Total de visualizações de página

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

CAP. 05/20 - fichamento - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Autora - Filósofa MÁRCIA TIBURI

CAP 05/20           - leitura novembro de 2020

         Precisaríamos pensar mais, isto é certo, mas vivemos no vazio do pensamento ao qual podemos acrescentar o vazio da ação e o vazio do sentimento.     O vazio é o novo ethos de nossa época.

         O treino para o amor ou para o ódio se dá pela repetição dos discursos.  É preciso repetir, e aderir, copiar e imitar.

         Repetir o que se diz na televisão e nos meios de comunicação. Caminho para a alienação:   “compartilhar” sem ao menos ler e analisar.

         A fuga do pensamento produz o seu vazio.  É um vazio cheio de falas prontas.  Cheio de propaganda que impede o nascimento do livre pensamento.     

... diálogo.    “Política é  produção simbólica.  É sinônimo de democracia se a pensarmos como laço amoroso entre pessoas que podem falar e se escutar não porque sejam iguais, mas porque deixaram de lado suas carapaças de ódio e quebraram o muro de cimento onde suas subjetividades estão enterradas.

         O diálogo não é uma salvação, mas um experimento ao qual vale a pena somar esforços se o projeto político for coletivo.

         Então precisamos começar a conversar de outro modo, mesmo que pareça impossível.  

         33 – Item 7 – Um desafio Teórico-Prático

         O autoritarismo... um modo de vida elaborado em termos de um estilo de viver destrutivo e acobertador da sua destruição.    Um pensar autoritário que combate a liberdade e a expressividade do pensamento.

         O outro nunca está dado, ele é sempre pensado.

         41 – Item 8 – Tudo o que Não Presta

         “O enrijecimento é a prova da morte do conhecimento que se tornou cegueira ideológica”.

...........

         “Daí a impressão que temos de que uma personalidade autoritária é também burra, pois ela não consegue entender o outro e nada que esteja em seu circuito”.

         42 – Cita o discurso do deputado Federal Luiz Carlos Heinze  .... que apresentou uma imagem perfeita do pensamento autoritário que exclui o outro...   “quilombolas, índios, gays, lésbicas”  ..., representavam.... “tudo o que não presta”.   Desqualificar minorias oprimidas pelos atos capitalistas.

         Não presta para o sistema de produção e de consumo.    .... o outro é descartado e lançado à matabilidadde.  (não faria falta...)

         Se um Estado não serve ao povo, serve às elites.    .... lançar na morte os que são marcados com a imprestabilidade...    “Se a propaganda fascista...  continuar vencendo, não teremos futuro”.

         “Em que direção devemos agir diante desse estado de coisas?”

         44 – Item 9 – Experimentum Crucis

         Como conversar com um fascista?   O fascista sobrevive na animosidade.    .... quem é atacado .... não deve contentar-se com a posição de vítima.   Essa pode ser simbolicamente útil para construir direitos, mas também para destruir lutas.

         Theodor Adorno, o filósofo que desconstruiu o fascismo.    A questão da vida que não merece ser vivida está em cena.   Segundo a lógica social que está em cena nesse discurso, os “imprestáveis” devem perecer porque não deveriam sequer existir.  Se existem, são culpados e se são culpados, estão condenados.

         Como se contrapor?  Chamarei aqui de postura do guerreiro sutil , aquele que assume uma espécie de “guerrilha” cuidadosa e delicada e desafia o poder desde sua interioridade, desde o seu núcleo duro, para desmontá-lo radicalmente.

         O diálogo, em todos os seus níveis, é indesejado nos sistemas autoritários.

 

         Continua no capítulo 06/20 

domingo, 29 de novembro de 2020

CAP. 04/20 - fichamento - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Autora: Doutora em Filosofia - MÁRCIA TIBURI

 CAP 04/20    - novembro de 2020

         Como se não existisse outro ponto de vista, outro desejo, outro modo de ver o mundo...

         ...” o paranoico que detém todas as verdades antes de chegar a pesquisar o que as sustenta”.    “É claro que não dialoga com ninguém porque a operação linguística que implica o outro é impossível para ele”.

         A autora e um exercício... conversar com alguém enrijecido em sua visão de mundo.   Alguém que não se dispõe a escutar.  (eu, leitor, diria – que geralmente não lê um bom livro que ajuda a questionar nossas certezas e nossas verdades sobre o outro e sobre o mundo)

         27 – Alguém que não fala para dialogar, mas apenas para mandar e dominar.   O fascismo é a forma de autoritarismo quando ele se torna radical.

         28 – O Desafio do outro, de conversar com esse outro para quem facilmente nos fechamos, eis que se propõe nas páginas que seguem.

         Aqui está o propósito do livro – o diálogo.

         ...”que possa nos afastar do fascismo em nossa própria autoconstrução”.

         2 – Como Conversar com Um Fascista.

         29 – “Genocídio indígena, o massacre racista... em uma sociedade em que está em jogo também o extermínio da política”.

         ... risco de que o ódio se torne estrutural, que venha a dar base a todas as nossas relações”.

         Talvez a destruição da política seja a verdade oculta na razão de Estado atual.   (a edição que estou lendo é de 2016).

         29 – Destruir o outro garante o fim de sujeitos de direitos e o fim do direito dos sujeitos.

         Somos seres capazes de amar e odiar. Os afetos são sempre aprendidos.

         “O fascista é impotente para o amor porque viveu experiências de ódio”.

         31 – Do autoritarismo em geral depende o capitalismo.

         32 – item 3 – Máquina de produzir fascistas – A origem e a transmissão do ódio. 

         4 – Afeto contagioso – Aquele que experimentou amor, responde com amor, aquele que experimentou o ódio responde com ódio.     .... experiência do ódio.

         “Ele surge cada vez que nos deixamos afetar por ele.   Incitação à violência...  ela é transmitida, numa de suas formas, de cima para baixo.  Líderes políticos, publicitários, meios jornalísticos (inclusive de TV)..  os que detém o discurso podem ligar a máquina incitando o ódio.

         Parar essa engrenagem só será possível para aquele que aprender que o outro mundo...  é possível.

         35 -  item 5 – Paranoia como condição social.      O amor é um horizonte de compreensão que tem em vista a real dimensão do outro...

         Se o amor é aberto ao outro e o ódio é fechado a ele.   Pensamos que o ódio é sempre algo que está no outro e esse é um engano no qual cai apenas aquela pessoa que nunca imaginou que é o outro de um outro.

         37 – item 6 – Treino para o ódio.      O autoritarismo depende da sua repetibilidade.    (me faz lembrar uma frase que é muito conhecida, de Goebbels, que era o crânio da propaganda nazista de Hitler.    Repetir uma mentira mil vezes até que ela vire verdade)

         Precisaríamos pensar mais, isto é certo, mas vivemos no vazio do pensamento ao qual podemos acrescentar o vazio da ação e o vazio do sentimento.     O vazio é o novo ethos de nossa época.

         Continua no capítulo 5/20       

sábado, 28 de novembro de 2020

CAP 03/20 - fichamento - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Autora: Doutora em Filosofia - MÁRCIA TIBURI

 CAP 03/20                        novembro de 2020

         “O fascista é aquele que banaliza o mal”.   Usa uma expressão citada pela autora deste livro:  “O fascismo é a máscara mortuária do conhecimento”.     Em seguida Jean Wyllys fala de analfabetos políticos e cita como exemplo os jovens do MBL Movimento Brasil Livre.   (aqueles que se diziam apartidários e que depois viraram vereadores de SP...)

         O analfabeto político do tempo do criador do termo, Brecht, era aquele que “não ouve, não fala, não participa...”    Hoje com a tecnologia, transformações sociais, o analfabeto político mudou de forma pois está plugado e interage com o sistema mas sem senso crítico do que ocorre à sua volta.   Consome e repassa fake News etc.     O analfabeto político de hoje repete como um papagaio o que é repassado por fontes que servem interesses escusos.  Nesse sentido, os analfabetos políticos são também vítimas do sistema, agindo alienados.

         O que Brecht definia como “o pior dos bandidos”: o político vigarista, desonesto intelectualmente, corrupto e lacaio das grandes corporações.

         Portanto é preciso ter alguma compaixão pelo analfabeto político.  Daí o desafio da autora deste livro pelo diálogo.

        

         Página 23 – A Autora com a palavra.

         1 Questões preliminares: experiência política e experiência de linguagem, ou o diálogo como desafio.

         “O diálogo é uma pratica de não violência”.    A violência acontece quando o diálogo não entra em cena.  O diálogo se torna impossível quando se perde a dimensão do outro.   O outro negado sustenta o fascista em suas certezas.   O círculo é vicioso.

         “Fascista é aquela pessoa que luta contra laços sociais reais enquanto sustenta relações autoritárias, relações de dominação”.

         Como personalidade autoritária, ele luta contra o amor e as formas de prazer em geral.   Um fascista não abraça.  Ele não recebe.

         25 – “Aquilo que está nos acontecendo... as instituições, a sociedade, a cultura, o âmbito espiritual e simbólico em que nos formamos quem somos, sem que estejamos jamais prontos e acabados”.

         Importante pergunta:  O que estamos fazendo uns com os outros?

         O autoritarismo... ele é essencialmente um regime de pensamento.  Uma operação mental que, em sentido amplo, se torna paradigmática agindo sobre a ciência, a cultura e o senso comum.

         26 – A operação do pensamento autoritário é infértil e rígida, ela se basta em repetir o que está dado, pronto ou resolvido (mesmo que aparentemente).

         “O sujeito autoritário tem orgulho de seus pensamentos como se fossem verdades teológicas que somente ele detém”.

         “Toda pessoa autoritária se sente meio sacerdote de alguma coisa”.

         “A operação propriamente dita do conhecimento que se entrega à novidade do objeto é, no entanto, desnecessária.   Em outra palavras, podemos dizer que o sujeito autoritário `pergunta´ e `reponde´ a si mesmo a partir de um ponto de vista permanentemente organizado no qual, a cada momento, o outro precisa ser descartado”.

         Como se não existisse outro ponto de vista, outro desejo, outro modo de ver o mundo...

         ...” o paranoico que detém todas as verdades antes de chegar a pesquisar o que as sustenta”.    “É claro que não dialoga com ninguém porque a operação linguística que implica o outro é impossível para ele”.

                   Continua no capítulo 04/20

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

UMA DICA DE LEITURA - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Autora: Doutora em Filosofia MÁRCIA TIBURI

SUGESTÃO DE LEITURA      - novembro de 2020

 

         Livro: Como Conversar com um Fascista – Reflexões sobre o Cotidiano autoritário Brasileiro

         Autora: Doutora em Filosofia – Márcia Tiburi

         Editora Record – Rio de Janeiro – 2015 – 195 páginas

 

         Quando do lançamento deste livro a autora esteve fazendo palestra aqui na UFPr Universidade Federal do Paraná em Curitiba e tive a oportunidade de estar presente no local de casa cheia.

         Ao ler o livro recentemente, noto que cresceu a atualidade das colocações da autora até pelo recrudescimento do autoritarismo no Governo e na sociedade em geral.

         Ela vai explicando como se dá a comunicação entre as pessoas e as formas destas e das instituições agirem tanto no sentido de nos aproximarmos, quando no sentido de nos isolarmos, sempre com reflexos na cidadania.

         São explicadas as mazelas da vida em sociedade, sempre com importante lastro teórico, permitindo ao leitor captar o entendimento sobre o que nos oprime, nos isola e nos deprime.

         Compreender o que nos afeta já traz um alento e pistas para um pensar e agir com mais independência e leveza e de forma cidadã.   “Vale a pena se a alma não é pequena” como dizia o poeta.

                              Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida

                                      Cuririba PR         orlando_lisboa@terra.com.br


Todo feedback é bem vindo.   (posto bastante assunto nessa linha no Facebook)


CAP. 02/20 - fichamento - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Autora: Doutora MÁRCIA TIBURI

CAP 02/20            leitura em novembro de 2020

         Página 13 -  “Essa mistura de pouca reflexão e recurso à força produz reflexos em toda a sociedade”.

         ... è o fato do fascismo se apresentar como um fenômeno natural.    .... o fascismo não é percebido como tal por seus agentes...

         As práticas fascistas relevam uma desconfiança.  O fascista desconfia do conhecimento, tem ódio de quem demonstra sabe algo que o afronte ou se revele capaz de abalar suas crenças.

         “Ignorância e confusão pautam sua postura na sociedade”.

         ... crenças irracionais... criação de inimigos imaginários (a transformação do diferente em inimigo).    ... confusão entre acusação e julgamento.

         14 – “Ao lado do ódio ao saber, o fascista revela medo da liberdade... aceita abrir mão da liberdade... (e quer o fim da liberdade alheia).

         ... quer dominar terceiros e eliminar os diferentes.   É um masoquista e um sádico ao mesmo tempo.  Aceita a perda de liberdade e quer impor sofrimento ao diferente.

         A “arma” para enfrentar tudo isso:   O diálogo.   Exige o encontro entre o eu e o tu. Diálogo com respeito à alteridade do outro.

         ... Marcia Tiburi sugere uma mudança de atitude do um-para-com-o-outro”.

         15 – Ato de resistência (eu dar jeito de me comunicar com os fascistas com quem convivo – inclusive nas redes sociais).

         ... aposta na potência do diálogo e na difusão do conhecimento como antídoto à tradição autoritária que condiciona o pensamento e ação em terra brasilis.

         17 – Prefácio – Este livro é para o que nasce – por Jean Wyllys.   Jornalista, ex deputado federal e ativista pelos Direitos Humanos.

         ... pedindo educação de qualidade.   Muitas “universidades” e faculdades,  principalmente privadas, tem diplomado analfabetos funcionais por estabelecerem com os alunos uma relação pautada no direito do consumidor.  Mais de 70% dos alunos não leem livros.

         ... se informam pela internet... propõem soluções fáceis, mas mentirosas e/ou autoritárias para as questões complexas que nos envolvem.

         Ele destaca o sub título deste livro.   O título é Como Conversar com um Fascista.  Sub título: Reflexão sobre o cotidiano autoritário brasileiro.

         Fascismo... este procura prescrever a eliminação simbólica e/ou física dos “inimigos” que constrói com forma de se justificar.    Jean Wyllys fez um paralelo com a banalização do mal, no conceito formulado pela Filósofa Hannah Arendt que acompanhou o julgamento de Eichmann, do aparato dos nazistas no extermínio de judeus.

         “A banalização do mal é feita pelo ser humano comum que não se responsabiliza pelo que faz de ruim ou acha que o que faz de ruim não tem consequências para os outros, não reflete, não pensa”.

         ... pessoa carente de pensamento crítico e, por isso, insensível à dor do outro e às consequências dos seus atos.

         “O fascista é aquele que banaliza o mal”.   Usa uma expressão citada pela autora deste livro:  “O fascismo é a máscara mortuária do conhecimento”.

............................ continua no capítulo 03/20 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

CAP 01/20 - fichamento - livro - COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - autora: Doutora em Filosofia - MÁRCIA TIBURI

CAP. 01/20    -   leitura em novembro de 2020

         Desde que começaram as manifestações de rua no governo da então Presidente Dilma, os setores da sociedade que se preocupam mais de perto com a preservação da democracia começou a promover encontros e debates para analisar os cenários e definir ações para se contrapor às ameaças.

         Nesse contexto, eu participei de um evento no prédio histórico da UFPR Universidade Federal do Paraná, no qual a fala principal, não por acaso era da autora do livro Como Conversasr com um Fascista – a filósofa com doutorado no ramo, Marcia Tiburi.    Tenho o livro dela que em 196 páginas faz uma análise muito interessante do tema.  Vejamos.

         Antes do mais, destaco que o livro que estou lendo já é da 6ª edição e de 2016, portanto, de antes do governo atual mas o andamento das coisas tornaram dolorosamente mais claros os assuntos abordados aqui e que notamos hoje em dia nas ruas, na TV, nas redes sociais.  

         Página 5 -  Na apresentação a autora sintetiza:   “É com a linguagem que fazemos filosofia”.

         “Insistir em uma `filosofia em comum´ que não seja o simples consenso, mas a coragem do diálogo.   O diálogo não surge sem esforço”.

         “A Filosofia corre o risco de perder seu lugar ético-político ao buscar uma imagem de neutralidade metafísica diante dos fatos”.

         Página 11 – Apresentação do livro por Rubens R.R. Casara

         Cita Theodor W. Adorno e suas pesquisas sobre o fascismo potencial...   personalidade autoritária, que está presente no psiquismo de cada indivíduo, faz com que práticas fascistas sejam facilmente naturalizadas.

         ... não dependem de reflexão e, portanto, aptos a serem incorporados por todos e, com mais facilidade, pelos mais ignorantes.

         Origem do termo fascismo.   Do Latim Fascis, símbolo de autoridade dos antigos magistrados romanos que utilizavam (fascis – feixe de varas)  com objetivo de abrir espaço para passarem... e que virou de certa forma um jeito de mostrar autoridade e o termo migrou para uma forma do Estado exercer poder.

         Fascismo no pós Guerra  não só na Itália de Mussolini...  com a mesma receita que unia voluntarismo, pouca reflexão e violência contra seus inimigos.

         ... necessidade de ação (da vontade de conquista).

         “Hoje, os neofascistas se contentam em disseminar o ódio contra o que existe para conquistar o poder e/ou impor suas concepções de mundo, sem maiores preocupações com a formulação de um projeto alternativo (por vezes, apostam em projetos reacionários de retorno a um passado mítico marcado por desejos de ´ordem` e ´pureza`, na verdade, uma representação que funciona como `fantasia´, capaz de dar conta e suporte ao desejo do fascista”.

         Página 12 – “O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação.  Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes etc), o conhecimento e em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência do saber”.

         “O fascismo é cinza e monótono, enquanto a democracia é multicolorida e em constante movimento.”

         “A ideologia fascista, porém, deve ser levada a sério, pois além de nublar a percepção da realidade, produz efeitos contrários ao projeto constitucional de vida digna para todos”.

         13 – “Os fascistas talvez não saibam o que querem, mas sabem o que não suportam.  Não suportam a democracia, entendida como concretização de direitos fundamentais de todos, como processo de educação para a liberdade, de governo através do consenso, de limites ao exercício do poder e de substituição da força pela persuasão”.

 

         Continua no capítulo 2 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

CAP 09 E 10/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA

CAP. 9-10/10 (FINAL) - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - cronista Rubem Braga (capixaba)
Crônica: “É um grande companheiro”.
... jantar de jornalistas – e confesso que isto me comoveu, me sentir no meio dessa nossa fauna tão desunida...”
No jantar alguém relembra de um amigo que morreu depois de uma doença grave e sofrer um bocado. Mexeu com o astral do cronista e com os colegas de mesa que participaram da conversa. O pensar durante a noite.
Chega em casa, se distrai com seu bicudo de gaiola, de estimação. Companheiro pra valer na sua solidão, e que não sabe que existe a morte.
149 – O Dr. Progresso. Cachoeiro do Itapemirim um dia convidou nada menos que Sergio Buarque de Holanda para tocar um jornal da cidade e ele topou. Era um intelectual e tanto. Era o Dr. Progresso.
155 – Em Portugal se diz assim. Nessa crônica o autor lista uma série robusta de termos que se usam em Portugal e que o brasileiro ao chegar lá fica sem entender. Só com a vivência vai aprendendo. É uma lista bem curiosa e que poderá ser útil a quem um dia vai visitar a “Terrinha”, forma carinhosa dos que são descendentes de Portugal.
Em outra crônica o ambiente é o Rio de Janeiro e os encontros de intelectuais como Vinícius de Morais, o engenheiro Juca Chaves, aquele músico satírico e muitos outros. Da minha parte, desconhecia o fato do Juca Chaves, que é do Piauí, ser engenheiro de formação.
161 – Com a Marinha de Guerra em Ouro Preto. O Ministro da Marinha visitou oficialmente Ouro Preto e levou uma equipe e também a Banda dos Fuzileiros Navais para a cidade. Houve cerimônia, jantar de gala e apresentação da Banda dos Fuzileiros. O cronista foi lá oficialmente fazer a cobertura jornalística do evento. O dono do jornal para quem trabalhava era de outra ala política em relação ao pessoal do poder na Capital, Rio de Janeiro, e articularam com o cerimonial para barrar o Rubem Braga, jovem jornalista no evento. Ele deu um jeitinho em tudo e participou de tudo e chegou a fazer duas perguntas ao Ministro. Causou ira geral o que ele retratou na reportagem e na volta de trem, vem no mesmo momento que os militares que estavam no evento. Reconhecido, a turma veio recrimina-lo pela reportagem. Ele deixou claro que lá só continha verdades e o que está escrito, está escrito e pronto. Ele disse que ficou ali tipo touro em tourada com duas chances: uma de ser massacrado ali mesmo ou na outra, de ser atirado janela afora. Mas conseguiu sair ileso.
168 – O cronista em escrito de 1979 se recorda dele e um amigo em São Paulo tomando Cerveja Original de Ponta Grossa – Paraná. Lamenta que a Antarctica comprou a fábrica regional da Original e destruiu a marca.
Uns traços da biografia do Rubem Braga. Nasceu em Cachoeiro do Itapemirim – ES em 1913. Em 1936 lançou seu primeiro livro – O Conde e o Passarinho. Mais adiante, tendo sido correspondente de guerra, escreveu o livro Com a FEB na Itália (FEB Força Expedicionária Brasileira).
Escreveu o livro de crônicas “O Morro do Isolamento”. Foi funcionário da embaixada brasileira no Chile e foi Embaixador do Brasil no Marrocos, norte da África, vizinho da Espanha, no Mediterrâneo.
Nos anos 80 Braga morava num apartamento de cobertura na Praia de Ipanema no Rio de Janeiro. Na sua cobertura havia arvores e lugar para seus pássaros de gaiola e era visitado por passarinhos que vinham fazer ninho nas árvores.
Escreveu seu livro de memórias chamado Alma do Tempo. (devo ler em breve)

Final de leitura dia 21-11-2020 

CAP. 08/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA

 CAP 08/10

         Página 127 – Na Revolução de 1932 o jornal Diário da Tarde lá de Belo Horizonte, assim como o jornal O Estado de Minas era dos Diários Associados (cujo dono era o Assis Chateuabriand).    O então jovem jornalista Braga, aos 19 de idade, é destacado para ir fazer a cobertura da batalha na divisa de MG com São Paulo.     As tropas de SP tinham entrado em território mineiro e depois recuaram para perto da divisa na Serra da Mantiqueira, lugar acidentado, de difícil acesso e bastante frio.    Pico do Cristal.   Parte do trecho, a cavalo.     Na trincheira, frio de menos dois graus.

         O censor das matérias jornalísticas era no caso o prefeito de Pará de Minas, Benedito Valadares.     O Comandante dos mineiros onde estava o jornalista, leva um tiro no abdômen.  Levado para a cidade é operado por dois médicos, ambos não sendo cirurgiões.   Pela gravidade do ferimento, o militar veio a falecer.   Um dos médicos era JK Juscelino Kubitschek, que depois foi o presidente que Construiu Brasilia.    No tempo do combate JK era capitão-médico da Força Pública.

         135 – “Navegação nas Galápagos”.   Ilhas no oceano Pacífico na Costa Americana.    O autor que já tinha uma vivência longa em viagens por mar vai dando detalhes de astros e navegação.

         137 – Indo de navio para Galápagos.   Um dos tripulantes, italiano, explicando os astros à noite e as estrelas principalmente.   Uns ele já conhecia.    “Coisa que eu já sabia, mas fiquei quieto, pois é antipático mostrar que a gente sabe coisas demais”.

         Curiosidade que destaca:  hélice na Marinha é masculino e na Aeronáutica é feminina. E alerta:   “Não criar caso com os homens de farda; eles sempre tem razão de um lado e de outro e se você brincar, mandam-lhe em cima a Lei de Segurança Nacional”.

         Um dia foi interrogado pelos militares e não foi bem...

         “Meu espírito às vezes só se faz presente horas, dias depois da ocasião.”

         143 -   “Gaita de foles e Maringá (a música)”.

         No velho navio, indo para Portugal e muitas famílias de portugueses que moram no Brasil estavam indo a passeio rever os parentes e amigos.    Aparece um rapaz com uma gaita de fole e quebrou a monotonia da viagem.  Foi aplaudido e trazido para a primeira classe para alegrar a galera.   Passa um dia, dois dias ...  gaita de fole... gaita de fole...  o pessoal enjoou que não queria nem ver, muito menos ouvir aquilo.   Esconderam o instrumento e rebaixaram de volta o músico para a terceira classe.

         Nisso o autor lembrou de outro episódio regado a música típica na Escócia.   Pessoas com traje típico e a gaita de fole.  Brasileiros bebendo e celebrando a novidade.   Mais um pouco de tempo, já foram ficando enjoados da música e logo estavam batucando samba na mesa e cantando.   O cronista destaca.   Engraçado... brasileiros que quase nunca cantam,  viajam pra fora, bebem um pouco e soltam a voz.     Março de 1982.

               Continua no capítulo 09/10

CAP 07/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA - crônicas

 CAP 07/10

         97 – “Recado de Primavera” .   Esta é a crônica que dá o título do livro que estamos fazendo fichamento.    Foi feita a pedido da Globo para homenagem ao poeta Vinícius de Morais pelo primeiro ano de sua morte.

         “Seu nome virou placa de rua”, avisa o cronista.    Rua em Ipanema, vista para o mar.    O poeta, morando numa cobertura em Ipanema, cercado de plantas e tico-tico fazendo ninho entre elas.   Um chopim fiscalizando o tico-tico que fazia o ninho.    Pois o chopim tem o hábito de beber parte dos ovos do tico-tico e colocar os seus no lugar e depois o tico tico choca e cria os filhotes mistos.  Parte dos filhotes pardos sendo tico ticos e parte pretos sendo chopins.

         “Chega a primavera nesta Ipanema cheia de sua música e de seus versos”.   Eu ainda vou ficando por aqui – e vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor.  Adeus”.       – setembro de 1980.

         99 – “Aconteceu na Ilha de Cat”.    Falando de palavras cruzadas e seus macetes.   Cat seria uma das ilhas de Creta.  Há até dicionário específico com termos usuais em palavras cruzadas.    O cronista dá o sentido de uma porção de palavras usuais nesse passatempo por curiosidade.  

         103 – “A inesquecível Beatriz”.   Uma crônica a um inesquecível amor passageiro dele.   Fala de jeitos, feições, sentimentos e reflexões da vida cotidiana também.      Dezembro de 1956.

         105 – “Onde nomeio um prefeito”.    Na guerra na Itália em 1944 com a FEB onde ele atuava como jornalista correspondente de guerra para o jornal Diário Carioca.     O jornalista no front de guerra anda fardado e recebe patente militar no período.    Vencidos os alemães na região, as tropas voltando e chegando a vilarejos e o povo que andava enfurnado por causa da guerra recebe as tropas aliadas como salvadoras da pátria.  E é viva e mais viva aos heróis.   E numa dessas um líder comunitário veio pedir para eles nomearem o prefeito para o local.    Acabou que o cronista, em cima do jipe militar, usa como palanque o veículo e ergue o braço do que é aclamado como o novo prefeito até que venha ordem superior.  Todos ficam felizes da vida.       Crônica de maio de 1984

         109 – Três amigos brasileiros num Café em Lisboa e são interrompidos na prosa pelo garçom que perguntou, intrigado:   - Que raio de língua é essa que estão a falar, que eu percebo tudo?

         111 – “Olhe ali uma tontinegra!”

         Morou um tempo em Marrocos onde foi Embaixador.  Morou em Rabat.  Também passou por Marrakech.    Gosta tanto de pássaros que comprou um livro para identificar pássaros da Europa.    Um deles é a tal tontinegra.    Até imaginou um dia, amigos de longe visitando a região e o cronista poder dizer:   - Olha ali aquele pássaro!  É uma tontinegra...

         117 – Diário de um subversivo – ano de 1936

         Na pensão dele, dois jovens integralistas.   Vieram puxar papo com ele sobre política.   Papo contra o comunismo.  Para eles, o Lenin era um gênio, mas um gênio do mal.

         O cronista procurado pela polícia no tempo da Ditadura Vargas, acusado de ser comunista.   Vários conhecidos dele foram presos.  Ele se escondeu na casa de um amigo.  Isto em 1936.     A crônica é de 1957

         121 – Recordações Pernambucanas.    Morou em Recife por uns meses em 1955.   Conheceu o Lourenço, funcionário do Banco do Brasil, já conhecido  por Capiba, músico.   O apelido, como leitor, suponho que tem a ver com o rio que desagua em Recife, o Capiberibe.

         Lá em Recife ele conviveu com intelectuais de destaque como integrantes da família de Ariano Suassuna, Gilberto Freyre e outros.    Narra inclusive uma aventura amorosa passageira do Gilberto Freyre dizendo que é para a biografia dele ficar completa.

                Continua no capítulo 08/10

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

CAP.06/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA - Cronista e Jornalista

CAP 06/10

         Página 83 – O Sueco.    Os problemas do Brasil, a miséria do nosso povo etc.  ... todas essas coisas desanimam uma pessoa sensível.   Evandro Pequeno encontrou uma solução:  “Eu sou um sueco em trânsito.   Não saber de nada, não entender uma palavra do que estão dizendo... não ter nada a ver com nada... muito menos com a dívida externa, não ter vergonha de nada: ser um sueco em trânsito”.

         91 – “Um combate infeliz”.     O cronista na Italia na Segunda Guerra Mundial no front de combate com uniforme militar, como correspondente de guerra.  Isto em novembro de 1944.   Na região de Monte Castelo.  A tropa que ele acompanhou estava sob o comando do então Coronel Castelo Branco (que depois foi presidente militar do Brasil na década de 60).    No outro dia iria haver o batismo de fogo de dois batalhões brasileiros integrando um grupo de americanos.   Dos nossos soltados, dizia-se que estavam mal treinados e cansados.    Nossa tropa se acostumou lá com cigarros americanos.   Braga fumava um mata rato forte nacional chamado Liberty e um dia um comandante pediu um cigarro e quase recusou ao ver a marca.   Pior que este era só a marca Yolanda.

         O Yolanda, no maço, uma loira que os italianos chamavam de Bionda Cattiva, loira ruim.   Nosso comandante discordou da ordem do americano, mas não teve jeito.   No outro dia teria chumbo.   Ofensiva dos aliados, Brasil no meio.   Foram 24 mortos e 150 feridos. 

         Tudo na montanha, frio de travar os dedos, Braga escreveu numa máquina portátil com cinco vias em carbono, 21 páginas para o jornal. Mas a censura militar andou cortando umas coisinhas poucas e aqui no Brasil o DIP Departamento de Imprensa e Propaganda (do nosso regime – Ditadura Vargas) não aprovou a reportagem que virou lixo.   

         Como sabemos pela história, no final de contas, os combates foram favoráveis ao Brasil, à FEB Força Expedicionaria Brasileira.     Crônica de maio/1983.

 

         Próximo capítulo – 07/10 

CAP. 05/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA - cronista e Jornalista

CAP 05/10                        leitura novembro de 2020

         Página 58 – O índio jivaro da América do Sul.   Um Mister Matter numa viagem de exploração na A. do Sul sabia que os jivaros quando abatiam um inimigo, tinham uma técnica de reduzir o crânio do abatido.

         O cientista queria ver um caso em execução...   O índio jivaro falou que veio a calhar porque ele tinha um inimigo em vista.   O cientista ponderou:   - Não, não!   Um homem, não.  Faça isso com a cabeça de um macaco.   E o índio: - Por quê um macaco?  Ele não me fez nenhum mal!

         59 – O chamado Brasil brasileiro.    Cita frases de muitos pensadores brasileiros e tasca uma dissonante de Oswald de Andrade do “Manifesto Atropofágico” de 1928.   “Tupi or not tupi that is the question”.  

         63 – Envelhecer.    “A infância não volta, mas não vai – fica recolhida como se diz de certas doenças”.    ... um ataque de infância...   agir como menino bobo.

         “Será que só eu sou assim, ou os outros disfarçam melhor?”

         65 – “Passarinho não se Empresta”.    Ao viajar, o cronista escolheu a dedo um amigo casado para deixar os dois passarinhos de gaiola.   Um deles, um bicudo (azulão).   Na volta da viagem, o amigo enrolando pra marcar o dia da devolução dos passarinhos e o cronista ficou preocupado de medo que tivesse acontecido algo com eles.    Mas era apego da família que cuidou deles e que tem criança em casa.   Discussão do casal na frente do cronista.  Ela pro marido:   É? O Juca lhe deu a palavra? Então está bem.  Você pegue o Juca, ponha dentro de uma gaiola e pendure na sua varanda.  Ele faz menos falta nesta casa do que o passarinho”.    Crônica de 12/1967

         69 – O autor é filho do Coronel Braga de Cachoeiro do Itapemirim.

         77 -    “A Rainha Nefertite”     Falando das pirâmides do Egito com quase cinco mil anos, que ele visitou.    Beleza, tamanho, majestade.   Ele cita um trecho de alguém comentando aqueles monumentos da humanidade colocando aspas mas não cita nome do autor da frase:   “Ali, perante os monumentos eternos, pasmaram Alexandre, o Grande, Cesar e Napoleão; e tudo o que fizeram foi erguer com seus passos, por instantes, um pouco de poeira do deserto”.

         A visita dele às pirâmides e o encanto especial pela obra que representa a Rainha Nefertite que tem sido consagrada através dos milênios como a mulher que foi a mais bela de todos os tempos.    Ele descreve a figura dela até colocando alguns reparos, mas concorda com a beleza ímpar.    Disse que a principal representação original dela se encontra num museu de Berlim, Alemanha.    Crônica de abril de 1979

         80 – Frases.   Independência ou Morte.   Cita como um desmancha prazer, a frase de Patrick Henry na Câmara de Virginia USA em 1775.  “Give me liberty or give me death”.

         Outro desencanto.    Atribuem a Guimarães Rosa:  “Viver é muito perigoso”.   Mas... um escritor mineiro teria garantido que viu essa frase numa obra do alemão Goethe.

         81 – Procura-se fugitivo em Ipanema.    Passarinho de estimação do cronista que escapou na casa dele na Praia de Ipanema.     A comida predileta do tal era semente de cânhamo, o da maconha.   E dá o recado:  ...”a pessoa que encontrar fará obra caridosa devolvendo-o ao seu dono, que é homem já de certa idade, com a vida esburacada de tristezas e desilusões, não possuindo gato, nem mulher, nem cachorro por falta de espaço no lar”.       Maio/1954

                                    Continua no capítulo 06/10 

CAP. 04/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA - cronista

CAP 04/10

         Página 41 – “O holandês que cortava pepinos”

         O cronista morou uns tempos no Marrocos.   Em Tanger, frequentava às vezes o Bar Consulado, perto de alguns consulados.   Então alguns funcionários de consulado, se estivesse no bar poderia dizer no telefone que estava no Consulado.  Só que não...sqn.

         Fala do holandês que era albanês com passaporte irlandês, tudo menos holandês.    Vivia do comércio e outras variações baseado em Tanger, também no Marrocos.    Pilotava barcos de pequeno porte.    Descreve a mulher do holandês, que dirigia seus negócios em Tanger.

         ...”tinha uma pequena mulher de cabelos brancos azulados, sempre de calças compridas, sorridente, de olhos azuis, com uns restos de beleza”.

         Um dia havia um show na vizinha costa espanhola e o holandês montou uma pequena excursão com os amigos para lá e o contista foi junto.  Na volta, a polícia marítima parou o barco e viu que o piloto não tinha credencial para navegar por lá com passageiros.   Quase deu cana.   

         45 – O colégio da Tia Gracinha (irmã do avô do cronista em Cachoeiro do Itapemirim-ES).    A escola era um internato de moças.   Ali estudavam moças filhas de fazendeiros e famílias de remediadas para cima.    “Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia, pois o tempo era de pouca máquina e nenhuma pressa”.  (década de 20 do século passado)

         “Recebiam uma instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram as prendas domésticas.   Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...”

         “A carreira de toda moça era casar...”

         Nesta crônica ele cita o Córrego Amarelo que é objeto de outra crônica dele, muito linda por sinal.   Nesta fala do córrego limpo e bonito da sua infância que depois virou esgoto da cidade para o desgosto do cronista.    O córrego é afluente do Rio Itapemirim.

         O colégio ficava à margem do Córrego Amarelo.      Crônica de abril de 1979.

         47 – “O macuco tem ovos azuis”.

         “Ah. Eu sou do tempo em que todos os telefones eram pretos e todas as geladeiras eram brancas”.     No decorrer da crônica ele vai falando das mudanças do cotidiano ao longo do tempo e através dos lugares, ele sendo capixaba vivendo no RJ após passar um tempo trabalhando em Belo Horizonte.    Os telefones ganharam cor e geladeiras também.    Nesse tempo ele morava em Niteroi na casa de parentes, sendo então um jovem solitário e tinha descoberto que o macuco tem o nome científico de Tinamus solitarius e ligou isso à sua solidão da época.   E ele conheceu ninhos da ave macuco e sabia que os ovos destes são azuis e ele arremata o conto.  Os telefones não são mais pretos, as geladeiras não são mais só brancas, mas os ovos de macuco continuam sempre azuis.       

         47 - Restaurante tipo americano, automático no RJ.   A pessoa colocava uma ficha e saia por uma janelinha um prato feito.     Nesse tempo lia-se a revista Eu Sei Tudo, do francês, no título original, Je Sais Tout”.

         48 – Cita o militar graduado da Guarda Nacional, brasileiro, morando em Paris na Primeira Guerra Mundial.   Galã, tinha um punhado de estratégias de conquista, incluindo cartões de apresentação só para esse fim, que distribuía a dedo no metrô e alguns espaços públicos.    Faturou todas, pelo que relataria em livro.   “Quatrocentas e tantas...”.   O cronista cita o livro do tal Medeiros e Albuquerque.    O título do livro:  Quando eu era Vivo, editado pela Editora Record do RJ em 1982.

         Em outra crônica fala de Niteroi de outros tempos.  Era Nictheroy, mas em compensação a praia era limpinha!   Anos 1929-1930.

         Morava então na casa de uma parente que era professora de escola pública em Niteroi que então pertencia ao Distrito Federal.   A professora ficava com muita raiva porque era obrigada a assinar (com desconto automático na folha de pagamento do salário) o Jornal do Brasil que era então o órgão oficial do Distrito Federal.

         50 – O português correto.    Um dia o amigo boêmio deu uma dica a ele.   “Olhe, Rubem, faça como eu, não tope parada com a gramática:  dê uma voltinha e diga a mesma coisa de outro jeito”.

         51 – “O espanhol que morreu”.     E o tal, segundo a crônica da mulherada da zona do Alto da Lapa, era um esbanjador querido no local.   Um dia morreu e o pessoal sentia falta dele no lugar.   Um dia aparecem três amigos lá e uma das mulheres insistia que um deles era o “morto”, o falado espanhol.    Falou tanto disso que deixou o rapaz parecido com o espanhol falecido desconcertado.  Se sentiu um pouco como um morto que retornou não sei de onde para não sei o quê.        Janeiro de 1948.

         55 – “Lembrança de Tenerá”.      Tenerá era um velho solitário que sempre tinha seus cães de estimação e morava temporariamente num porão perto da casa da infância do cronista em Cachoeiro.   Era bem popular na cidade e era papudo.   Dizia sempre – quando cheguei aqui não tinha isto e agora tem, não tinha aquilo e agora tem, como se fosse ele que trouxe todo aquele progresso ao lugar.    E adestrava cães da vizinhança fazendo uns bicos.   

         Às vezes sumia, passava uns tempos não sei onde e de repente voltava pra Cachoeiro.     Nesse tempo o cronista bem jovem trabalhou uns tempos numa farmácia de manipulação (comuns na época – anos 20/30) e lá via o farmacêutico misturar as drogas para preparar remédios.

         O cronista batia papo com o Tenerá.     Um dia o Tenerá aprontou alguma malandragem e foi preso.   Pena leve, o delegado mandava darem a ele uma enxada e ele tinha que capinar a frente da delegacia, sol alto.   Ele reclamando em voz alta para quem passasse ouvisse e para que o delegado também ouvisse:   -Eu já estive preso em cadeia melhor que esta.   Muito melhor do que esta porcaria!”         Crônica de setembro de 1969.

 

         Continua no capítulo 5/10 

domingo, 22 de novembro de 2020

CAP. 03/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: Rubem Braga (leitura novembro 2020)

 E ele falando de outro amigo, o mineiro Otavio Xavier Ferreira.  O que me colocou no jornalismo no Diário da Tarde de BH.    “Depois de me colocar cá dentro da profissão, ele, espertamente saltou fora – e naquele tempo era dono de uma lapidação e de duas joalherias”.

         Em BH, jovem, prestou o serviço militar.   Lá adiante, morando no RJ chegou a ser representante do amigo joalheiro e leu um tanto sobre pedras para poder entender o básico do assunto.    “Nunca paguei imposto”.

         Ele era amigo do Armando Nogueira que foi diretor da Rede Globo.

         25 – “A estrela que nós amamos”.     Ele era chegado ao mulherio, sempre só como aventura.   E fala dos astros e estrelas de cinema de sua época.   Domínio dos filmes americanos.    Depois vieram as novelas.  Moças bonitas e tal.  Cita Dina Sfat.   E sobre as musas das novelas:  “Muito bonita, muito interessante, mas, toda noite!”   “Não! A deusa não pode ser quotidiana...”

         28 – Falou de rodovias com árvores dos lados.  Bonitas mas se a pessoa perde o controle do volante, pode morrer no choque com uma árvore.      Por isso o desenhista e multi artista Carybé, argentino radicado no RJ disse em tom de brincadeira que iria sugerir para o DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, para plantarem bananeiras ao lado das rodovias.  Segura o carro desgovernado sem matar o motorista e dá cacho.   (dá bananas ao motorista).

         29 – “Clamo, e reclamo e fico”.     Na cidade do RJ andou por um bairro arborizado e limpo, sentindo cheiro de natureza.   Depois o taxi passou pela região mais densa de povoação e aquela sujeira, poluição e mau cheiro.    Suja e poluída inclusive a água da lagoa e do mar por ali.

         Ele resume comparando a cidade do RJ com uma moça bonita.  “Esta mulher não precisa de joias nem de sedas; precisa, antes de tudo, de ser limpa”.

         30 -  Na ocasião o autor morando na Praça General Osório no RJ.   Na época dele, tinha feira hippie aos domingos na praça.

         Gente pela rua e praia andando com cães.  Muitos cães.  Imagina que andam com cães de medo de serem assaltados.

         ... “tudo apinhado de gente no RJ.... e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d´água”.   O que fazer?    “Confesso-vos que por mim eu clamo e reclamo e choro, e não saio daqui”.       -   dezembro de 1983

         33 – “O Mistério do Telegrama”.     A amante ao homem de negócios, envia um telegrama cifrado, só com as palavras-chave que coisas e lugares e situações em que ambos estavam a dois.

         O telegrama foi parar na Polícia Federal da época e ela foi chamada para depor.     Ela foi explicitando cada termo, cada situação e tudo se esclareceu e foram felizes para sempre.    Mas ficou comprovada a truculência da polícia política de então.

         36 – O baiano que falava problema, comendo o erre.  Outro justificou:  “Os baianos tem razão:  quando um problema deixa de ser problema para ser poblema, ele fica mais fácil de falar e de resolver”.

......................... continua no capítulo 04/10

CAP. 02/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: Rubem Braga - leitura em novembro de 2020

 CAP 02/10

         Página 16 – Getúlio Vargas fumava charuto.    O cronista falando do tabaco:    “A propaganda do tabaco é múltipla e aliciante.  Na TV ele é um festival de saúde e beleza juvenil, com esportes finos do ar e do mar”.

         O cronista foi fumante de até dois maços e meio por dia.   Aos 19 de idade, começou a trabalhar no Diário da Tarde em BH.  Fumar, beber e jogar campista ou Pavuna.     Se formou em Direito.  Duas vezes pediu dinheiro pra família para registrar o diploma para ir atuar na sua cidade natal, Cachoeiro do Itapemirim-ES, mas nada de colocar isso em prática.   Gastou o dinheiro das ajudas no jogo.    E lá se vão cinquenta anos trabalhando em jornal.

         No cinema, todo mocinho fumava, mas não acendia o palito de fósforo na caixa.   Acendia na sola do sapato.   Coisa de moda americana.

         17 – Ele, fumante, teve binga (isqueiro).   Lá pelo ano de 1950, entrevistou Jean Paul Sartre, este que também fumava.

         17 -  “Em 1937, quando estava escrevendo Vidas Secas, em uma pensão da Rua Correia Dutra, no Catete, Graciliano Ramos fumava Selma, um cigarro com ponta de cortiça”.     O escritor tomava em jejum uma dose de cachaça que guardava no seu quarto.   Tempo de escrever com caneta tinteiro.    O cronista diz que Graciliano tinha uma letra exemplar, bonita.

         “Haviam lhe raspado a cabeça no presídio da Ilha Grande (ele era comunista), e seus cabelos ainda estavam curtos”.

         18 – Foi o cronista operado do pulmão após aparecer “um ponto” no exame do pulmão dele.   Operado pelo Dr. Fulano (ele cita) e assistida a operação por um médico amigo dele, Dr. Marcelo Garcia.    “...assistiu a operação – e deixou de fumar”.     – “Quando o Jessé abriu meu pulmão, levei um choque: eu guardava aquela imagem do pulmão, um órgão rosado...   o seu era todo escuro, e com uns picumãs pendurados”.

         (picumãs são teias de aranha de casa de sítio onde elas ficam penduradas e a fumaça do fogão de lenha com os anos tornam as teias pretas de fuligem)

         Nesse tempo o Braga fumava dois maços e meio por dia. Depois parou.   Chegava fumar entre um sono e outro.

         Feia tosse, mas que ele não associava ao cigarro.  Tosse que o impedia de ir a teatro ou cinema.    Um dia largou de fumar e a tosse sumiu.

Voltou a sentir o cheiro das coisas e também o sabor.

         Até tentou aconselhar alguns amigos, que acabavam caçoando dele.  Desistiu de tentar convence-los.   “Ah, quem quiser que se fume”.

         21 – “Uma Água-Marinha para Bárbara”

         Ele em jornal sempre ganhando modestamente.  Mais complicado na ditadura Vargas, quando ele foi colocado no regime de censura prévia dos seus artigos para o jornal.   Controlado pelo DIP Departamento de Imprensa e Propaganda  (propaganda do regime em si).

         Ficou com raiva da censura e parou um tempo de escrever para jornal e chegou a fazer uns bicos numa agência de publicidade de um amigo.

         E ele falando de outro amigo, o mineiro Otavio Xavier Ferreira.  O que me colocou no jornalismo no Diário da Tarde de BH.    “Depois de me colocar cá dentro da profissão, ele, espertamente saltou fora – e naquele tempo era dono de uma lapidação e de duas joalherias”.

 

          Continua no capítulo 03/10