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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

CAP. 11/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 11/20

 

         Vinicius de Moraes e seu violão na casa de Jorge.  “À beira da piscina, o inseparável copo de uísque ao lado, violão em punho, Vinícius cantava”.

         Vinicius foi casado com uma baiana e chegou a ter casa na praia de Itapuã-BA.   Tentou morar lá de forma permanente.   Fez música sobre a praia de Itapuã.

         Um dia ele, na casa de Jorge, violão em punho, copo do lado, resolve cantar uma musiquinha para os netinhos do casal anfitrião.    Ele canta algo inédito e Zélia corre pra dentro e traz o gravador e grava meio na surdina.

         Manteve essas gravações guardadas e depois da morte de Vinícius, ela entregou a gravação à companheira dele.   Foi assim que nos chegou a gravação de músicas infantis como aquela  “Lá vem o pato, pata qui patacolá...”.    Também o clássico:   “Era uma casa muito engraçada / não tinha teto, não tinha nada...”

         Relembrando, Vinícius foi diplomata e serviu em Paris.   Quando ele frequentava a praia em Itapoã-BA, a rua vizinha onde o artista plástico Calazans Neto tinha casa era precária e nem nome tinha e ficava difícil até a correspondência.   Pediu tantas vezes à prefeitura para cuidar disso.  O amigo Vinícius fez uma Petição em versos ao prefeito da cidade e logo em seguida foi atendido.   A rua passou a ter nome e recebeu calçamento.   O artista plástico era procurado por turistas do Brasil e vários até do exterior.   Ficou mais fácil achar a casa com o atelier dele.

         A petição foi feita por Vinícius e publicada por Jorge Amado no Jornal A Tarde.    Deu resultado.

         Conceito de liberdade

         No tempo da ditadura militar, Vinícius de Moraes, então Diplomata em Paris, foi despedido.   O despacho do presidente General Costa e Silva: “Afaste-se esse vagabundo”.   Assinado – presidente Costa e Silva.

         Tempos de repressão e uma repórter entrevistando Vinícius e provocando para levar para o campo da política.   Perguntou a ele sobre o conceito dele para liberdade.  Ele foi irreverente:  - “Meu conceito de liberdade é fazer cocô de porta aberta”.

         O homem forte

         Odorico Tavares era o homem forte dos Diários Associados no estado da Bahia.   (Os Diários Associados eram tipo as Organizações Globo...)

         A empresa do pernambucano Assis Chateaubriand trouxe o primeiro canal de televisão para a Bahia.

         Odorico tinha em casa uma coleção de obras de arte em óleo sobre tela de vários artistas famosos como Di Cavalcanti e outros.   Ele frequentava a casa de Jorge Amado.

         Sem sair do lugar

         Jorge Amado tinha dois cães da raça inglesa Pug e um deles tinha o nome de uma personagem do livro de Charles Dickens, de quem Jorge era fã.   Di Cavalcanti na época tinha recebido o título de Doutor Honoris Causa da UFBA Universidade Federal da Bahia.    Antes, o pintor tinha sido nomeado por João Goulart para embaixador na França.   Assumiu num dia, João Goulart no outro dia foi cassado pelo golpe militar e Di Cavalcanti, comunista, foi apeado do poder.   Foi embaixador por um só dia.

         Festival de Cassações

         Perseguições políticas pelo regime militar e cassações.  Começou em 1964 e o AI 5 Ato Institucional de 1968 endureceu ainda mais o regime, dando mais poderes ao presidente general.    “...dando poderes totais ao regime militar, carta branca para cometer crimes: prender e torturar, cassar os direitos do homem, sobretudo de cientistas, compositores, cantores, artistas plásticos, jornalistas”.

         Dos compositores, os mais visados foram Caetano Veloso e Chico Buarque de Holanda.    Tanto que Gilberto Gil ficou sem clima para cantar e compor e se autoexilou na Europa.   Nessa fase ele compôs a música:  Aquele Abraço.    Chico Buarque viveu no exílio na Europa e no período viveu uns anos na Itália.    Nesse tempo Roberto Carlos fez a música para Caetano Veloso, a música Debaixo dos Caracois dos Seus Cabelos.

 

                   Continua no capítulo 12/20

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

cap. 10/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo       10/20

         Gatos

         A mãe de Jorge sempre gostou de gatos e ele herdou esse gosto da mãe.  Ao ponto do gato dele dormir sobre sua máquina de escrever e ele adiar o trabalho para não acordar o gato.

         Uma vez Jorge estava em São Paulo e acabou vendo um anúncio e comprou uma gatinha siamesa novinha.   Colocou nela o nome de Dona Flor.  A gata cresceu linda.  Até que um dia.... foi pega cruzando com uma gata da família.   A Dona Flor era macho.   Os empregados da casa queriam agora mudar o nome do gato porque não achavam legal ele ter nome feminino...        

         A gata que cruzou com Dona Flor se chamava Gabriela, sempre personagem dos livros de Jorge.

         O golpe do bicho preguiça

         Um dia Jorge viu na rua um camelô vendendo um bicho.  Era um bicho preguiça.   Comprou e levou para casa escondido da esposa.  Soltou no quintal e o animal subiu no pé de mulungu.  Num dia o bicho comeu todas as folhas do mulungu.  Nos dias seguintes, comeu as folhas dos outros dois pés de mulungu e o bicho sumiu do quintal.    O casal nem saiu procurar o bicho pela vizinhança até pelo estrago que ele fazia nos jardins.

         Passam dias e um dia Jorge passa pelo mesmo local onde comprou o preguiça e lá estava de novo o camelô vendendo o bicho preguiça.   Jorge passou longe do vendedor.

         Um ebó sem rumo certo

         Nos domingos os amigos se reuniam para jogar baralho.   Eles no pôquer e elas na tranca ou no jogo de buraco.

         A mãe de Jorge desabafando:   “Tu nem imagina, meu irmão, os amigos de Jorge aqui na Bahia não trabalham, são todos artistas, todos vagabundos, só vivem pintando quadros, cantando, gostam de conversar, rir e de jogar baralho... O único trabalhador deles é Jorge, vive escrevendo o coitadinho, às vezes tenho até pena...”

         Galeria de fotos no livro:  Numa delas, manchete de jornal dizendo quanto Jorge recebeu pelos direitos junto à Metro sobre o livro Gabriela.  Foram 50.000 dolares no ano de 1963.    O negócio propiciou ao casal comprar a Casa do Rio Vermelho.

         Glauber Rocha

         Nos anos da ditadura militar, Caetano Veloso se exilou em Londres e lá Jorge Amado se tornou amigo dele.    Jorge ficou seis meses morando em Londres e lá escreveu Tieta do Agreste.

         Dos artistas de destaque da Bahia, Zélia destaca que o mais amigo de Jorge foi o cineasta Glauber Rocha.   “Acompanhamos a carreira de Glauber e sua vida até o fim”.

         Zélia disse que Glauber foi patrulhado pela esquerda no Brasil no tempo da ditadura porque ele conseguia dialogar com o General Golbery do Couto e Silva que era a eminência parda (agia nos bastidores) dos governos militares.  Ele tinha grande poder nos governos militares.

         Glauber foi viver em Portugal, lá adoeceu e Jorge recomendou que ele voltasse para perto da mãe para cuidar melhor da saúde.  Esse conselho de Jorge, ele não seguiu.  Quem morava em Portugal na época e era amigo comum de Jorge e Glauber era o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, este que acompanhou no que pode o amigo até que Glauber veio a falecer.   Glauber quando estava já perto de falecer, foi transferido para o Brasil mas logo que aqui chegou, faleceu.

         Dorival Caymmi

         Era assíduo frequentador da casa de Jorge Amado.  Época na qual Caymmi compôs a música Minininha do Cantóis.   Era tempo do terreiro de Cantois e a Mãe de Santo local era Minininha do Cantóis.

         Mesmo em Salvador era bastante comum as pessoas confundirem Jorge Amado com Dorival Caymmi e vice versa.   Jorge levava numa boa.

         Sobre essa semelhança, Zélia diz que eles tinham alguma semelhança “só na cabeça branca”.

        

         Continua no capítulo 11/20 

sábado, 30 de dezembro de 2023

CAP. 09/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

  capítulo 9/20

 

         Houve a passeata dos estudantes e passando em frente ao Palácio, um estudante ajuntou uma pedra para atirar no Palácio.   Zélia deu um alto lá! E o estudante jogou a pedra fora.   Se jogasse a pedra, formaria tumulto e daria um argumento para a polícia reprimir o movimento e até prender os líderes da passeata que era de protesto mas era pacífica.

         A passeata terminou perto da Reitoria da UFBA Universidade Federal da Bahia.   Terminou com cerco policial, gás lacrimogênio, mas sem prisões nem vandalismo.   Zélia fez valer a experiência do tempo de militância estudantil.

         Ladeiras da Bahia

         Há ladeiras para todo lado em Salvador.    Dadá realiza seu sonho.  Na Ladeira dos Perdões morava Dadá, viúva do cangaceiro Corisco, lugar-tenente de Lampião rei do cangaço.    Dadá tinha quatorze anos quando foi raptada por Corisco no tempo do Bando do Lampião.

         “Fora muito feliz com o cangaceiro e não admitia que falassem mal dele.”.   Dadá não deixou enterrarem Corisco sem a cabeça.  Ele e outros do bando foram fuzilados e depois decapitados.   A cabeça dele e de outros estavam em vidros com conservante na Faculdade de Medicina.

         Dadá guardava os ossos de Corisco por anos debaixo da cama e lutava para ter a cabeça dele de volta para lhe dar um sepultamento digno.

         Mais adiante o governador da Bahia, Luiz Viana Filho, determinou que as cabeças fossem devolvidas às respectivas famílias.   Só então Dadá conseguiu sepultar Corisco da forma que achava mais digna.

         Jorge e Zélia estão entre os que ajudaram na coleta para realizar o sepultamento de Corisco.

         Biografia de Corisco e Dadá

         Um dia um vigarista entrevistou Dadá e depois foi tentar uma “parceria” com Jorge Amado para escrever um livro sobre o casal de cangaceiros.    Jorge logo de cara deu o fora no oportunista, que mesmo depois do não, continuou telefonando para Jorge ainda tentando a tal parceria.

         As campainhas tocam

         Gente na porta de casa ou no telefone pedindo coisas  até inusitadas.  Esta, por telefone:  -É dona Zélia?   Jorge Amado não pode atender?  Então falo com a senhora mesmo.  Sabe o que é?   Minha professora mandou que a gente lesse o livro de Jorge Amado, o Mar Morto.   Eu não tive tempo de ler e preciso falar sobre ele hoje.  Se não souber, tiro zero”.

         Por haver em Salvador o Teatro Jorge Amado em homenagem a ele, muitos pensam que o teatro é dele e costumam pedir ingressos para eventos no local.     Tem até candidatos a ator ou atriz que liga achando que ele pode indicar a pessoa para atuar no teatro.

         Aparece gente querendo contar a história da vida dela para ver se Jorge Amado se interessa em colocar em algum livro.      ...”é um história muito boa, muito forte, vai dar um romance e tanto, com toda certeza” – garante um dos interessados.

         O imperador romano

         O famoso jato Concord fazia voos comerciais entre o Rio de Janeiro e Paris com escala em Dacar na África.  Demorava a metade do tempo dos voos normais de jatos convencionais.     Por essa rapidez, Jorge e Zélia usaram várias vezes o Concord para ir ou vir de Paris.

         Até padre apareceu lá na casa de Jorge  com livros  para ele autografar. 0 leitor começa elogiar Jorge e ele fica encabulado diante de elogios.

         Ao se despedir, o padre ajoelhou diante de Jorge e disse que ele se parecia com um imperador romano.

         Casa pronta, Hóspedes ilustres

         Concluída a reforma da Casa do Rio Vermelho, foi uma sequencia de visitas de amigos ilustres.   Muitos citados nominalmente por Zélia no livro.

         Na ampla casa tem o gabinete que seria para Jorge escrever mas ele não usa o local para isso.  Prefere sempre estar no ambiente social da casa interagindo com as pessoas e querendo saber quem telefonou, quem bateu na porta e assim por diante.   É o jeito dele.

 

         Continua no capítulo       10/20

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

CAP. 8/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 8/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Casa Cheia

         Muitos amigos em Salvador.  Jorge era obá no terreiro Axé Apô Afonjá, de Mãe Senhora.    O amigo que mais entendia de Candomblé era Vivaldo da Costa Lima.    Quando o francês Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir visitaram a Bahia, foi Vivaldo o indicado para repassar explicações sobre candomblé a eles.

         O jovem Emanoel Araujo, artista plástico e uma bela série de telas sobre gatos.    Zélia cita também:   “Luz da Sena, mulher poderosa, tornara-se nossa amiga desde a nossa chegada à Bahia”.

         As velhinhas se encontram

         O casal recebe por uma temporada as mães deles.   Lalu, mãe de Jorge era só elogios aos filhos “sem defeitos”.    Já a mãe de Zélia era mais modesta.   As duas eram “inimigas íntimas”.   Rolava muita prosa entre elas.

         Casa das frutas

         O povo baiano não era de comer verduras.   Frutas até que consumiam.

         Um dia abriu uma frutaria em Salvador.    O motorista do amigo de Jorge tinha a missão de achar a frutaria e ele entendeu putaria e procurou na vizinhança e não achava.   Nem o motorista de taxi da área soube indicar, mas deu um aviso:    Se você achar a tal putaria aqui perto, me avisa!

         Hóspede inesperado

         Um carro parou na casa de Jorge, deixaram lá um cidadão, disseram que era um diretor de cinema tcheco e que pediram para deixa-lo na casa do casal.   O casal no passado tinha vivido um pouco do exílio na Tchecoslováquia e acharam que eles eram fluentes no idioma...

         Foi acolhido e soube-se que ele iria ser homenageado em Salvador pelos cineastas e intelectuais do ramo de cinema local.     O tcheco pediu laranjas e Zélia serviu e ele pediu água, colocou para ferver depois colocou as laranjas dentro para “matar os micróbios” e em seguida consumiu as frutas.    Ele disse que foi recomendação que trouxe da Europa para visitar o Brasil.

         Golpe de estado

         O golpe militar de 1964

         Deposto João Goulart e os militares colocaram na presidência o Marechal Castello Branco.    E começa a perseguição aos militantes da esquerda.   Nos anos Vargas Jorge e Zélia já tinham sido perseguidos e tiveram que ir para o exílio.

         Um casal amigo deles e colega do tempo da faculdade de Direito estava feliz com o que chamaram de revolução.  E veio com conversa e Zélia já foi avisando:   “Olhe, Wilson, não venha falar de revolução nesta casa!  Estamos cansados de sofrer, cansados de golpes militares.   Me admira você, nosso amigo, vir com essa conversa de revolução, revolução fajuta, fascista, que vai acabar com a liberdade, vai botar todo mundo de novo na cadeia...”

         Acabou que o estudante e lider estudantil João Jorge foi preso e o Wilson, pela velha amizade, conseguiu viabilizar a soltura do filho do amigo Jorge Amado.     O jovem participava de passeatas contra o golpe.

         A ditadura de 1964 apreendeu até os livros editados por Jorge Amado.

         Leitores de Jorge sendo taxados de comunistas apenas por lerem os livros dele.    Estava na fase de impressão o livro de Jorge, Os Pastores da Noite.

         Dona Zélia entra na dança

         Os estudantes protestavam contra o acordo do governo militar com os USA, convenio MEC-USAID.    Paloma, filha do casal chega em casa dizendo que iria participar de uma passeata contra o convênio.  Ela era aluna do Colégio de Aplicação ligado à UFBA Universidade Federal da Bahia.

         Ela avisou a mãe que iria participar e achou que a mãe iria colocar obstáculo.    Não só Zélia concordou, como avisou que iria também.  E foi.

         A causa era justa.    Paloma ficou admirada, mas Jorge esclareceu que foi nessa lida de militantes que os dois se conheceram no passado e estão juntos.

         A passeata

 

         Continua no capítulo 9/20       

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

CAP. 7/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 7/20

 

         Maus presságios.   João Goulart na presidência do Brasil e o cenário político se complicando.    Jango teve que passar para a reserva alguns generais com perfil golpista.      Jango fazia um governo um pouco voltado para a esquerda e tinha apoio de vários setores sociais que andavam inclusive fazendo passeatas na ocasião.

         Jorge Amado já tinha sofrido com uma ditadura militar no passado, perseguido, preso e exilado e sentia o desconforto do momento.   Ele e Zélia apreensivos.   Achavam que Jango estava cutucando o leão com vara curta.

         “Com esse espírito de preocupação, viajamos de mudança do Rio para a Bahia no final do ano de 1963”.   (a ditadura que derrubou Jango foi na passagem de março para abril de 1964).

         Antes da mudança do casal, o Coronel João, pai de Jorge Amado faleceu.

         Zélia e uma amiga arrumando as malas para a mudança – a parte que iria de carro.    Livros, presentes etc.

         Jorge foi só para colocar as malas no carro.   No meio da tarefa entrou bravo em casa dizendo que não coube nem a metade das malas.   Deu em choro.     Depois que Zélia se acalmou, ela desceu até o carro, organizou a bagagem e coube tudo certinho.

         A casa começa a funcionar

Na Bahia, decidiram colocar as crianças numa escola pública para elas ficarem mais integradas com as pessoas do povo local, os menos privilegiados.

         “Queremos nossos filhos sem empáfia, eles deveriam conhecer de perto as necessidades do povo”.

         Explosão

         Ligaram ao mesmo tempo na casa nova três geladeiras e um freezer e a sobrecarga na energia deu um estouro no transformador da rua e ficaram sem energia.    Por conta disso, tiveram que pagar caro por um novo transformador bem mais potente na rede elétrica pública.   Saiu cara a fatura.

         O sapo cururu

         “A casa estava pronta e graças ao excelente arquiteto e aos nossos amigos, grandes artistas da Bahia, tínhamos conseguido o que desejávamos: viver numa casa ampla, arejada, agradável, sem requintes de grandeza, combinando com nossa maneira simples de ser, vida simples, sem ostentação”.

         Tinha até sapos coaxando à noite no quintal que tem um laguinho no jardim.   Jorge gostava de ver e ouvir os sapos.

         Carybé apareceu de visita, viu o sapo e adorou.   Brincou com ele até.  Disse que gostaria de ter um sapo em casa também.

         Passam os dias e Zélia gravou o coaxar do sapo e levou a gravação escondida para a casa do Carybé.    No meio da prosa, ela deu uma escapadinha, ligou o gravador no som alto, isto à noite, e Carybé ficou todo eufórico.   Catou uma lanterna e saiu procurando no quintal o tal sapo.

         Era um trote de uma série que vinham pregar na base do chumbo trocado.

         Calasans Neto

         A casa do casal tinha muitos toques artísticos e só a porta de entrada, azul, era sem graça.   Foi então que o artista amigo, Calasans Neto, fez uma porta entalhada com o casal de personagens de Tereza Batista, protagonista de um romance de Jorge Amado.

         O artista destacou que fez o personagem Doutor Emiliano Guedes, amante de Tereza Batista com a feição de Jorge.   E já avisou que Zélia não precisava ter ciúme porque de costas, estava Tereza nua e que ela foi inspirada no corpo de Zélia.    Zélia destacou:   Mas eu estou de costas, não se vê o rosto.   O artista respondeu:    “E quem falou em rosto – riu o malandro – Ela é você de costas, sem tirar nem por”.      Jorge completou:   - “De balaio grande”, rindo e se divertindo com a discussão.

         Nesse tempo entre os artistas do convívio com o casal, tinha inclusive o cineasta Glauber Rocha.  Ela cita inclusive o poeta Carlos Anisio Melhor.

        

         Continua no capítulo 8/20 

domingo, 24 de dezembro de 2023

CAP. 6/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 6/20

 

         Jorge num dia na casa de Mãe Senhora e na despedida ela pergunta de amigos dele, conhecidos dela, Paulo e Simone.   Ela estava se referindo ao escritor francês Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir.    Estes que em visita a Jorge Amado, foram conhecer o Candomblé de Mãe Senhora.

         Mãe Senhora na ocasião da visita dos escritores franceses ilustres, indicou quais eram os santos deles, o que os deixou muito impressionados.   Levaram a sério as indicações.    Em ocasião posterior, se reencontraram na Europa e eles tocaram no assunto do Candomblé e os seus santos.

         Stella de Oxossi

         Jovem filha de santo que Mãe Senhora vinha preparando para sucedê-la no futuro.   Mais adiante ficou comprovado.    Quando Stella de Oxossi passou a ser Mãe de Santo com o tempo ela transformou o terreiro Axé Opô Afonjá no maior terreiro da Bahia.

         O misterioso vulto

         “Deviamos fazer o bori uma vez por ano.  O bori inclui lavar a cabeça, pousar uma noite no terreiro com os aparatos determinados, o que limpa o praticante pelo ano todo”.

         Jorge e alguns amigos, dentre eles, Carybé, tinham funções no terreiro.   O bori durava uma noite inteira.    Inclui preces na língua Nagô.    No livro, Zélia dá mais detalhe do rito em si.

         ... Em outro trecho cita o prato galinha à cabidela.

         Zélia publica no livro um trechinho de uma carta escrita no passado pelo pré adolescente Jorge Amado em seu tempo de ginásio dos Jesuitas.   Alguns estudantes criaram um tipo de confraria com regulamento e tudo, visando uma vida casta e coisa e tal.    É bem pitoresco o texto cheio de boas intenções.

         Ikebana

         Uma arte floral oriental.    Zélia e uma amiga iam a vários tipos de cursinhos, desde bordados, até de arranjo de flores.     A Ikebana é um tipo de arranjo de flores com toda uma simbologia na tradição japonesa.

         “Norma só não conseguia uma coisa comigo:  arrastar-me a enterros e velórios”.

         Nosso Jardim

         Plantou árvore de fruta pão e outras mais como pitangueiras, laranjeiras etc.      Plantaram tantas que sombreou todo o terreno e ficou mais difícil as plantas menores tomarem sol.    “Tirou a nossa vista sobre o Rio Vermelho – e o mar, mas ficou lindo”.

         Reminiscência

         O casal, uma vez visitando a fazenda de amigos, viu pés da rara fruta chamada lichia, originária da China, onde conheceram a planta e os frutos.

         Ficou surpresa vendo pés de lichia na fazenda do amigo, coisa rara no Brasil de então.    Levou pra casa uma mudinha de lichia numa lata com todo cuidado e deu recomendação bem especial ao jardineiro da casa.   Todo cuidado!    Ainda mais porque o casal viajava muito, para longe e demoravam a voltar.   Era uma brecha para descuidos do jardineiro.

         Zélia contava com os frutos do pé de lichia para depois desafiar o compadre Carybé que se gabava da variedade de frutas que tinha na chacrinha dele.

         Uma viagem longa pela Europa e um dia no hotel, recebe uma carta do jardineiro.   Avisava que a árvore já cresceu e deu frutos.  Deu pitangas.  E disse que a patroa tinha comprado gato por lebre, logo ela, uma pessoa tão inteligente, como ele disse.    (Como leitor fica a pergunta:  Será que o jardineiro não deixou a planta morrer e plantou no lugar dela um pé de pitanga para enganar a patroa?)

         Rufino

         Jorge precisava levantar um muro alto a ser feito de pedras na divisa de sua casa.   Um amigo lhe indicou Rufino.   Ele trouxe vários empregados e ficava só olhando os empregados trabalharem.  Não punha a mão na massa.

         Ganhou bem e terminada a obra, não se importou em arranjar outras obras.   Ficava apertado e vinha chorar mágoas na casa de Jorge e sempre saia com uns trocados.   Rufino sempre dizia que era emprestado...   Nunca pagou.

         Tanto que em algumas cenas do filme Dona Flor rodados em Salvador, Jorge indicou Rufino para a equipe de figurantes e ele desempenhou o papel sem problemas.

         Ainda sobre as obras da casa de Jorge e Zélia.   Havia uma porta de entrada muito simples e Carybé se encarregou de criar uma porta de ferro com detalhes de frutas e pássaros.

         Numa fase da obra havia trinta empregados trabalhando no local.

 

         Continua no capítulo 7/20

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CAP. 5/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora ZÉLIA GATTAI

 capítulo 5/20

 

         Candomblé

         Jorge quis visitar um Candomblé  em Cuba.    Na ocasião não havia.   Ele lamentou e lá sempre teve muitos leitores dele.  Mais adiante, em 1986 quando voltou a Cuba, havia o Candomblé por lá.

         Num dos eventos em Cuba, Jorge era presidente dos jurados de um festival latino-americano de cinema.   Um dia todo para juízes analisarem as obras e decidirem seus votos.   Comes e bebes no final dos trabalhos de julgamento.   Eis que chegam dois brasileiros, gaúchos, afobados dizendo que traziam um filme curta metragem para o evento e que uma série de contratempo fez com que chegassem atrasados.   Jorge ouviu os jurados e todos aceitaram incluir o filme no certame. 

         Só que tinha um problema.   O filme era em português e tem aquilo dos de língua espanhola não nos entenderem e nós temos mais facilidade de entender os de língua espanhola.     Diante do quase impasse, Zélia propôs uma solução:    Passa o filme e eu vou traduzindo.    Aceitaram, assim se fez e todo mundo entendeu o filme.  Resumo dos fatos:    O filme pegou o primeiro prêmio na sua modalidade de curta metragem.

          Nome do curta premiado:   “O dia que Daniel encarou a guarda”

         Copa do Mundo de 1962

         Numa das viagens a Cuba o casal se encontrou com Fidel Castro, mas Zélia resolveu deixar esta parte para um outro livro que virá.     Copa de 1962 no Chile.   Zélia e Jorge são apaixonados por futebol.    O casal em Cuba há apenas 3 anos da Revolução.    Tudo que passava na TV cubana, ainda no calor dos acontecimentos era política, política, cultura e nada de futebol.

         O casal ficou angustiado.    Amigos do casal vinham de Cuba para Lima no Peru e os convidaram para passar uns dias em Lima.   Zélia era curiosa para conhecer Lima, mas Jorge, movido pelo futebol, resolveu que voltariam para o Brasil, como de fato o fizeram.   Curtir a Copa de 1962 pela TV em casa.

         Doutor Mirabeau

         Estudou com Jorge na juventude e contava ao filho de Jorge sobre as traquinagens do pai dele quando eram estudantes.     Mirabeau estudou medicina para fazer o gosto do pai e não exercia a profissão.  Herdou lojas de calçados em Salvador e expandiu os negócios no setor, mas seu forte eram as artes plásticas.  Pintura a óleo sobre tela.

         Dona Norma

         Era da alta sociedade e socorria os pobres da favela.    Era então querida do povo da favela.

         Sobre hábitos da época em Salvador:    “Naquela época os bons restaurantes eram raros, em geral ninguém convidava ninguém para comer em restaurantes, convidavam para comer em sua casa, a mulher se desdobrava na cozinha”.

         Vamos levantar a casa?

         O projeto da casa do casal foi elaborado pelo jovem arquiteto Gilberbert.   Feito o projeto, Jorge convidou os amigos para palpitarem sobre o projeto.   Carybé destacou que a decoração dos azulejos seria por conta dele.

         Na ocasião a arquiteta Lina Bo Bardi  (a que projetou o MASP da Avenida Paulista em SP) estava em Salvador atuando sob contrato do governador do estado da Bahia.   Dirigia o Museu de Arte Moderna da BA.

         Ela também deu seus palpites no projeto.   Sugeriu inclusive usar caquinhos de azulejo no piso de algumas áreas externas do entorno da casa.

         Camafeu de Oxossi

         Jorge Amado era adepto do Candomblé e filho de Oxossi.   Uma destacada Mãe de Santo da época em Salvador era Mãe Senhora.

         Um dia veio o recado de Mãe Senhora ao casal:   “Está na hora de vocês fazerem o bori”.   (um rito do Candomblé).

         Jorge num dia na casa de Mãe Senhora e na despedida ela pergunta de amigos dele, conhecidos dela, Paulo e Simone.   Ela estava se referindo ao escritor francês Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir.    Estes que em visita a Jorge Amado, foram conhecer o Candomblé de Mãe Senhora.

 

         Continua no capítulo 6/20