge Amado”. Neste tempo o livro citado era proibido em
Portugal e em suas colônias.
Dá pane no poeta ao receber o livro do
policial. Desmaia. Chama-se um médico.
O médico puxa a orelha do poeta que
andava fugindo de retornar à consulta e não andava bem de saúde. O poeta argumenta: “É verdade, doutor, ando com problemas de
memória. Tenho-me esquecido de ficar
doente”. O poeta defendia a
necessidade de ter uma doença.
Justifica:
“Há dois inimigos da inspiração
poética: o primeiro era ser saudável
num mundo tão doente; o segundo era ser feliz num mundo tão injusto”.
O por quê do não retorno ao
médico: Quando eu ia, lá só tinha
pacientes da estrada de ferro, todos brancos.
Não se via negros. “Se eles não
adoecem, eu também quero ser negro”.
O marido poeta já doente e não largava
de fumar. Tanto a mulher dele reclamou.
Mas... “A certa altura, deixei de me
importar. Era melhor o cheiro do tabaco
que o perfume das amantes que ele trazia agarrado no corpo”.
Capítulo 23 – O ciclone - Beira, março de 2019
Lá na região a cada uma porção de tempo
ocorre ciclone que causa enormes estragos.
Em 2019 houve um que foi arrasador.
Epílogo – O último interrogatório - Beira – março de 2019
O Inspetor velho recordando. “...sempre me senti derrotado. Comecei a perder vitória. A minha mulher escapou-me, da pior maneira
que pode suceder: desistiu de ser ela mesma.
Enlouqueceu...”
A Vitória teve uma filha mulata, a
Ermelinda. Nome português e lá em
Moçambique os nativos não tem a pronúncia do erre e então ficou como Almalinda.
No passado o Inspetor desprezava
Ermelinda. Depois que ela morreu
assassinada, ele mudou de comportamento.
“No dia que mataram Ermelinda, nesse dia ela nasceu como minha filha. Pela primeira vez eu era pai”. (fora do casamento)
O velho inspetor confessa que no passado
tinha uma atração pelo poeta Adriano. E
um dia visitou Sandro, filho de Adriano e teve um caso com ele sonhando com
Adriano.
O inspetor já em Portugal. O exército nunca chegou a me prender. “E não era necessário. Eu já estava aprisionado no meu passado”.
O antigo inspetor confessa e pede
sigilo a Diogo, filho de Adriano. Foi
ele que pagou secretamente os estudos de Benedito Fungai. No passado a polícia matou o pai dele por ter
testemunhado o crime dos policiais ao matarem Almalinda.
Liana, filha de Almalinda diz que como
punição ao Inspetor vai escrever a história dele. E ele tinha cedido a ela toda a
papelada. Ele diz à neta. “Mas devo dizer-te uma coisa – avisei – Não
é reproduzindo a minha história que te vais curar. É escrevendo a tua história”. Pela primeira vez Liana escutou o meu
conselho. O livro dela: O Mapeador de Ausências”. (este que estamos lendo).
O desfecho - “A história do que fomos e de quem
somos”. “Esses anônimos guardiões das
histórias buscam, entre os escombros, a palavra redentora. Eles sabem:
tudo o que não se converte em história se afunda no tempo”.
Fim. Término da leitura dia 08-02-2022
orlando_lisboa@terra.com.br
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
CAP. 09/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO
capítulo 09/10 leitura feira em fevereiro de 2022
Logo que Almalinda voltou para
Moçambique, foi trabalhar numa boate.
Dali dois meses, estava morta. (“caída” do quinto andar...)
O jornalista vê Soraya e Liana se
abraçarem e chorarem juntas o fim de Almalinda.
Ele: “Por um momento sinto
inveja daquela habilidade. Chorar é um
modo de falar. O meu corpo não tinha
acesso a esse idioma”.
Capítulo 16 – A descida aos céus – Os
papeis da PIDE -8
No prédio da Beira, Almalinda, aos 22
anos, dançarina de boate, foi asfixiada com fita adesiva no pescoço e tem
sinais de que ela lutou para se livrar.
Depois jogaram ela pela janela do prédio. A colega dançarina também tinha morrido da
mesma forma não fazia tempo. Eram
vizinhas de quarto no prédio.
Sobre a morta atirada do quinto andar
do prédio. “Os moradores do prédio
falaram todos ao mesmo tempo, parecia que tinham medo do silêncio que escapava
da falecida”.
Capítulo 17 - Os que escutam a
pólvora. Inhaminga - março de 2019
Em 2019 o protagonista Diogo, Liana e
Benedito partindo de Beira para Inhaminga.
Benedito pede a Diogo que recite poesias enquanto dirige, como fazia
Adriano, pai de Diogo no passado no mesmo percurso. Diogo confessa a Benedito. “Às vezes sinto vergonha de ter sido seu
patrão”.
Benedito a Diogo sobre o tempo sofrido
da guerra (anos 70). “Aceitar que toda
nossa vida tivesse sido um inferno seria dar um prêmio aos opressores”.
O povoado de Inhaminga feito frangalhos
após duas guerras. Casas sem telhado,
paredes com marcas de balas, sem energia elétrica... “Bendito Fungai sugere que não procuremos a
vida nas casas. Procurássemos Inhaminga
nas pessoas, nos laços sociais que escampam a quem está apenas de passagem.
Nesta visita de 2019 o pai de Benedito,
o Sr Capitine já é falecido e o filho foi ao cemitério para reverenciar o pai. Fala do coveiro, fala dos mortos nas duas
guerras: “A vida aqui é uma outra
guerra – acrescenta”. “A gente chega a
ter vergonha de ser um sobrevivente – concluiu o coveiro”.
Capitine foi assassinado dois dias após
presenciar a morte suspeita da dançarina Almalinda. Ele viu a polícia levar o corpo e apagar
pistas para não levantarem suspeitas.
A boate era vizinha do cemitério e ele era coveiro.
Em Inhaminga há o paredão de
fuzilamento. O Diretor da escola foi
do pelotão de fuzilamento nos anos de guerra e não quer prosa sobre o
passado. Benedito também tem suas
razões para não mexer mais no passado.
E fala a Diogo... “vivemos em
sentidos opostos. Tu queres
lembrar. E eu quero esquecer”.
Quarenta anos atrás, Benedito saiu de
seu povoado Inhaminga para fugir da guerra.
Capítulo 18 – O chão do corpo. Apontamentos autobiográficos do Inspetor
Óscar Campos - Os papeis da PIDE – 9
Segundo fragmentos da autobiografia de
Óscar Campos, de 1951.
Voltamos a Inhaminga de 2019.
O Inspetor da Polícia Óscar Campos era
o pai de Almalinda, fora do casamento.
Sobre as guerras e os que ficam e os
que partem da terra por causa destas.
“A guerra tem costas largas.
Usamo-la para explicar o que sucedeu e para justificar o que não aconteceu”.
A dedicatória do pai ao filho, fruto
das escapadas do pai. “Querido Sandro, escrevi livros porque
nunca soube ser autor de minha vida.
Espero que sejas autor dos seus sonhos”.
Árvore de casuarina. Digo como leitor que essa árvore deve ser
bem frondosa e de destaque em certas regiões da África porque a mesma é bem
citada nos mitos dos povos originários.
Capítulo 20 – A culpa dos
inocentes - Os papeis da PIDE – 10
Ano de 1973 (tempo de guerra).
Virgínia na Delegacia brava e o marido
preso. Ela quer que ele fique por lá
preso mesmo. “Se quiserem castiga-lo
tirem-lhe tudo que é papel e caneta.
Ele que apodreça, mais a porcaria da poesia”.
O filho falando com o pai infiel preso.
- “Volta para casa, pai. A mãe vai perdoar-te”. Ele responde: - A mãe é uma mulher de paixões. E a paixão não chama o perdão. Atrai, sim, vingança.
Continua no capítulo 10/10
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
CAP. 08/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano MIA COUTO
capítulo 08/10
Os domesticadores de milagres - cidade de Buzi, março de 2019
Estão na vila do Buzi à margem do rio
do mesmo nome.
Na época da tentativa de suicídio da
mãe de Liana, o pai de Almalinda (Ermelinda) ficou sabendo que ela foi salva
por um pescador no distante rio Buzi e foi lá rever a filha. Ela logo o acusou pela tentativa de suicídio
e pelo suicídio do noivo dela (ele era preto), ela sendo mulata e o pai,
branco.
O pai resolve depois voltar para sua
cidade e pagou para que os que a acharam se calassem. A mãe de Almalinda teve que ser internada
num hospício por conta da tragédia.
O pai pensa em contar a ela que a filha
não morreu e a esposa sararia e voltaria para casa. “voltaria para casa para me atazanar o juízo”.
Nos ventos que prenunciam um furacão. “Há uma chuvinha que
vai tombando sem saber onde cair”.
Tradição local. Enterrar as crianças perto do leito dos
rios, em terras úmidas. “Não se
enterra em terra seca quem ainda não é pessoa”.
“A vida é um percurso da água para a terra,
do barro para o osso”.
Capítulo 14 Os que nascem com raça. (os papeis da PIDE-7)
A PIDE é a polícia do colonizador.
Anotações de viagem do meu pai a
Inhaminga. Viaja só Adriano e
Benedito. Diogo não foi daquela
vez. Benedito no banco da frente pela
primeira vez. O guarda da barreira
(branco) fica bravo por causa do branco estar andando com um preto no banco da
frente do carro.
Deixou passar porque o motorista era
jornalista, mas com muita má vontade por deixar um jornalista ir pra região do
conflito e ainda essa de carregar um preto no banco da frente.
Foram pra falar com Maniara, a madrasta
de Benedito.
A vizinhança da aldeia de Inhaminga
onde vive Maniara e seu povo.
“Havia ali tão pouca terra que a
qualquer lagoa se dava o nome de mar.”
Ela exemplifica a vida de uma mãe na aldeia dela e os conflitos e riscos
para os filhos.
“Transitava de um filho morto para um
outro que ia morrer”. Maniara
fala. “Com esta mão abro a luz; com
esta outra, fecho o escuro”. O filho
Benedito explicou: - “Minha mãe está a
dizer que tem dois serviços: é parteira
de dia e enterradeira à noite”.
O jornalista reparte o lanche com
Benedito que estranha o gesto do patrão.
Depois vai lavar os pratos e Benedito, de novo, fica indignado.
O jornalista avisa... “hoje o teu serviço vai ser o de contares a
história da sua mãe”.
A mãe biológica de Benedito morreu ao
pisar numa mina explosiva. Daí ele ficou
com a mãe adotiva, Maniara, com quem no passado o pai dele teve um caso. Desse caso, nasceu um filho que já em
seguida morreu. Na casa de Maniara, o
jornalista se reencontra com Sandro e este estava vestido de mulher e fazendo trejeitos
femininos.
Depois de breve conversa entre ambos, o
jornalista resolve voltar para casa.
Vai dizer à esposa que Sandro se juntou à guerrilha da Frelimo Frente
Nacional de Libertação de Moçambique.
Capítulo 15 – Uma chaga na pele do
tempo - Beira, março de 2019
Visitam a casa da cabeleireira Soraya
em busca de pistas da mãe de Liana. Ela
vendo na TV a fala de um bispo protestante brasileiro. Desliga a TV para falar com as visitas. Diz que aprende português brasileiro com os
pregadores e as novelas do Brasil.
Soraya se gabando do corpo que ela
julga em dia. O segredo seria nunca
beijar na boca os fregueses como as outras fazem. E acrescenta o resultado negativo nas que
beijam: “Havia de as ver, andam com o
corpo pendurado no pescoço”.
Liana diz a Soraya que é filha de
Almalinda, amiga e colega de prostituição de Soraya. Do baú, Soraya tira um vestido que foi de
Almalinda no tempo das danças na boate.
Almalinda quando bebê foi enviada para
um orfanato em Moçambique depois que a mãe dela morreu em um manicômio. Em seguida foi enviada para Lisboa. Aos 15 anos, ela resolveu voltar para
Moçambique para morar com o pai. Ela era
linda. O pai não teve os cuidados
paternos com ela, apesar de lhe pagar os estudos. Era linda e de pele escura e cabelos
encaracolados.
Voltou depois do afogamento para o orfanato
em Lisboa. Ao completar 18 anos, os
enfermeiros do orfanato tocaram nela e lá havia uma prática de uma vez por mês
uns homens virem escolher as “mulheres de aparência” e levavam sem volta, não
se sabia para onde. Voltou mais uma
vez para Moçambique depois de ter uma filha em Portugal e de fazer
Secretariado.
Continua no capítulo 09/10
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
cap. 07/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO
capítulo 07/10
Papel 20 – Excerto do meu diário. A avó, o mar e os fatos
Diogo usava consumir flocos de aveia no
café da manhã.
Juliano, o preto velho que sempre foi
empregado da avó Laura de Diogo. A avó
dizendo que o marido queria despedir o empregado porque ele estava muito velho
e que por isso não ajudava em nada.
...”este preto – que todos dizem não ser já de nenhum préstimo – todos
os dias nos traz uma história”. A
patroa, avó Laura, vê isso como um grande serviço.
“Não imaginas como preciso escutar
essas histórias”.
Capítulo 11 – Os domadores do caos -
cidade da Beira, março de 2019
O velho farmacêutico militante do
passado, natural de Goa, que foi província portuguesa no sul da Índia. Benedito levou o Diogo para visita-lo,
estando então o velho acima dos noventa de idade.
“Estou velho e tão magro que já tenho
mais ossos do que palavras.”
O velho Natalino que foi um dos
agitadores da revolução e era comunista.
Em 1962 a Índia tomou o governo de Goa
e Natalino foi preso por uns tempos.
“Nunca Natalino disse uma palavra sobre o que tinha padecido no
cárcere”. Não há lamento mais digno que
o silêncio.
Era o que ele sempre dizia. Em certo momento, Diogo esperando o
barco. – Que horas parte este barco?
O marinheiro responde: “O horário aqui, meu boss, é quando aparecer
o último passageiro. O barco fica cheio
e nós arrancamos pontualmente”.
O Diogo pergunta qual a lotação do
barco e vem a resposta: “O limite
máximo pode chegar a uma média de vinte e tal pessoas. Mas aguenta até cinquenta, dependendo da
ventania”. Esta viagem que vão fazer
demora ao redor de três horas rio acima.
“No mar é como na caça: contam-se histórias”.
Ventania, ondas fortes, água entrando
no barco. O piloto diz: “Este barco é uma igreja flutuante, reza-se
mais aqui que nas igrejas”. “Um dia
começo a cobrar o dízimo”.
O guia que é da região da terra
visitada vai parando para conversar com cada conhecido que não vê há
tempos. E a prosa tem assuntos de
colheitas, saúde dos amigos etc.
Na repartição pública “na parede
lateral está suspenso um relógio antigo.
Está avariado, os ponteiros estão mortos”.
Termo mizungo, equivale a mestiço.
A viagem de barco foi de Beira até
Buzi, sendo uma viagem por um rio e seu afluente. Foram buscar informações sobre a mãe de
Liana. A que se atirou no mar junto
com o namorado, ambos amarrados juntos para se suicidar porque os pais não
deixavam eles se casarem.
Capítulo 12 – Se os mortos não morrem. Quem é dono do passado?
Os papeis da PIDE – 6
Adriano, pai de Diogo, era ateu. “Estou a chegar aos cinquenta anos, altura
em que a idade se vai tornando uma doença.”
O desprezo da candidata a sogra
portuguesa em relação a alguém (alguma pretendente) “de menor estatura”. A sogra ao conhecer a futura nora: “Tantas moças do nosso meio e foste buscar
uma rapariga da aldeia!”
A nora em carta à sogra depois de
muitos anos. Chorei e chorei muitos
anos... a senhora me obrigava a sentir
vergonha de mim mesma”.
Carta do Inspetor de Polícia – Óscar Campos
O inspetor vê na rua protestos de
brancos contra o exército que está supostamente lutando para defende-los. “Alguém disse que a esperança alimenta
multidões.” Pois eu digo: “O desespero cria exércitos alucinados”. Estes protestos atingiram a honra da
corporação. (do exército).
“A Beira nunca foi nossa. Eles elegeram o candidato da oposição. O quase cego da família, um octagenário ... “ser quase cego é pior que ser
completamente cego... “a cegueira total
inspira compaixão. Mas não ameaça
ninguém. A cegueira incompleta suscita
meto. Entre os da nossa família, nós
nos indagávamos o que é que esse nosso tio era capaz de ver”.
Um paralelo do militar. Entre nós militares neste tempo de
guerra. Quem é o inimigo?
Um dia o Inspetor devolveu o caderno de
poesias inédito que tinha confiscado do poeta.
Ele não estava em casa e a esposa dele recebeu o caderno. Estava sendo pintada a casa dela e ela,
irada, pegou o caderno e enfiou dentro da lata de tinta.
Continua no capítulo 08/10
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
CAP. 06/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO
capítulo 06/10 (leitura em fevereiro de 2022)
Voz do comando das tropas: “Se derem atenção aos pretos, eles desatam
a contar-nos histórias e acontece como nas Mil e Uma Noites: nunca mais vocês os matam”.
“Ainda bem que eles falam outra língua,
disse o capitão. Se os entendêssemos,
nesse momento deixariam de ser inimigos”...
Sandro que é gay e soldado quer como
soldado deixar a causa dos colonizadores e passar para o lado da guerrinha
armada pelo seu povo.
Sandro em carta fala ao seu tio adotivo
Adriano Santiago que é jornalista e poeta:
“Quando pensa poeticamente o tio diz coisas acertadas”.
Papel 17 – Excerto do meu diário - Teatro de sombras – ano 1973
................... Capítulo 9 – Os fintadores do Destino
Cidade da Beira, março de 2019
Liana pede para o jornalista Diogo
falar com o padre Martens no telefone.
– Como você descobriu o padre Martens?
Resposta dela: Milagre chamado
internet. “É uma seita com mais
seguidores que qualquer religião. E já
tem fanáticos...”
As fotos secretas que eram para
Adriano, lá no passado entregar a um revolucionário. Adriano se enganou e entregou fotos de
mulheres bonitas no lugar das fotos relativas à revolução.
Benedito agora, 2019, é do Partido que
está no poder na Moçambique independente.
“O seu amigo agora é uma pessoa importante”. O reencontro entre Benedito Fungai e Diogo
depois de mais de quarenta anos.
Diogo em reflexão: “E vejo nele como eu próprio envelheci”. Homens andando de mão na mão é costume em
nossa terra.
Benedito, no passado, criado por
patrões portugueses, tinha vontade de ir para a guerrilha. “Foi assim que aconteceu – diz Benedito –
Em casa de portugueses aprendi que era moçambicano.”
Mais adiante, Benedito já na guerrilha,
comunica ao pai que passou a lutar pela liberdade. O pai diz:
- Pobre do povo que é oprimido – vaticinou Capitine – E mais pobre o
povo que tem que ser libertado”.
Diogo e Benedito recordando em 2019 na
infância e os tempos das peladas de futebol.
Entravam em campo em fila como se houvesse torcida. O Diogo puxava a fila e os meninos o
aplaudiam muito. “Na altura eu não
percebia: não aplaudiam o jogador, mas o
dono da bola”.
Um dia receberam um time de meninos
ricos, todos brancos. O time do Diogo
era de povo simples, mesmo todos brancos, menos o Benedito, que jogou no gol.
Passados muitos anos, Benedito já
autoridade na cidade, no campinho pede para o Diogo contar um causo da infância
deles num jogo de futebol. Contar para o
jovem sobrinho de Benedito. O jovem
ouve o causo e depois volta ao jogo.
Benedito diz ao amigo: “Tenho
inveja de ti. E não é a fama, não é o
sucesso. Imagino um escritor como
alguém que vive a vida dos outros.
Benedito conta ao amigo Diogo que
Sandro era na verdade filho do pai de Diogo com uma amante. E que ela era dançarina de cabaré. Virgínia, mãe de Diogo inventou a história
de acidente de automóvel dos pais de Sandro.
Isto foi para enganar os vizinhos sobre o caso.
Sandro então, por parte de pai, era o
único irmão de Diogo e ele não sabia.
Cresceram “primos” juntos.
Capítulo 10 – A espera do fim do mundo
Os papéis da PIDE – 5
O Papa Paulo VI pediu aos padres que
atuavam em Moçambique que não abandonassem o país quando este passou pela revolução
de Independência.
Parte 19 – Carta do Inspetor de Polícia
– Campos
Na rebelião popular (anos 70) o exército prendeu todos os
suspeitos em Inhaminga. Era muita
gente. Mandavam os presos para trás do
hospital. Faziam os presos abrirem a própria
cova e depois eram fuzilados.
A família dos executados vinham à
polícia em busca de informação e eram informadas de que os presos estavam “desaparecidos”. Que tinham ido ao mato buscar lenha...
Entre os executados... “havia ali velhos, mulheres, rapazitos”.
O agente em carta reclamou ao seu
superior. “Não poderíamos matar tanto e
tão a eito”.
As execuções começaram a causar mal
estar nas tropas portuguesas. Os
soldados portugueses tinham colocado muitas minas terrestres na região do
conflito em Moçambique.
Continua no capítulo 07/10
domingo, 13 de fevereiro de 2022
CAP. 05/10 - fichamento - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor Moçambicano - MIA COUTO
capítulo 05/10
Capítulo Seis do livro – O Corpo como
Cemitério (Os papeis da PIDE -3 –
polícia da repressão)
Um soldado fala ao jornalista no tempo
que o narrador era garoto e estava na companhia do pai na conturbada Inhaminga.
O soldado português diz que seus
colegas são todos medrosos da guerra.
Que se pudessem, voltavam todos para casa. E acrescenta: “O que eles não sabem é que ninguém volta de
uma guerra”. (se volta fisicamente, mas
a cabeça é outra, perturbada)
Declaração da líder Maniara (a que é
parteira e enterradeira de mortos do conflito)
Foi ela que trocou a bandeira
portuguesa pela capulana (roupa típica
de Moçambique). O que deu toda a confusão
na aldeia de Inhaminga.
“Quem primeiro vê os mastros são os
deuses. Se mexi na vossa bandeira foi
para agradar os antepassados”. Ela
lavava fardas dos soldados. Ela, sobre
os jovens soldados. “É sempre assim com
estes rapazes: por mais tamanho que
tenham, a farda fica-lhes sempre demasiado grande”. “Não é o corpo que lhes falta. É a idade”.
Ela sobre os soldados portugueses: “Que soldados são os deles que não cantam e
não dançam?”
O padre moçambicano que recebe na
igreja o alferes que comandou as tropas que executaram várias pessoas em
Inhaminga. Ele, negro.
Disse do seu dilema. É padre, mas ninguém confessa com ele. Para os portugueses, por ele ser preto e
pelos locais por ele ser padre (cristão, fora das tradições religiosas deles)
Ele diz que lá ele atende o Deus dos
brancos de dia e os deuses da sua terra à noite.
O Alferes tinha tatuagem no braço com “amor
só de mãe”. E após matarem os locais,
Maniara protestou e disse que todos ali tinham pais e ela era a mãe de
todos. Aquilo abalou o alferes.
A poeira na estrada. “O carro brecou, os pneus deslizaram pela
areia vermelha levantando uma imensa nuvem de poeira que engoliu o homem, o
carro e a estrada.”
Eles em Inhaminga, zona de conflito e
terra de Benedito e sua gente.
O pai de Benedito fala mais a língua
local e já foi preso político várias vezes
Para falar em prisão, pronuncia o termo prisão na língua portuguesa
porque na linguagem deles, nativos, não existe esta palavra.
O pai de Benedito (ao ser preso) “Era o
primeiro de sua aldeia a dormir numa casa de cimento”.
Argumenta: “que queriam tanto a sua companhia que até
fecharam a porta à chave”. (ele
preso...)
Capítulo 7 – Há chumbo dentro de Camila
Cidade da Beira, março de 2019 (ocasião que Diogo, filho de Adriano está de
retorno após décadas, ao lugar onde viviam)
Diogo (jornalista e poeta) no Hotel e
recebe recado de que tem visita. Pensa
que era Liana e autoriza a portaria a deixar a visita entrar. Chega Camila e não, Liana. Usava vestido curto. Agora Camila com 65 anos de idade. Ele recordando. O pai dela matou o namorado dela no dia que
ela fez 15 anos.
Camila depois na rua conversando com
Diogo e pega uma pedra para atirar na delegacia de polícia. Ela não se conforma pelo fato de Moçambique
manter a polícia no mesmo prédio depois da Independência (1976), prédio este
onde os repressores puniam seu povo.
Capítulo Oito – As Notícias (Os papéis da PIDE – 4)
Anotações de meu pai. A Encomenda – ano de 1973
Falando a um líder revolucionário, o
português Pacheco.
“A nossa causa está a crescer, camarada”. “Não sei qual é a sua causa, meu caro
Pacheco – declarei – A minha causa é ter emprego, cuidar da minha família...” (diz o jornalista Adriano, pai de Diogo)
Carta do Soldado Sandro para minha
mãe
Voz do comando das tropas: “Se derem atenção aos pretos, eles desatam
a contar-nos histórias e acontece como nas Mil e Uma Noites: nunca mais vocês os matam”.
“Ainda bem que eles falam outra língua,
disse o capitão. Se os entendêssemos,
nesse momento deixariam de ser inimigos”...
Continua no capítulo 06/10
sábado, 12 de fevereiro de 2022
CAP. 04/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO
cap. 04/10
O da polícia para
saber dados de Adriano Santiago (pai de Diogo) foi procurar a mãe dele.
Disse a ela que iria visitar em Moçambique o lugar onde ele vivia e que
se interessava por ouvir dados do local. E deu corda para ela ir
falando. "Uma pessoa daquela idade troca tudo por um momento
de atenção". A velha sabia que ele era Inspetor de
Polícia, da PIDE Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
A mãe de Adriano: “Não se preocupe com meu filho. O meu filho é um sonhador. “Sonha com a política como sonha com as
mulheres”.
“O Adriano acha que a poesia é o mais
poderoso dos explosivos”.
A mãe de Adriano acha que ele quis
sempre ser criança. “É por isso que o
Adriano escreve versos. É por medo. O meu filho tem medo de olhar o grande vazio
de sua vida”.
O Inspetor da Polícia quis saber o que
o levou a ir par Inhaminga. (o lugar
onde o conflito estava mais acirrado)
Ela sabia que a FRELIMO Frente Nacional
de Libertação de Moçambique atuava por lá inclusive. A Frelimo matou um maquinista de trem
branco.
O Sandro fez serviço militar e atuava
na terra dele pelo colonizador, contra a guerrilha da Frelimo.
A mãe do poeta fala ao policial. Sobre o filho adotivo dela, o Sandro, ser
atualmente militar. “Foi mandado para
o serviço militar. Acho graça que se
chame ‘serviço’ a ocupação que consiste em matar pessoas”. “Meu filho Adriano não é fiel na
política... O meu filho será um eterno
amante da vida, das mulheres e de devaneios poéticos. O regime dele só existe em sonhos”.
Papel 8 – Depoimento da vizinha Rosinha
– vizinha da família de Adriano.
A vizinha dizendo que a família de
Adriano é muito doida. ...”dona Laura,
sendo mulher, se põe a ler livros na varanda à frente de toda gente. Exibe-se assim, sem pudor, de manhã à noite”.
...”os pretos lá na tradição deles, são
muito dados a visitar os familiares e, para eles, os parentes são todos
misturados, os vivos e os mortos”.
A vizinha diz que faz reuniões na casa
dela, mas não são de política. Ela é
espírita. E diz: “O inspetor sabe dos segredos dos vivos. Pois eu conheço os segredos dos mortos”.
Papel 9
- Diário de uma mãe, Virgínia Santiago (mãe de Adriano)
A esposa de Adriano, jornalista e
poeta, que não impediu o marido e o filho Diogo a irem para o local dos
conflitos, Inhaminga. “...fazer as
malas e vou sair desta cidade. Não sei
para onde. Não saber para onde fugir é
tão triste como ficar em casa”.
Capítulo 5 do livro – Uma alma
esburacada.
Cita Lao Tsé: “A lembrança é um fio que nos condena ao
passado”.
Encontro do poeta Diogo (filho de
Adriano) com uma vizinha e amiga de
infância. Camila, que veio com sua mãe
Rosinda. “Esta mulher que me abraça é linda e sabe da
sua beleza”.
A velha parente recordando a mãe do
jornalista. “A tua mãe dizia que na
nossa cidade, tão fechada e cinzenta, faltar à verdade não era um pecado. Era uma generosidade”. O
marido da velha, Vitorino Sarmento, dizia sobre o povo seu e os da
colônia. “Estes pretos, mesmo sendo
estranhos, são todos da mesma família.
Que inveja dessa gente. Nosso
caso é inverso. Somos parentes e nunca
chegamos a ser família”.
Rosinda, viúva, mãe de Camila,
declara: “Esta cidade que vai te
libertar é a minha prisão. Passo a vida
em casa.”
Na saída, Camila de forma escondida da
mãe, deixa o número do telefone para o jornalista Diogo. A mãe entrega a Diogo uma carta.
O guarda do cemitério é Capitane, pai
adotivo de Benedito e Jerónimo.
Vitorino Sarmento (pai de Camila) tinha
como criado o Jerónimo, tinha um quê com essa filha e ficou possesso quando
pegou ela no flagrante com o criado Jerónimo no passado. Montou uma farsa e matou o criado e a outra
filha dele. Por causa do crime que
cometeu e pelo caso que tinha com a filha Camila, Vitorino ficou louco. Toda noite tinha a visão de que o morto
estava na porta de sua casa e que ele tinha que remover o corpo de lá. Pirou.
Em Portugal já tinha terminado o tempo
do ditador Salazar no poder e já era tempo do presidente Marcelo Caetano.
Logo após o crime, Vitorino internou Camila num hospital
psiquiátrico sem indicação médica.
Mais adiante, Vitorino já louco, foi internado no mesmo hospital. Mais ou menos no mesmo tempo que Camila foi liberada
do hospital. Vitorino morreu na cela
dois dias depois.
Continua no capítulo
05/10